China: o futuro já chegou
É consequência directa do desenvolvimento. Há poluição porque há mobilidade da população. Há mobilidade da população porque há produção industrial. As cidades chinesas são o palco de arranha-céus construídos recentemente
Enfrentámos uma semana inteira com níveis de poluição absurdamente altos. Nas ruas as pessoas protegem-se com máscaras. Para um chinês, usar protecção contra a poluição é aumentar a esperança média de vida. Depois do crescimento económico elevar a esperança média de vida, começa agora a decrescer como consequência directa da poluição. Segundo o “British Medical Journal”, viver numa zona rural pode elevar a esperança média de vida até 16 anos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Enfrentámos uma semana inteira com níveis de poluição absurdamente altos. Nas ruas as pessoas protegem-se com máscaras. Para um chinês, usar protecção contra a poluição é aumentar a esperança média de vida. Depois do crescimento económico elevar a esperança média de vida, começa agora a decrescer como consequência directa da poluição. Segundo o “British Medical Journal”, viver numa zona rural pode elevar a esperança média de vida até 16 anos.
É consequência directa do desenvolvimento. Há poluição porque há mobilidade da população. Há mobilidade da população porque há produção industrial. As cidades chinesas são o palco de arranha-céus construídos recentemente. Vê-se o seu início mas não se vê o seu fim. Esticam-se a em direcção ao céu, mas perdem-se na neblina que paira sobre a cidade.
O ar está parado, pesado. Não cai chuva, não sopra o vento, há apenas uma neblina imóvel e lentamente mortífera. Não há para onde fugir. Esta crise, como foi denominada, desta vez atacou forte. Não são apenas as metrópoles industriais com este “smog” abafador, é todo o nordeste chinês. São já sete dias com os níveis de contaminação do ar dez vezes acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Nada pára o desenvolvimento industrial chinês, nem nada impede os novos milionários chineses de comprar carro. Apenas um em cada quatro habitantes de Pequim tem carro. Ainda assim, o governo local promete resolver o problema até 2017.
Cansado de esperar, um cidadão decidiu processar o governo chinês. Depois de comprar máscaras e um purificador de ar, pediu para ser compensado. Na sua opinião, ele é prejudicado a nível económico e de saúde enquanto as fábricas, responsáveis por parte da poluição, lucram e pagam impostos ao governo. Os cidadãos devem, deste modo, ser compensados. À boa maneira chinesa, é tudo uma questão de números.
Num episódio esquizofrénico o governo chinês considerou que “relembrar a população o preço do desenvolvimento económico chinês” é um dos cinco benefícios da poluição. No entanto a poluição é agora apontada como a principal razão pela qual os chineses optam ou aspiram por emigrar. A China é apontada como a terra do futuro. Aparentemente não para aqueles que, após lucrar com as oportunidades económicas, tomam a oportunidade de emigrar. Super-metrópoles de arranha-céus a rasgar o céu, população desmesurada vivendo em tudo quanto é local habitável, diferenças vertiginosas entre os pobres e os ricos, poluição a níveis tão elevados que obrigam as pessoas a comprar purificadores de ar para tornar as suas casas habitáveis. O futuro já chegou e vive-se na China.