Bill Watterson regressa ao desenho com cartaz para o filme Stripped

Autor de Calvin e Hobbes retirou-se em 1995, mas interrompeu agora o seu silêncio criativo para desenhar o cartaz de um documentário sobre o ameaçado futuro das tiras cómicas.

Foto

Com entrevistas inéditas a largas dezenas de cartoonistas de várias gerações, Stripped, um documentário de 85 minutos, pergunta para onde irão as tiras de banda desenhada (comic strips) quando os jornais desaparecerem, e se esta arte que cresceu com a imprensa irá conseguir sobreviver no mundo digital.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Com entrevistas inéditas a largas dezenas de cartoonistas de várias gerações, Stripped, um documentário de 85 minutos, pergunta para onde irão as tiras de banda desenhada (comic strips) quando os jornais desaparecerem, e se esta arte que cresceu com a imprensa irá conseguir sobreviver no mundo digital.

O cartaz de Watterson mostra um desenhador a saltar para fora da sua roupa com o susto quando lê um jornal cuja manchete é “Bye-bye, newspapers!” [Adeus, jornais!]. No canto vê-se o seu cão, que manuseia um tablet, a olhar para trás, a ver o que se passa com o dono, cuja fisionomia não é contraditória com a que se poderia esperar de um Calvin envelhecido.

“Tendo em conta o título do filme [um dos sentidos de stripped é “despido”] e o facto de haver poucas coisas tão divertidas como a nudez humana, a ideia surgiu-me na cabeça já bastante completa”, explicou Watterson. Descrevendo o documentário, que será lançado em DVD no dia 2 Abril, como uma “grande carta de amor à banda desenhada”, diz que tentou “fazer uma coisa muita cartoonística”.

Watterson deixou de desenhar as tiras do precoce Calvin e do seu sardónico tigre Hobbes em 1995 e recusou-se sempre a permitir que as suas personagens fossem reproduzidas em quaisquer produtos de merchandising. Divulgadas em Portugal nas páginas do PÚBLICO, que as publicou desde o primeiro número do jornal, em Março de 1990, as aventuras de Calvin e Hobbes tornaram-se uma tira cómica de culto, talvez só comparável aos Peanuts de Charles M. Schulz.

Watterson também diz algumas frases no documentário, mas a sua colaboração mais surpreendente é mesmo o cartaz, que resultou de um desafio de Dave Kellett, autor das tiras protagonizadas por Sheldon, um bilionário de 10 anos que detém uma empresa de software.

“O convite do Dave surgiu do nada”, disse Watterson ao jornal Washington Post, “e pareceu-me que seria uma coisa divertida e de que as pessoas talvez não estivessem à espera”. De modo que resolveu fazer uma tentativa: “O Dave mandou-me uma versão do filme e eu limpei o pó e as teias de aranha ao meu tinteiro”.