Só 8,5% dos investidores aceitaram reembolso antecipado de dívida
Recompra de obrigações permite poupança de 21,1 milhões em juros. Reembolsos de dívida em Outubro deste ano e em Outubro de 2015 baixaram para 14.119 milhões.
Num leilão de dívida pública realizado na manhã desta quinta-feira, o Tesouro sugeriu aos investidores antecipar a amortização de títulos de dívida que vencem em Outubro deste ano e em Outubro de 2015. No entanto, Portugal só conseguiu que fosse antecipado o pagamento de 8,5% desses títulos de dívida. Embora o IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública não tivesse definido um montante indicativo para a recompra de títulos, fazendo depender esse valor das condições do mercado, Portugal tinha para amortizar 15.438 milhões de euros nestas duas linhas de obrigações. E, deste montante, só antecipou a amortização de 1319,8 milhões de euros.
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Num leilão de dívida pública realizado na manhã desta quinta-feira, o Tesouro sugeriu aos investidores antecipar a amortização de títulos de dívida que vencem em Outubro deste ano e em Outubro de 2015. No entanto, Portugal só conseguiu que fosse antecipado o pagamento de 8,5% desses títulos de dívida. Embora o IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública não tivesse definido um montante indicativo para a recompra de títulos, fazendo depender esse valor das condições do mercado, Portugal tinha para amortizar 15.438 milhões de euros nestas duas linhas de obrigações. E, deste montante, só antecipou a amortização de 1319,8 milhões de euros.
Assim, de um montante de 6189 milhões de euros de dívida que vencia em Outubro de 2014, o Estado amortizou agora 293,2 milhões; ao mesmo tempo, dos 9249 milhões de euros dívida que venciam em Outubro de 2015, o Estado antecipou o pagamento de 1026,6 milhões. Com isto, conseguiu uma pequena poupança em juros, uma vez que antecipou o pagamento da dívida em oito meses e em 20 meses.
A operação realizou-se através da recompra de dívida, uma espécie de leilão de dívida “invertido”, em que aos investidores coube apresentar ofertas de preço pelos títulos de dívida, ficando nas mãos do IGCP a decisão de aceitar ou não as propostas.
O Tesouro recomprou duas linhas de obrigações com maturidades diferentes: a maior fatia da dívida recomprada — de 1026,6 milhões de euros — foi em obrigações do tesouro que venciam em Outubro de 2015 (e pelas quais o Estado paga um cupão anual fixo de 3,35%); a este montante somam-se 293,2 milhões de euros em obrigações que teriam de ser amortizadas em Outubro próximo (com uma remuneração anual bruta de 3,6%).
Em causa estiveram as mesmas linhas de títulos que foram alvo de uma operação de troca de dívida em Dezembro. Na altura, o Estado conseguiu um adiamento (para Outubro de 2017 e para Junho de 2018) de 6642 milhões de euros que venciam precisamente em Outubro deste ano e em Outubro de 2015. Agora, graças a uma “almofada” que cobre as necessidades de financiamento deste ano e que começa a pré-financiar o ano de 2015, o Governo procurou baixar o custo de manter este excedente.
Os resultados publicados pelo IGCP mostram que a oferta foi superior ao montante amortizado nos títulos que venciam em Outubro de 2014, enquanto nos títulos que teriam de ser amortizados no próximo ano o montante recomprado foi igual à oferta colocada a leilão.
No primeiro caso, as propostas chegaram a 349,8 milhões de euros, o que significa que o montante colocado ficou 56,5 milhões de euros aquém. Já nos títulos que seriam amortizados em Outubro do ano seguinte a oferta foi de 1026,6 milhões.
Para o analista Filipe Silva, director da gestão de activos do Banco Carregosa, “Portugal conseguiu aliviar um pouco a pressão nos reembolsos que terá que fazer, mais em 2015, que foi a linha em que o montante recomprado foi mais significativo”. Mas, “ainda assim, a operação teve uma dimensão muito pequena e quase não terá impacto”, diz, num comentário enviado às redacções.
A redução nos juros ascendeu a cerca de 21,1 milhões de euros, um ganho que o analista considera marginal. A poupança, sendo “muito pequena”, só será útil caso o Estado “não precise de voltar a emitir dívida para ‘repor’ estes montantes” agora amortizados. “Na emissão que vence no final de 2014 a poupança de juros foi de 758 mil euros, o que é insignificante. Na emissão que vence em 2015, a poupança dos juros nestes dois anos (2014 e 2015) será de 20,4 milhões de euros”.
Ricardo Marques, analista da IMF (Informação Mercados Financeiros), explica à Reuters que, com esta operação, o Tesouro “pagou antecipadamente dívida de 2014 e 2015, poupando juros e “abatendo desde já parte destas dívidas”. Mas nota o “pouco interesse nas obrigações do tesouro de 2014”, títulos que os investidores não terão “grande vantagem” em vender. “O que se retira daqui é que os investidores não têm pressa em desfazerem-se das posições que detêm em dívida portuguesa, no curto prazo”, completa, por seu lado, Filipe Silva.
Para testar a confiança dos mercados e construir uma almofada de financiamento para este ano e o próximo, Portugal realizou nos dois primeiros meses do ano emissões de dívida a cinco e a dez anos.
Segundo dados da Reuters, as taxas de juro implícitas às obrigações a dez anos transaccionada no mercado secundário (onde podem ser trocados títulos de dívida dos Estados entre investidores) mantiveram-se estáveis, nos 4,8%.