Esquerda e direita reclamam vitória nas presidenciais de El Salvador

Supremo Tribunal Eleitoral proibiu os candidatos de se darem como vencedores e ordenou a recontagem, manual, dos votos.

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A recontagem dos votos só estará concluída quarta-feira Jose Cabezas/Reuters

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No domingo, quando estavam contados quase 100% dos votos, Salvador Sánchez Cerén, o candidato da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional (FMLN, esquerda) surgia ligeiramente à frente do adversário da Aliança Republicana Nacionalista (Arena, direita), Norman Quijano.

Um ponto percentual separava os dois candidatos (50,11% contra os 49,89%), o que se traduzia em 6448 votos a mais para Cerén. Números que mostram que, 20 anos depois do fim da guerra civil, os salvadorenhos continuam divididos entre a esquerda e a direita.

Apoiando-se nestes números, Ceren, antigo guerrilheiro e actual vice-presidente, declarou a vitória. “Ganhámos a primeira volta e agora triunfámos na segunda. El Salvador deve respeitar a vontade popular”, disse o candidato aos apoiantes reunidos domingo à noite na sua sede de candidatura, em San Salvador.

“Não há tribunal que nos possa roubar esta vitória”, disse Norman Quijano, que falou também perante os apoiantes na noite eleitoral e que foi quem mais radicalizou o discurso. “Não permitiremos fraudes de estilo chavista. Isto não é a Venezuela, é El Salvador”.

Quijano acusou o Supremo Tribunal Eleitoral de estar “vendido à ditadura chavista” e declarou que “se for preciso”, os apoiantes da Arena estão “dispostos a defender esta vitória com a vida”.

O chavismo foi uma palavra recorrente durante toda a campanha eleitoral. No comício de encerramento da campanha, Quijano, um antigo dentista de 67 anos, conhecido por ser profundamente anti-comunista, comparou o programa de governo da Frente Farabundo Marti ao chavismo venezuelano, o sistema socialista fundado por Hugo Chávez e que se encontra em plena crise social, e económica. “A eleição de 9 de Março — disse Quijano — é entre a liberdade e a ditadura”. Quijano apresentou-se com um programa que promete apoios sociais, luta contra a criminalidade e sobretudo progressos económicos.

O programa da Frente apoia-se nos princípios pelos quais lutou durante a guerra civil: reduzir a pobreza, erradicar a desigualdade e criar oportunidades. Ceren, que tem 69 anos, prometeu reduzir em mais 6% o número de pobres que, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), ainda são 34,5% dos menos de 6,2 milhões de habitantes. Quando a Frente Farabundo Marti — a antiga guerrilha marxista — venceu as presidenciais de 2009, derrotando a direita pela primeira vez em 20 anos e redireccionando El Salvador para a esquerda, a taxa de pobreza estava nos 40%.

O desenvolvimento económico do país, porém, foi muito limitado nos cinco anos de mandato do Presidente Carlos Mauricio Funes Cartagena, que teve êxitos noutros capítulos da governação. Iniciou um programa destinado a evitar o abandono escolar e a carência alimentar entre as crianças (começou a distribuição de leite nas escolas, por exemplo)

Porém, ao contrário do que mostravam as sondagens para esta segunda volta — davam entre dez e 18% de vantagem à esquerda —, a população está partida ao meio.

Tão partida que ambos os candidatos dizem ter vencido as eleições. O presidente do Supremo Tribunal Eleitoral, Eugenio Chicas, exigiu que os candidatos não se pronunciassem antes de o resultado da recontagem ser anunciado. Teve pouco sucesso. E a tensão está alta que a disputa pode não acabar na quarta-feira.