Cientistas descobrem como os cheiros dos pinheiros conseguem reflectir a luz solar

Estudo conseguiu explicar como é que as fragrâncias emitidas pelas árvores na floresta boreal se transformam em aerossóis na atmosfera. Fenómeno é importante para estudar as alterações climáticas.

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A área da floresta boreal representa mais de um quarto da area florestal do mundo Claudia Mohr

“As emissões [de moléculas] feitas pelas árvores da floresta boreal podem produzir partículas de aerossóis. Sabe-se isto há algum tempo, já que é a única forma de explicar as observações feitas da formação e do crescimento de partículas para tamanhos que podem influenciar as nuvens”, explicou ao PÚBLICO Mikael Ehn, da Universidade de Helsínquia, na Finlândia, um dos vários autores do estudo. “No entanto, o exacto mecanismo nunca foi compreendido.”

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“As emissões [de moléculas] feitas pelas árvores da floresta boreal podem produzir partículas de aerossóis. Sabe-se isto há algum tempo, já que é a única forma de explicar as observações feitas da formação e do crescimento de partículas para tamanhos que podem influenciar as nuvens”, explicou ao PÚBLICO Mikael Ehn, da Universidade de Helsínquia, na Finlândia, um dos vários autores do estudo. “No entanto, o exacto mecanismo nunca foi compreendido.”

Quando se fala de aerossóis, está-se a falar de partículas, moléculas até um certo tamanho, suspensas nas massas de ar. O fumo dos carros e outros poluentes são aerossóis. Mas as próprias nuvens também são partículas de água suspensas no ar. A formação de nuvens acontece quando o ar fica saturado e as moléculas de água condensam-se à volta de partículas de sal, por exemplo.

“Os aerossóis são importantes para o clima porque influenciam a formação de nuvens e têm um impacto no arrefecimento global”, diz o investigador. Estas partículas reflectem a luz solar e diminuem a energia que chega até à Terra. Muitos estudos mostram que nos anos com actividade vulcânica intensa, em que é emitida muita cinza para atmosfera, a temperatura global da Terra desce.

Por isso, os aerossóis são um factor importante para ter em conta quando se elaboram modelos sobre as alterações climáticas. Mas é difícil compreender e integrar nestes modelos os vários fenómenos que influenciam a existência de aerossóis na atmosfera. Os aerossóis produzidos devido à actividade da floresta boreal, que ocupa 11% da área dos continentes do Hemisfério Norte e representa cerca de 27% da área florestal do mundo, terão, por isso, impacto nos modelos usados para prever as alterações climáticas.

Para conseguirem perceber o que se passa a nível da química destas partículas, os investigadores seguiram a evolução de uma única molécula num novo e sofisticado aparelho de espectrometria de massa, instalado num instituto alemão. O que viram é que uma molécula de pineno, o composto orgânico libertado pelas coníferas, quando está na atmosfera, liga-se num só passo a cerca de 10 a 12 moléculas de oxigénio. Era esperado que se ligasse a apenas cinco moléculas de oxigénio.

Com os novos átomos de oxigénio, a molécula é obrigada a condensar-se numa pequena partícula de três nanómetros. Depois, muitas partículas destas agregam-se, ficando com um tamanho maior que já é capaz de influenciar o clima. “Acho que descobrir a química [destas partículas] vai ter um impacto profundo na forma como descrevemos a química atmosférica na generalidade”, explica por sua vez em comunicado Joel Thornton, da Universidade de Helsínquia.

Segundo Mikael Ehn, as outras florestas da Terra não libertam compostos orgânicos em quantidade capazes de produzirem um fenómeno desta envergadura. Por isso, defende o investigador, “se a área da floresta boreal diminuir, o efeito de arrefecimento dos aerossóis que produz irá diminuir, e é de esperar um aumento da temperatura global”.