Putin diz que uso da força na Ucrânia será “legítimo”
Passagem a intervenção armada será “um meio extremo”, mas Moscovo garante ter direito “a tomar todas as medidas necessárias” para proteger cidadãos na Ucrânia.
Apesar de considerar a possibilidade de uso de força militar “um meio extremo”, Moscovo sente-se “no direito de utilizar todos os meios para defender” os cidadãos ucranianos e russos étnicos. Essa eventualidade será sempre “legítima”, garante Putin.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Apesar de considerar a possibilidade de uso de força militar “um meio extremo”, Moscovo sente-se “no direito de utilizar todos os meios para defender” os cidadãos ucranianos e russos étnicos. Essa eventualidade será sempre “legítima”, garante Putin.
“Como sabem, o Presidente legítimo pediu à Rússia para utilizar a força militar para proteger os cidadãos ucranianos e russos”, afirmou Putin, numa referência a uma carta de Viktor Ianukovich, em que o Presidente deposto apelava a uma intervenção russa para repor a lei e a ordem na Ucrânia.
Putin não afastou a possibilidade de deslocar as suas forças armadas para outras regiões da Ucrânia, nomeadamente no Sul e no Leste do país. As pessoas “estão receosas por causa das ilegalidades e, se encontrarmos essas ilegalidades nas regiões do Leste e as pessoas pedirem a nossa assistência, então reservamo-nos a tomar todas as medidas necessárias para proteger esses cidadãos”, afirmou.
O objectivo da presença russa no território, diz Putin, “é dar às pessoas o poder para decidir o seu destino, seja em que região for”. “Não queremos intervir, mas acreditamos que todos os ucranianos devem ter os mesmos direitos para moldar o futuro do seu país.”
Mas, mesmo uma eventual utilização da força, não será, para Putin, o início de uma guerra. “Não vamos para a guerra com as pessoas da Ucrânia”, assegura. “Se tomarmos essa decisão, será para proteger as pessoas da Ucrânia: como pode um exército disparar contra famílias?”, questionou.
Putin quis também deixar um recado aos países que acenaram com sanções, como os EUA e a União Europeia. “No mundo moderno e interdependente, é claro que os danos são causados [pelas sanções], mas os danos serão mútuos”, avisou o Presidente russo. “Os nossos parceiros estão a apoiar autoridades ilegítimas. Achamos que as nossas acções são bem fundamentadas e qualquer acção contra a Rússia é contraproducente”, acrescentou.
Os grupos armados que têm patrulhado a Crimeia são apresentados por Putin como “forças de autodefesa”, que não têm qualquer ligação ao Exército russo, apesar de os uniformes apresentarem semelhanças. “O espaço pós-soviético está cheio de uniformes desse género, eram pessoas da Crimeia.”
Putin não hesitou em afirmar que Ianukovich não tem futuro político, apesar de ser o Presidente legítimo. A Rússia acolheu-o apenas por “razões humanitárias”: “Iriam matá-lo lá.”
O Presidente russo revelou ainda que a dívida de gás da Ucrânia à empresa estatal russa Gazprom pode ascender a 2 mil milhões de dólares, caso a factura de Fevereiro não seja paga. “Se eles não receberem o dinheiro a tempo dos parceiros ucranianos, então terão de agir de acordo com o seu próprio programa (…) Não está relacionado com os eventos políticos”, garantiu Putin.
Entretanto, a Rússia concordou em participar numa reunião com os países membros da NATO na quarta-feira, revelou a ministra italiana dos Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini. A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) vai enviar uma equipa de observadores de direitos humanos para a Ucrânia, anunciou o secretárigo-geral, Lamberto Zannier.