Manifesto pela reestruturação da dívida é “inoportuno”, dizem Paulo Rangel e Diogo Feio

Bloquista Marisa Matias defende que “não se consegue pagar esta dívida” e só o Governo não vê esta evidência que até já é aceite por uma parte da direita.

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Rui Gaudêncio

“Estando Portugal a terminar o programa de ajustamento, havendo sinais positivos da economia, a descida consistente das taxas de juro e declarações dos representantes dos credores bastante animadoras”, haver quem coloque a questão do perdão da dívida novamente no centro da discussão “é extemporâneo, inoportuno e pode até ser contraproducente”, avisa o eurodeputado social-democrata.

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“Estando Portugal a terminar o programa de ajustamento, havendo sinais positivos da economia, a descida consistente das taxas de juro e declarações dos representantes dos credores bastante animadoras”, haver quem coloque a questão do perdão da dívida novamente no centro da discussão “é extemporâneo, inoportuno e pode até ser contraproducente”, avisa o eurodeputado social-democrata.

Por isso, Paulo Rangel prefere “não valorizar demasiado a iniciativa”, apesar de juntar nomes de peso da sociedade portuguesa, da esquerda à direita e onde se conta, por exemplo, a ex-líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, de quem Rangel sempre foi próximo.

Essa desvalorização é partilhada pelo eurodeputado centrista Diogo Feio, que diz que, se houvesse uma declaração no sentido inverso, o do pagamento da dívida, “também teria personalidades muito amplas”.

Questionado sobre se a dívida portuguesa é pagável e sustentável, Diogo Feio afirma ser dos que defendem que “uma dívida é para pagar”, sobretudo porque “não pagar cria uma situação muito mais complicada para o prestígio do país e para a vida dos portugueses”.

E aponta o exemplo da Grécia: “Portugal vai sair em Maio; e a Grécia, quando? Não se sabe; já vai no segundo programa, com mais austeridade.”

O eurodeputado centrista diz-se “nos antípodas daquela declaração” e embora recuse a “reestruturação”, admite uma “gestão da dívida”. Portugal deve “aproveitar o facto de estar com um modelo económico diferente, com mais exportações e empresas a serem criadas e uma perspectiva de crescimento que começa a ser positiva”, acrescenta.

Paulo Rangel considera que o perdão da dívida implicaria “a desconfiança total dos mercados, afectava a economia nacional porque 25 a 30% da dívida está em mãos nacionais e implicava um segundo resgate como a Grécia”.

Por isso, cita o Presidente Cavaco Silva para dizer que esta seria uma “atitude masoquista”. No entanto, o eurodeputado admite, no futuro, discutir a mutualização da dívida, mas no contexto de uma reorganização das soluções monetárias da União.

“Dívida dos países periféricos é insustentável”, avisa Marisa Matias
Já a eurodeputada bloquista Marisa Matias considera a renegociação da dívida como “uma condição fundamental para se tentar combater a crise da zona euro”. Porque “a dívida dos países periféricos é insustentável e não há essa distinção entre os honradinhos que querem pagar a dívida e os outros que não querem pagar”.

“Não conseguiremos pagar esta dívida tal como está a ser cobrada. Se se quer pagar, tem que se renegociar”, avisa a parlamentar, acrescentando que “começa a criar-se um consenso na sociedade portuguesa” em torna desta ideia. “Só a maioria do Governo é surda à evidência, que é tão vasta que começa a entrar nos quadrantes da direita.”

Portugal deve pagar, mas “com condições justas”, renegociando prazos, moldes de pagamento e montante, porque os juros actuais “são especulativos” e mesmo que baixem “nunca vão ao encontro do que está a ser o crescimento” da economia portuguesa. “Não houve ainda uma única resposta solidária em relação à crise europeia. Está a União disposta ou não a mutualizar a parte da dívida que está inscrita nos tratados, de 60%? Devia estar e depois renegociar o excedente.”

A solução, adianta Marisa Matias, não está só na reestruturação da dívida, mas também na revogação do tratado orçamental, que é “uma promessa de austeridade permanente”, na autorização para que o BCE possa emprestar “dinheiro directamente aos Estados sem juros especulativos”.

 

A jornalista Maria Lopes viajou a convite do Parlamento Europeu.