Um ponto de interrogação para os 40 anos do 25 de Abril

Vasco Lourenço criticou a forma "envergonhada" como o Estado está a preparar a comemoração da "revolução dos cravos".

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Do programa de comemorações dos 40 anos do 25 de Abril pela A25 constam um cartaz e um logótipo, ambos da autoria de Júlio Pomar e de Henrique Cayatte. Trata-se de uma imagem com fundo vermelho, com um ponto de interrogação branco desenhado ao centro, e as datas, 1974 a verde e 2014 a preto.

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Do programa de comemorações dos 40 anos do 25 de Abril pela A25 constam um cartaz e um logótipo, ambos da autoria de Júlio Pomar e de Henrique Cayatte. Trata-se de uma imagem com fundo vermelho, com um ponto de interrogação branco desenhado ao centro, e as datas, 1974 a verde e 2014 a preto.

Questionado sobre o significado do ponto de interrogação, Júlio Pomar justificou-se com a incerteza dos tempos, sublinhando a “gravidade do momento que estamos a atravessar”. “Daqui para a frente o que é que vai ser?”, questionou. O autor da imagem referiu-se ainda à urgência de discutir a "revolução dos cravos", notando que a média de idades das pessoas presentes era um “sinal muito grave”, sendo por isso fundamental “aproveitar a experiência” dos que fizeram Abril.

A associação anunciou que vai apresentar uma medalha comemorativa, feita em bronze, que assinala “um período significativo da implantação e consolidação da democracia em Portugal” que, para o seu autor, José Aurélio, tem algo de "bucólico e romântico".  Será também cunhada uma moeda de dois euros que entrará em comercialização, da responsabilidade da Casa da Moeda.

A canção Resistir de novo,  de José Jorge Letria e Carlos Alberto Moniz, entoada esta quarta-feira na associação, faz parte de um CD do álbum Canção dos 40 anos de Abril – resistir de novo. A letra da música aborda a actual situação de crise – a incerteza do futuro, a “hipoteca” estrangeira e a emigração – para dizer que é preciso “despertar” e “resistir” de novo. Um apelo a uma nova revolução, a passar pela cabeça dos promotores da iniciativa?

“Não nos passa pela cabeça, está-nos na cabeça”, respondeu Vasco Lourenço. Mas, destacou, trata-se de “uma revolução diferente, feita essencialmente pelo povo português”, que “não pode continuar a aguentar a sela que lhe colocaram em cima, a assistir, inclusivamente, ao facto de quem nos ocupa estar a iniciar uma nova guerra mundial”. E, por isso, o "capitão de Abril" insiste que o povo tem de reagir.

“Não temos cá botas cardadas a ocupar-nos, mas estamos ocupados. Aliás, são os próprios governantes que falam em ocupação. Estamos a dar um grito de revolta e esperemos que os portugueses sejam capazes dessa nova revolução”, especificou.

Vasco Lourenço informou ainda que a A25 propôs à RTP a realização de um espectáculo educativo no dia 25 de Abril, em directo para todo o país, mas, de acordo com o dirigente, não houve acordo entre as duas entidades sobre o evento. A RTP sugeriu que a associação participasse na transmissão do tradicional espectáculo, na Praça do Rossio. “Não aceitámos. Pensámos que os moldes que eles queriam para o espectáculo, com a capa de dar voz à juventude, iam desvirtuar e branquear o 25 de Abril”.

“Deve ter havido ali alguma determinação superior, [a convicção] de que o nosso espectáculo podia ser demasiado subversivo para os tempos que correm”, disse Vasco Lourenço, lamentando a forma como a Assembleia da República está a preparar as comemorações: “É pena que quem tinha o dever de comemorar [a liberdade] de forma aberta tenha tanta vergonha de o fazer”.

O presidente da A25 também anunciou que “quem protagonizou a revolução de há 40 anos” não aprova a ideia de se transferir temporariamente o Posto de Comando da Pontinha, onde se coordenou a operação militar de 1974, para a Assembleia da República. “O posto não se pode confinar a objectos e materiais utilizados nas missões", argumentou, salientando "o próprio edifício tem um significado especial”. Deveria, sim, classificar-se o Posto de Comando como um edifício de interesse nacional, defendeu.

As comemorações programadas pela A25 incluem várias actividades a realizar por todo o país “muito para lá do mês de Abril”, como a evocação das reuniões em que se planeou o golpe militar, os passeios temáticos MFA/Lisboa com alunos de várias escolas acompanhados por "militares de Abril", a tradicional "corrida da liberdade", a inauguração de oito "girândolas" no Largo do Carmo, em Lisboa, assim como outras acções em parceria com entidades da sociedade civil.

Na apresentação aos órgãos de comunicação social do programa da A25 de comemoração dos 40 anos do 25 de Abril, Vasco Lourenço lamentou a quase ausência de jornalistas, excepção feita ao PÚBLICO e a dois correspondentes espanhóis. “Parece que o 25 de Abril é mais importante para o estrangeiro”. “Se estivesse aqui o Ronaldo com dor de barriga, estavam aqui [jornalistas] desde ontem à noite”, comentou.