Há boa música portuguesa, com certeza

Não, a música portuguesa não se resume ao pimba e ao fado. Há muito para lá desses estereótipos. Há dezenas de referências musicais lusas, dos mais variados géneros, que inspiraram gerações

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O que é nacional é bom. Ou, pelo menos, também pode ser. É a partir desse mote que escrevo estas linhas sobre a qualidade da música portuguesa, mas também sobre a sua variedade, abrangência e potencial, até como forma de celebração.

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O que é nacional é bom. Ou, pelo menos, também pode ser. É a partir desse mote que escrevo estas linhas sobre a qualidade da música portuguesa, mas também sobre a sua variedade, abrangência e potencial, até como forma de celebração.

Não, a música portuguesa não se resume ao pimba e ao fado. Há muito para lá desses estereótipos. Há dezenas de referências musicais lusas, dos mais variados géneros, que inspiraram gerações. Hoje, esses nomes consagrados continuam a ser ouvidos com saudade, perpetuam-se no tempo e servem de exemplo para as novas fornadas de músicos.

Em busca do sonho, são cada vez mais os músicos ou bandas que tentam emergir da sua garagem para mostrar a sua assinatura e nervo, lutando contra dificuldades financeiras, desencontros editoriais e concorrência. Para esses, o caminho a percorrer é a qualidade, a diferenciação e a persistência. Infelizmente, com a indústria musical e a cultura na mó de baixo, nem todos vão ter a sorte de dar asas ao seu potencial.

É pena que alguns profetas do negativismo e aqueles que só conseguem ouvir música estrangeira considerem a música nacional quase um ultraje. Mas que se desenganem: há óptimos artistas portugueses, merecendo ser conhecidos e admirados. Naturalmente que não atingem a dimensão de músicos ou bandas icónicas de renome mundial, mas são também capazes de exultar plateias em concertos memoráveis.

Celebrar a vida e a variedade na música

Há muitas formas para celebrar a vida, e a música é uma delas. Os Silence 4 sabem-no, e é precisamente para celebrar a vitória sobre o cancro da sua vocalista, Sofia Lisboa, que regressam aos palcos, 13 anos depois. E não vão celebrar sozinhos, já que têm à sua espera uma legião de fãs, ansiosos por os reverem em acção.

Continuando na senda da música portuguesa, é assinalável a resistência e a longevidade de muitos artistas. Neste ano, três bandas incontornáveis estão de parabéns por completarem 20 anos de existência: os Blasted Mechanism, grupo único e genuíno, ligado à natureza, preocupado com a (des)harmonia da sociedade, portadores de uma energia contagiante; os Blind Zero, donos de um rock ousado e de uma garra incomum; e os The Gift, que nos têm dado um pop alternativo, cheio de cor e jovialidade.

Há músicos e bandas portuguesas para todos os gostos e feitios: do interventivo Pedro Abrunhosa, aos refrões lapidares dos Xutos e Pontapés. Da irreverência dos GNR, à voz inconfundível de Rui Veloso. Das influências tradicionais e eruditas dos Madredeus à música sedutora da Aurea. Do multifacetado The Legendary Tiger Man aos prodígios da música pesada como os More Than A Thousand ou os Moonspell. Dos revivalistas Deolinda aos mais progressistas Amor Electro. Do rock dos Fonzie ao reggae de Richie Campbell, passando pelo r&b dos Expensive Soul. Sem esquecer os intérpretes do hip-hop, como Sam The Kid, Dealema, Mind da Gap, Boss AC ou Sir Scratch. Termino em tom de celebração, modificando ligeiramente o refrão da música da Amália Rodrigues: Há boa música portuguesa, com certeza! Há, com certeza, boa música portuguesa!