A UE precisa do Reino Unido com "uma voz forte", disse Merkel em Londres
David Cameron não recebeu de Merkel o reforço que queria para enfrentar os eurocépticos; mas a chanceler recordou a importância de ter os britânicos na UE.
Não foi o muito ansiado apoio que David Cameron esperava receber para se reforçar face aos deputados do seu Partido Conservador que exigem a retirada da União Europeia. Antes da visita, o partido maioritário da coligação governamental britânica fez circular a ideia que a visita de Merkel poderia ser um importante impulso para o desejo britânico de reforma das instituições comunitárias, sob ameaça de referendo à continuação do Reino Unido na UE. E, já agora, também um reforço para os tories face ao crescimento eleitoral do UKIP, o partido eurocéptico que as sondagens estão a dar como possível vencedor das eleições europeias de Maio.
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Não foi o muito ansiado apoio que David Cameron esperava receber para se reforçar face aos deputados do seu Partido Conservador que exigem a retirada da União Europeia. Antes da visita, o partido maioritário da coligação governamental britânica fez circular a ideia que a visita de Merkel poderia ser um importante impulso para o desejo britânico de reforma das instituições comunitárias, sob ameaça de referendo à continuação do Reino Unido na UE. E, já agora, também um reforço para os tories face ao crescimento eleitoral do UKIP, o partido eurocéptico que as sondagens estão a dar como possível vencedor das eleições europeias de Maio.
Mas como era de prever, o discurso de Merkel, apesar de ter sido muito simpático para com o Reino Unido – um país que ela visitou pela primeira vez em 1990, pouco tempo depois da queda do Muro de Berlim, contou, quando o marido foi convidado para um congresso científico – ficou muito aquém das expectativas de Cameron. Mas a chanceler reconheceu que a União Europeia precisa de mudar – “tem de se manter a par com os tempos”, afirmou.
Os eventuais abusos na livre circulação de trabalhadores na UE, o mercado único, o euro, a reforma das instituições europeias – todas estas foram áreas possíveis de intervenção identificadas por Merkel, e que coincidem com os interesses britânicos. Mas sublinhou que todos os países terão a oportunidade de apresentar as suas propostas de mudança quando for aprofundada a integração da zona euro – da qual o Reino Unido não faz parte.
Que não se esperem, no entanto, mudanças rápidas e radicais, disse Merkel, citando o ex-Presidente alemão Richard Von Weizsäcke, que discursou a ambas as câmaras do Parlamento britânico em 1986: “Os avanços na UE não se farão por grandes saltos, mas sim através de pequenos passos”.
Para lá disto, o discurso da chanceler foi vago. Não mencionou directamente o debate sobre a Europa que está a decorrer no Reino Unido – nem o desejo de revisão dos tratados europeus, ao contrário do que aconteceu com o Presidente francês, François Hollande, ao visitar David Cameron há cerca de um mês, em que foi muito crítico com os planos britânicos.
Angela Merkel fez questão no entanto de sublinhar a importância do Reino Unido na UE. “Há muitos valores europeus que têm a sua casa no Reino Unido – a democracia parlamentar, a liberdade de imprensa. Tantas coisas que damos hoje por garantidas mas que não o eram há 100 anos”, recordou. Para a Alemanha, que esteve do lado contrário ao dos fundadores da UE – e os alemães estão gratos pelo perdão dos europeus, sublinhou –, a pertença à UE foi decisiva para permitir o seu crescimento no pós-II Guerra, sublinhou.