Aqui os livros rimam com conversa e um copo de vinho
Há novo Desassossego em Lisboa. É a sala de estar da Chiado Editora, um bar-livraria aberto a todos na rua de São Bento
A maioria das paredes está coberta de estantes metálicas recheadas de livros, mas sempre próximas de mesas rodeadas de cadeiras, poltronas ou sofás, que convidam a sentar e a conviver como em qualquer outro bar ou café.
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A maioria das paredes está coberta de estantes metálicas recheadas de livros, mas sempre próximas de mesas rodeadas de cadeiras, poltronas ou sofás, que convidam a sentar e a conviver como em qualquer outro bar ou café.
Quem disse que numa livraria não se pode comer ou conversar? Na Desassossego, qualquer pessoa pode escolher um livro das muitas estantes, sentar-se, ler, beber um copo de vinho, petiscar, conversar com os amigos e no final comprá-lo ou arrumá-lo no lugar. Depois do fecho inesperado do cinema King, e consequentemente da Les Enfants Terribles, a Chiado Editora volta a abrir um espaço ao público, desta vez na Rua de São Bento. O nome mudou, mas o conceito mantém-se: livraria-bar-clube literário, com agenda de exposições, apresentações de livros, tertúlias e concertos.
“É uma livraria onde o livro não é uma parte decorativa, mas também não é o núcleo do espaço”, descreve Filipe Costa, director comercial da Chiado Editora. De facto, assim que chegamos percebemos que esta não é uma livraria convencional. Aqui a maioria das paredes está coberta de estantes metálicas recheadas de livros, mas sempre próximas de mesas rodeadas de cadeiras, poltronas ou sofás, que convidam a sentar e a conviver como em qualquer outro bar ou café. Dúvidas houvesse, nesta livraria há uma carta de vinhos e pode-se petiscar uma tosta, tábuas de queijo e fumeiro, um dos sete pratos vegetarianos ou uma salada. O preto e o vermelho dominam o mobiliário, cores mais noctívagas e distantes dos tons claros tradicionais de uma livraria. À entrada, a mota Superlight com bolsa de tachas reluzentes dá o mote irreverente e desassossegado desta nova aventura da jovem empresa portuguesa.
Durante dois anos a livraria da Chiado Editora esteve no King, mas com o fecho do cinema apressaram a decisão de encontrar um espaço maior em Lisboa. Ainda passaram pelo cinema Nimas, mas acabaram na Rua de São Bento, a dois passos do Parlamento e paredes meias com a Palavra de Viajante. Precisamente no mesmo local onde já tinha existido uma livraria e mais recentemente o bar Spock, inspirado na personagem de "Star Trek". Quis o destino que o prédio pombalino se situasse mesmo em frente a uma casa onde Fernando Pessoa morou durante um ano. O nome Desassossego tinha surgido em "brainstorming", “ficou decidido” pela coincidência.
“É uma menção óbvia, natural ao livro de Fernando Pessoa, à sua obra e à nossa identidade enquanto escritores e artistas, mas é também uma palavra semanticamente muito rica e na qual nós identificámos quase tudo o que associamos à forma como pensamos o livro, quem cria, quem escreve e este nosso conceito de bar literário”, explica Filipe Costa. Nesta livraria, onde curiosamente não existe à venda o "Livro do Desassossego" ou outra obra do poeta português, quer-se sobretudo desinquietar as almas e criar um pólo artístico com o “reviver do conceito de tertúlia literária”, encontros de escritores, lançamentos de livros, exposições, concertos acústicos, entre outros. “Queremos acima de tudo que isto seja visto como um espaço que não tem uma programação fechada em termos de calendário nem da natureza das coisas que aqui acontecem.”
O formato labiríntico da loja deu origem a zonas distintas e permite também transformar “a cara do espaço ciclicamente e conforme as coisas que vão acontecendo”. O longo corredor divide-se em três salas: a primeira de contacto inicial com a livraria, onde as “Novidades”, as “Viagens na Ficção” ou a “Poesia” se derramam sobre poltronas e sofás; a segunda, mais próxima do bar, tem a particularidade de incluir um estreito e longo poço do século XVII; a última e de maiores dimensões recebe a maior colecção de livros (neste momento mais de 90% dos livros expostos são do catálogo da Chiado Editora, mas no futuro querem “abrir espaço para ter até 25% de obras de outras editoras”). É também a sala privilegiada para realizar apresentações de livros ou tertúlias, que se podem estender ao corredor. O mezanino, com respectiva estante, mesas e cadeiras, pode-se transformar em palco altaneiro para actuações de bandas. Já no recanto mais baixo vai crescer “uma grande secção de livros manuseados”, mas pode também ser o local de apresentação de livros infantis. O objectivo é que, através dos eventos ou de um simples café, cada visitante seja convidado a chegar aos livros da editora.