Mário Soares recebe "Prémio Personalidade do Ano" da imprensa estrangeira
Correspondentes internacionais quiseram premiar o ex-presidente porque "não se tem calado, ante a dificuldade dos portugueses".
A escolha encerra um raro significado político: "Os correspondente quiseram premiar Mário Soares por ser uma das vozes mais activas no seu país, com uma grande repercussão no estrangeiro. Ante a dificuldade dos portugueses, Soares não se tem calado", sublinhou a jornalista Belén Rodrigo, Presidente da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal (AIEP).
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A escolha encerra um raro significado político: "Os correspondente quiseram premiar Mário Soares por ser uma das vozes mais activas no seu país, com uma grande repercussão no estrangeiro. Ante a dificuldade dos portugueses, Soares não se tem calado", sublinhou a jornalista Belén Rodrigo, Presidente da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal (AIEP).
Se essa foi a qualidade em destaque para os jornalistas estrangeiros, talvez explique a ausência, na cerimónia, de representantes do Governo ou dos partidos da maioria. A Sala dos Espelhos encheu-se de amigos de Soares - do ex-Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, a alguns embaixadores estrangeiros.
Antes dos discursos, ensaiam-se encontros. Só ex-líderes do PS estão quatro, na sala. Almeida Santos, Ferro Rodrigues, José Sócrates e, é claro, o próprio Soares. Vasco Lourenço está na primeira fila e ouve os elogios de Soares à generosidade dos militares de Abril, e o remoque - como que a sublinhar as palavras de Belem Rodrigo -, à "comemoração tão ridícula, tão ridícula" que o Governo prepara dos 40 anos da Revolução.
Os discursos que os jornalistas estrangeiros prepararam foram, no entanto, pouco memorialísticos. Ramón Font, o catalão que presidiu à AIEP durante três mandatos, elogiou a "escolha corajosa e lúcida" dos seus ex-colegas e classificou Soares como "a figura mais marcante do Portugal contemporâneo" e "uma referência incontornável do presente". Na opinião de Font, "se há alguém surpreendido com esta eleição", os jornalistas estrangeiros podem atestar que "lá fora, todos sabemos que Mário Soares é a imagem da liberdade."
O mesmo sublinhou o chileno Mario Dujisin, ex-responsável de imprensa de Salvador Allende e autor de um título que, durante o PREC, terá desagradado a Soares, publicado num jornal italiano: "Socialista, ma non troppo..."
Hoje, Soares fala de improviso, comovido, e visivelmente cansado. Mas está cheio de vontade de falar do presente, mais do que lembrar o passado (para o qual até trazia uma cábula com o nome de jornalistas com que se cruzou, durante a ditadura, mas que acabou por prescindir). E é já no final do seu discurso que apela a uma defesa da liberdade "contra a ditadura que está a fazer-se, mesmo que não nos apercebamos. Ainda..."
Foi das mãos de António Costa que recebeu o prémio. "Um privilégio", agradeceu o autarca de Lisboa, a quem Soares vaticinou um longo futuro. "Ainda vai estar cá por muitos anos", disse o homenageado, ante as gargalhadas na sala.
Este prémio - que tem o nome de Martha de La Cal, a jornalista norte-americana que cobriu boa parte da nossa história recente para a revista Time - é atribuído, anualmente, após uma eleição dos jornalistas estrangeiros acreditados e inscritos na Associação.
Martha, que faleceu há 3 anos, era uma velha amiga de Soares, e ainda na última campanha presidencial em que ambos se cruzaram, a de 2006, pôde questionar Soares em plena conferência de imprensa sobre aquele tão admirado regresso à política.
Esse regresso continua, tantos anos depois.