A TAP deu asas aos brasileiros e eles voaram
Em pouco mais de uma década, as rotas para o Brasil cresceram de 400 mil para 1,5 milhões de passageiros. A companhia abriu caminho, para si e para o povo brasileiro.
Ao chegar à transportadora aérea portuguesa, no ano 2000, o gestor brasileiro deparou-se com a oportunidade perfeita. “Vim encontrar a posição geográfica ideal para, desenvolvendo o hub [placa giratória] da TAP em Lisboa, atender ao mesmo tempo às necessidades do Brasil nas suas ligações à Europa”, explica. Foi a partir daí que a companhia colocou o mercado brasileiro no topo das suas prioridades.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Ao chegar à transportadora aérea portuguesa, no ano 2000, o gestor brasileiro deparou-se com a oportunidade perfeita. “Vim encontrar a posição geográfica ideal para, desenvolvendo o hub [placa giratória] da TAP em Lisboa, atender ao mesmo tempo às necessidades do Brasil nas suas ligações à Europa”, explica. Foi a partir daí que a companhia colocou o mercado brasileiro no topo das suas prioridades.
Com Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, Fortaleza e Natal já a fazerem parte da rede, foi alargando os braços a novos destinos no país: Brasília, Belo Horizonte, Campinas, Porto Alegre e, a partir do próximo mês de Junho, Manaus e Belém. E assim se abriu “um novo caminho para o brasileiro”, diz Fernando Pinto, assegurando que as rotas da companhia permitiram “uma maior mobilidade” a um povo que “não tinha capacidade de entrar no mercado do transporte aéreo e que hoje já tem”.
Na fila de check-in para o voo de Salvador para Lisboa, Michel Casali, brasileiro de 36 anos, poupou uma conexão até São Paulo, a que não escaparia caso não existisse a frequência da TAP. É engenheiro agrónomo e trabalha numa empresa francesa, por isso vai regularmente a Paris. “Já fui outras vezes para a Europa por Madrid e pela TAM directo, mas esta rota facilita porque ficamos menos horas dentro do voo. Em Lisboa descansamos, descemos do voo e seguimos viagem”, explica.
De acordo com a companhia portuguesa, 51% dos passageiros com origem no Brasil viajam em transferência para outros países. Ou seja, usam Portugal como uma espécie de trampolim para novas paragens. Os restantes 49% ficam por cá. O presidente da TAP refere que “o brasileiro está a habituar-se a fazer escala em Portugal, descobrindo um país que surpreende pela positiva”. Os indicadores do turismo comprovam: as dormidas na hotelaria e as receitas geradas por estes turistas mais do que duplicaram nos últimos cinco anos.
A partir do Recife, Rossini Barreira diz que a TAP é hoje “uma referência importante” para os brasileiros. “Isso contribuiu para que os pernambucanos, eu e a minha família incluídos, façam deste voo o nosso caminho para a Europa. Sempre que vamos à Europa, primeiramente visitamos os nossos irmãos portugueses, para somente depois disso sairmos em busca de outros destinos”, diz o assessor de comunicação. Para Jussiara Barbosa de Jesus, arquitecta, a ligação a Salvador tornou-se uma rotina nos últimos 13 anos. “Vivo em Itália e uma vez por ano venho aqui encontrar a minha família. O voo facilita muito porque chego aqui à minha cidade, não tenho de fazer conexões”, conta.
Desde que Fernando Pinto chegou à transportadora aérea, o peso do mercado brasileiro nas vendas passou de 16,9 para 34,2% em 2013. No ano passado, a empresa transportou mais de 1,5 milhões de passageiros nas rotas que ligam Portugal ao Brasil, quando em 2001 eram pouco mais de 400 mil. Porém, nos últimos anos o crescimento estagnou, tendo até descido entre 2012 e 2013. A TAP explica esta tendência com o facto de a taxa de ocupação já ser muito elevada, “pelo que as oportunidades de crescimento eram desde logo limitadas”. Esta questão será agora ultrapassada com a entrada de novos aviões, sem os quais não teria sido sequer possível anunciar as novas rotas para Belém e Manaus e os reforços para o Rio de Janeiro, Salvador, Natal e Porto Alegre. Estes dois novos braços da companhia no Brasil vão elevar para 81 o número de voos semanais para o país.
Luiz Alberto Küster, presidente do consórcio que explora o aeroporto de Viracopos, em Campinas, garante que a TAP terá sempre “sombra e água fresca” por lhes ter dado o carimbo internacional e ter sido a primeira companhia aérea estrangeira a ter um voo internacional directo.
Os brasileiros parecem cada vez mais dispostos a aproveitar a oferta da TAP, mas também por suas concorrentes, ávidas por explorar o potencial deste mercado. Uma sondagem feita pelo Ministério do Turismo do Brasil, relativa a Dezembro do ano passado, mostra que 37,3% dos inquiridos admite a possibilidade de viajar, a maioria de avião. O número de passageiros embarcados nos aeroportos do país aumentou 171% entre 2002 e 2012 – de 32 para 86,8 milhões. Segundo uma análise da consultora Euromonitor, realizada em 2011, no topo da lista de preferências estavam os destinos Estados Unidos, Argentina e França. Portugal surgia em quarto lugar.
Para a companhia de aviação liderada por Fernando Pinto, “a estratégia é continuar a crescer no mercado brasileiro” porque o Brasil “é para a TAP como a China é para outras empresas aéreas do centro da Europa”, garante o gestor, acrescentando que a aposta em novos destinos está sempre a ser estudada. Mesmo para a venda da transportadora, que o Governo quer relançar este ano após a primeira tentativa ter fracassado (com a rejeição da oferta de Gérman Efromovich), o mercado brasileiro é uma das grandes mais-valias. “Quem estiver mais bem posicionado, e nós temos a liderança no destino Brasil, obviamente tem benefícios, os quais, sem dúvida, irão pesar no processo de privatização”, conclui. Com Joana Gorjão Henriques, Manuel Carvalho, Simone Duarte e Vera Moutinho