Cavaco acredita que um consenso que incluísse a próxima legislatura poderia baixar taxas de juro
Presidente da República insiste num compromisso político entre as forças comprometidas com o programa de ajustamento.
O prefácio do Presidente da República com o sugestivo nome “O período pós-troika”, incluído nos Roteiros VIII que reúnem as intervenções feitas ao longo do oitavo ano do seu mandato, colocou o país a pensar no seu futuro e a fazer muitas perguntas. Esta segunda-feira, à margem da visita à fábrica da Nestlé em Avanca, Estarreja, Cavaco Silva fez questão de explicar as razões de ter estudado, com rigor, o assunto para assim ter legitimidade de colocar por escrito, e assinar por baixo, o que pode suceder se Portugal adoptar um programa cautelar e o que pode acontecer se optar por uma “saída à irlandesa”.
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O prefácio do Presidente da República com o sugestivo nome “O período pós-troika”, incluído nos Roteiros VIII que reúnem as intervenções feitas ao longo do oitavo ano do seu mandato, colocou o país a pensar no seu futuro e a fazer muitas perguntas. Esta segunda-feira, à margem da visita à fábrica da Nestlé em Avanca, Estarreja, Cavaco Silva fez questão de explicar as razões de ter estudado, com rigor, o assunto para assim ter legitimidade de colocar por escrito, e assinar por baixo, o que pode suceder se Portugal adoptar um programa cautelar e o que pode acontecer se optar por uma “saída à irlandesa”.
O chefe de Estado insiste num entendimento entre os partidos do arco da governação. Apesar do PSD não ter sido surpreendido com o que leu no prefácio, de o PS ter pedido prudência e coerência nesta matéria, de o PCP avisar que a austeridade só terminará com a determinação do povo português, Cavaco Silva não desiste.
“A evolução tem sido positiva, mas estou convencido de que se existisse um acordo de médio prazo, que incluísse a próxima legislatura, as taxas de juro podiam ainda descer mais do que têm descido nos últimos dias”, revelou precisamente no dia em que as taxas de juro da dívida a 10 anos desceram, pela primeira vez, abaixo dos 4,5 por cento.
Para Cavaco Silva, é importante que portugueses percebam o que podem perder em termos de emprego, de salários, de prestações sociais, de distribuição de rendimentos, se não houver um compromisso político entre as forças comprometidas com o programa de ajustamento. Por isso, o apelo ao consenso político.
“É estranhíssimo que Portugal seja o país na Europa onde é mais difícil o diálogo e o entendimento entre as forças políticas. Devia ser precisamente o país, pelas circunstâncias que atravessa, onde seria mais fácil o entendimento. Se foi possível o entendimento aquando da assinatura do acordo de assistência financeira, agora que as exigências vão ser menores – assim todos esperamos – seria mais fácil o diálogo entre os partidos políticos”, sustentou, avisando que isso “não tem nada a ver com o não respeito pelo princípio de alternância”.
O Presidente da República não comentou o alarido à volta do seu prefácio em que olha para o futuro do país e onde prevê mais austeridade. “A questão do pós-troika é decisiva para o futuro do país. E, por isso, decidi analisar de forma rigorosa, aprofundada, e por escrito, esta fase da vida portuguesa para explicá-la aos portugueses”. “Tive a preocupação de ser muito rigoroso e de sublinhar a importância de um compromisso político de médio prazo para que Portugal consiga ter melhores resultados no futuro”, acrescentou.
"Estamos a ser observados"
Neste momento, na sua opinião, é necessário acompanhar a evolução da economia internacional, contactar com os parceiros europeus, ver a evolução dos mercados, para que o Governo decida em conformidade quando for chamado para o fazer. E deixou um aviso e um conselho: “Estamos a ser observados do exterior. Somos um país que tem uma dívida externa ainda muito elevada, e é bom que os portugueses conheçam os compromissos que Portugal, ao longo dos anos, assumiu com as instituições europeias. Vale a pena ler os regulamentos e as leis europeias para saber com que desafios somos confrontados no futuro”.
O Presidente da República esteve esta segunda-feira na fábrica da Nestlé em Avanca, Estarreja, no encerramento das comemorações dos 90 anos da empresa em Portugal. Numa das entradas, tinha à espera cerca de 30 manifestantes da União dos Sindicatos de Aveiro que pediam mais justiça social e menos austeridade com bandeiras vermelhas e palavras de ordem. A viatura do chefe de Estado contornou a manifestação.
A aposta na inovação e o facto da Nestlé ter assumido o compromisso de criar mais 500 empregos para jovens portugueses com menos de 30 anos, até 2016, foram alguns dos aspectos realçados por Cavaco Silva. A Nestlé tem, neste momento, quatro fábricas no nosso país, emprega cerca de 1.850 trabalhadores, assumindo-se como uma especialista europeia no fabrico de produtos na área dos cereais. No ano passado, exportou metade das 37 mil toneladas que produziu para 40 países de três continentes.