Mercado de Escravos em Lagos classificado como monumento de interesse público
Lagos recebeu desde 1444 carregamentos regulares de escravos e foi aqui que se instalou o provável primeiro mercado de escravos da Europa.
Datado de 1691, o mercado foi o último dos edifícios de apoio à praça-forte de Lagos a ser construído, sobre o que restava de um antigo edifício quatrocentista que servira para venda de escravos, na Praça Infante D. Henrique.
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Datado de 1691, o mercado foi o último dos edifícios de apoio à praça-forte de Lagos a ser construído, sobre o que restava de um antigo edifício quatrocentista que servira para venda de escravos, na Praça Infante D. Henrique.
O imóvel serviu no século XVII para acomodar o Corpo da Guarda, integrando-se no contexto de racionalização dos recursos e de especialização dos espaços que deu origem à Oficina do Espingardeiro (ex-Quartel da Coroa) e ao vizinho Armazém Regimental.
"Trata-se de um monumento de grande impacto urbanístico e um dos mais emblemáticos da cidade, constituindo-se em vértice da principal praça de Lagos", segundo a portaria.
O texto refere, ainda, que o local testemunha a "umbilical" ligação da cidade "à empresa dos Descobrimentos e cristaliza, até à actualidade, a memória do local onde se instalou o provável primeiro mercado de escravos da Europa quatrocentista". "Para além do seu inegável valor histórico, o edifício detém elevada qualidade arquitectónica, concretizada no traçado racional, erudito e simétrico, e na harmoniosa composição de volumes da sua estrutura maneirista", conclui.
A partir de 1444, Lagos passou a receber todos os anos carregamentos regulares de escravos, que eram normalmente capturados em razias ou adquiridos por troca na costa ocidental de África. Utilizados em trabalhos pesados e em tarefas domésticas, os escravos africanos, a partir de então, passaram a fazer parte da paisagem humana portuguesa, que marcarão de forma profunda
A portaria que classifica o imóvel como monumento de interesse público foi assinado a 20 de Fevereiro de 2014 pelo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier.
Classificados também igreja e hospital
Uns dias antes, a 17 de Fevereiro, foi publicada outra portaria do Gabinete do secretário de Estado da Cultura, que classificava como monumento de interesse público a Igreja e o Hospital da Misericórdia de Faro.
A igreja, que se estende pela Rua João Dias, Rua da Misericórdia e Praça Dom Francisco Gomes, foi levantada no local da ermida manuelina do Espírito Santo, ligada ao hospital, erguido após a transferência do centro urbano das Alcaçarias para a zona ribeirinha de Faro em 1499.
O antigo hospital quinhentista foi reconstruído pelo arquiteto genovês Francisco Xavier Fabri no início do século XIX, a par da reformulação neoclássica da fachada do templo, em cujo pórtico se conservam alguns elementos barrocos.
Segundo a portaria, o complexo que integrava a igreja e o hospital, constituíram um dos equipamentos fundamentais da reestruturação urbana da cidade medieval.
Na igreja, merecem ainda destaque a planta em cruz grega, caso ímpar na região algarvia, bem como a talha de grande qualidade do interior, nomeadamente o retábulo maneirista da capela-mor, refere o texto.
O edifício anexo do hospital integra ainda uma galeria de arcadas redondas no piso térreo.