Mais de 200 imigrantes entram no enclave espanhol de Melilla
Centro de acolhimento da cidade tem capacidade para 480 pessoas mas já acolhe 1300.
“Houve uma noite de vigilância intensa na fronteira ao longo da qual se foram detectando vários grupos de centenas de imigrantes que pareciam aproximar-se da vala e logo desapareciam”, diz a delegação do Governo no enclave.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
“Houve uma noite de vigilância intensa na fronteira ao longo da qual se foram detectando vários grupos de centenas de imigrantes que pareciam aproximar-se da vala e logo desapareciam”, diz a delegação do Governo no enclave.
Alguns grupos, reagrupados do lado marroquino, lançaram “todo o tipo de objectos, pedras, paus e garrafas contra os agentes da guarda civil”. Há um guarda com ferimentos ligeiros – um imigrante foi detido por ter atingido o agente com um pau – e houve imigrantes tratados a cortes que fizeram nas mãos e nos pés ao passar o triplo gradeamento com sete metros de altura que divide Espanha de Marrocos.
Mais de 300 homens tentaram cruzar a fronteira, 214 conseguiram passar e estão agora no centro de acolhimento – segundo o seu director, Carlos Montero, ouvido pela Rádio Nacional de Espanha, o centro, com capacidade para 480 pessoas, acolhe agora mais de 1300. Montero admitia que o número de chegadas pudesse ir aumentando ao longo do dia.
Enquanto atravessavam a pé a cidade, alguns imigrantes “entoaram cânticos de festejo”, diz o governo local.
A última chegada de um grupo grande de imigrantes tinha acontecido na segunda-feira, quando uma centena de pessoas conseguiu saltar a vala.
As últimas semanas têm sido marcadas por muitas tentativas de entrada de imigrantes em Melilla mas também em Ceuta, o outro enclave espanhol em Marrocos.
No início do mês, pelo menos 15 homens morreram quando tentaram chegar a Ceuta a nadar. A resposta das forças espanholas nesse dia desencadeou uma polémica, com grupos de defesa dos direitos humanos a acusar os agentes de dispararem balas de borracha. O Ministério do Interior proibiu entretanto a Guarda Civil de disparar balas de borracha na fronteira.
As autoridades espanholas consideram que estas tentativas de passagem em grupo em Ceuta e Melilla, as únicas duas fronteiras terrestres da Europa com o Magrebe, são “o método de entrada mais preocupante pelo seu potencial desestabilizador, pela capacidade de provocar alarme social e pelo risco de causar violência”.
Os governos das duas regiões autónomas e o executivo de Madrid já exigiram à União Europeia que se envolva mais nesta situação. Melilla e o Governo de Mariano Rajoy defendem mudanças na lei para permitir as “devoluções imediatas” de imigrantes que conseguem dar o salto. O ministro do Interior, Jorge Fernández Díaz, já propôs a Marrocos accionar “um mecanismo coordenado através do qual se procederia à devolução imediata dos que entrem de forma violenta ou flagrante” nas duas cidades.
A oposição socialista criticou esta intenção e contrapôs com uma proposta apresentada no Congresso para que se retire o arame farpado das duas fronteiras.
De Bruxelas Madrid quer mais cooperação e mais dinheiro. A "imigração ilegal", considerou o Ministério do Interior num comunicado recente, é “um assunto da responsabilidade de todos os membros da UE”. Espanha defende que “os países que sofrem uma maior pressão migratória e que assumem mais responsabilidades” devem contar “com a solidariedade real, política e económica do conjunto” da União.
Segundo o Ministério do Interior, 4235 pessoas entraram de forma irregular em Ceuta e em Melilla ao longo de 2013, números que reflectem um aumento de 48% face ao ano anterior.
Fontes policiais citadas pelo El País estimam que perto de 30 mil pessoas vindas da África Subsariana estejam em Marrocos à espera de poderem entrar na Europa. Os que têm mais meios económicos costumam apostar por pagar a máfias e fazem a viagem de barco, mas a maioria dos que já chegaram a Marrocos deverão tentar passar pelas fronteias dos dois enclaves espanhóis.