Ex-combatentes lutam contra o “esquecimento” e exigem “respeito e honra”
“Nós somos por Portugal, somos pela liberdade, o que queremos é respeito e honra”, gritaram os manifestantes.
Quase duas centenas de ex-combatentes de África concentraram-se no Marquês de Pombal para descer a Avenida da Liberdade, em Lisboa, numa iniciativa que pretendeu ser uma chamada de atenção para os problemas que vivem muitos destes antigos militares que se sentem “abandonados” pelo Estado.
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Quase duas centenas de ex-combatentes de África concentraram-se no Marquês de Pombal para descer a Avenida da Liberdade, em Lisboa, numa iniciativa que pretendeu ser uma chamada de atenção para os problemas que vivem muitos destes antigos militares que se sentem “abandonados” pelo Estado.
Vítor Roque, paraquedista em Moçambique e um dos promotores deste protesto que juntou vários ramos das Forças Armadas, disse à Lusa que os antigos combatentes quiseram manifestar o seu descontentamento com os cortes das reformas e “indignação” pela forma como são tratados.
“Muitos dos nossos camaradas encontram-se na miséria, a passar fome, sem casa, por causa dos cortes brutais a que todos os portugueses têm estado sujeitos”, frisou, destacando que o protesto não foi convocado por nenhuma associação de militares.
Vítor Roque afirmou que muitos antigos combatentes que estão a sofrer os cortes eram fiadores dos filhos e “entraram numa situação de incumprimento”, acabando por perder as suas próprias casas.
José Pacheco, por outro lado, chamou a atenção para os 800 mil ex-combatentes que sofrem de stress pós-traumático de guerra, sem estarem a ser tratados nem ajudados, e para os 2.500 que ficaram na rua.
“As famílias não estão preparadas para lidar com esse tipo de doenças e os ex-combatentes são expulsos pelas famílias, pelos amigos, pela sociedade e acabam a morrer junto aos caixotes de lixo onde comem”, indignou-se ex-caçador-parquedista e enfermeiro em Moçambique, que pertence à Associação dos Deficientes das Forças Armadas.
José Pacheco quer a “dignificação dos ex-combatentes”, sublinhando que todos os países do mundo honram os seus heróis e têm o Dia do Combatente, ao contrário do que acontece em Portugal, onde foram esquecidos.
“O dinheiro é importante, mas a nossa dignidade como ex-combatentes, como pessoas humanas e como heróis nacionais, que não somos reconhecidos, é muito mais importante”, vincou.
José Casimiro Carvalho, ex-ranger na Guiné entre 1972 e 1974, tem queixas e reivindicações semelhantes e lamenta que muitos dos seus colegas que sofrem de stress de guerra estejam abandonados e não tenham medicação.
“Não há governo que trate dos ex-combatentes. Precisavam de ter um cartão dos ex-combatentes, fazer uma triagem de quem realmente necessita”, salientou, garantindo estar disposto a abdicar do seu subsídio [pago anualmente aos antigos combatentes e que tem um valor máximo de 150 euros] “para os que estão a dormir debaixo das pontes”.
O antigo ranger reclama um estatuto específico para os ex-combatentes e enquanto aponta as medalhas que traz ao peito desabafa: “Estas medalhas que estão aqui são respeitadas pelo povo americano, [que respeita] os soldados que andaram no Vietname. Nós, infelizmente, estamos votados ao ostracismo, nem falam de nada”.
E o que esperam do Governo? A resposta vem sob a forma de um riso sarcástico: "Já não espero nada. Vamos ver se pelo menos criam um cartão de ex-combatente para quem precisa de ser tratado, de ser ajudado, não é para mim.”
A marcha, que atravessou a Avenida da Liberdade, terminou no Rossio menos de uma hora depois da saída do Marquês, com os militares a cantarem o hino nacional e a gritarem palavras de ordem: “Nós somos por Portugal, somos pela liberdade, o que queremos é respeito e honra”.