Espanhola condenada por apologia ao terrorismo no Twitter

Uma "rapariga normal", farta de muitas coisas, que escreve para denunciar que “uma minoria vive às custas da morte, da miséria e da exploração da maioria”.

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Os tweets de Camacho foram considerados "radicais e violentos" Leon Neal/AFP

Por trás da acusação estiveram os elogios da jovem aos GRAPO (Grupos de Resistência Antifascista Primeiro de Outubro), uma organização de extrema-esquerda envolvida no assassínio de mais de 80 pessoas durante a transição da ditadura de Franco para a democracia – oficialmente, a organização nunca foi dissolvida, mas as autoridades consideram que perdeu as suas capacidades operacionais no fim da década passada.

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Por trás da acusação estiveram os elogios da jovem aos GRAPO (Grupos de Resistência Antifascista Primeiro de Outubro), uma organização de extrema-esquerda envolvida no assassínio de mais de 80 pessoas durante a transição da ditadura de Franco para a democracia – oficialmente, a organização nunca foi dissolvida, mas as autoridades consideram que perdeu as suas capacidades operacionais no fim da década passada.

“Com o Partido Popular [direita, no poder em Espanha] vemos bem que os GRAPO são indispensáveis”, escreveu a jovem, que no Twitter, onde continua activa e é seguida por 14.700 pessoas, usa o pseudónimo "Loba Vermelha" e se diz “subversiva”, “com o coração mais negro do que a noite mas a alma vermelha como o sangue”. Em Junho de 2012, uma provocação um pouco mais concreta: “Prometo fazer uma tatuagem com o rosto da pessoa que dê um tiro na nuca a Rajoy”.

Actualmente, a imagem de fundo da conta de Twitter (@alcacorazonnegro) de Camacho mostra soldados soviéticos a içar a sua bandeira em Berlim, depois de derrotarem a Alemanha nazi. Já por lá estiveram fotografias dos GRAPO – uma de 44 presos da organização – ou de Che Guevara.

Os juízes espanhóis consideraram que os seus tweets, de “conteúdo ideológico extremamente radical e violento”, violam a Constituição espanhola, onde se proíbe a apologia do terrorismo. Apesar dos GRAPO já não constituírem uma ameaça, “terrorismo é terrorismo e não pode nunca ser glorificado”, defendeu Eduardo Serra, ex-ministro da Defesa.

O advogado de Camacho considera que ela foi um bode expiatório e diz que o caso reflecte a “fina fronteira” entre a liberdade de expressão e as leis antiterrorismo. Condenada a um ano de prisão, a jovem conseguiu que a sentença fosse suspensa por não ter antecedentes criminais. O New York Times fala “na linha nem sempre clara entre rebeldia juvenil e algo mais”

A jovem não quis dar entrevistas a media espanhóis mas aceitou entrar numa troca de emails com o jornal norte-americano, onde diz nunca ter pensado que podia ser condenada: “há tantos disparates na Internet, incluindo coisas bem piores” do que as suas, defende.

“A verdade é que sou uma rapariga muito normal, a quem nunca aconteceu nenhum tipo de problema”, afirma. “Mas se te disser tudo aquilo de que estou farta nunca pararia”, diz Camacho, que vive em Jaén, no Sul de Espanha, e está a estudar para ser assistente social. Camacho diz twittar para denunciar “um sistema no qual uma minoria vive às custas da morte, da miséria e da exploração da maioria”.

Este processo acontece depois de o Governo conservador do PP ter chegado a acordo para fazer votar legislação que criminaliza o uso da Internet para organizar protestos violentos. Processos semelhantes têm acontecido noutros países. Em Janeiro, duas pessoas foram condenadas no Reino Unido por mensagens que ameaçavam uma activista feminista; no mesmo mês, um tribunal federal dos EUA condenou um homem a 16 meses de prisão por ter ameaçado matar o Presidente Barack Obama no Twitter.

Carlos Sáiz Díaz, advogado espanhol ouvido pelo New York Times, diz que este caso “mostra que os tribunais nacionais querem enviar uma mensagem à sociedade, avisar que a partir de agora os abusos serão punidos se forem cometidos através de redes sociais”.