OMS avisa que Portugal é dos países europeus com mais excesso de peso infantil
Obesidade infantil é "preocupante" e poderá levar o excesso de peso a tornar-se a "norma" na Europa, segundo relatório da OMS. Portugal está entre os países com taxa elevada de excesso de peso infantil e também nos adultos.
A OMS revela “níveis preocupantes” de excesso de peso resultantes de uma má alimentação e inactividade física. De acordo com dados recolhidos entre 2009 e 2010, a Grécia lidera, por exemplo, na percentagem de crianças de 11 anos com excesso de peso (33%), seguida de Portugal (32%) e da Irlanda e Espanha (ambas com 30%). No fim da lista encontram-se a Holanda e a Suíça, com 13% e 11%, respectivamente. Entre as crianças portuguesas, a OMS apresenta ainda valores para os meninos e as meninas com sete anos. O excesso de peso está presente em 40,5% dos rapazes e em 35,5% das raparigas. A obesidade, na mesma faixa etária, é menor, 16,7% e 12,6%, respectivamente.
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A OMS revela “níveis preocupantes” de excesso de peso resultantes de uma má alimentação e inactividade física. De acordo com dados recolhidos entre 2009 e 2010, a Grécia lidera, por exemplo, na percentagem de crianças de 11 anos com excesso de peso (33%), seguida de Portugal (32%) e da Irlanda e Espanha (ambas com 30%). No fim da lista encontram-se a Holanda e a Suíça, com 13% e 11%, respectivamente. Entre as crianças portuguesas, a OMS apresenta ainda valores para os meninos e as meninas com sete anos. O excesso de peso está presente em 40,5% dos rapazes e em 35,5% das raparigas. A obesidade, na mesma faixa etária, é menor, 16,7% e 12,6%, respectivamente.
No caso de adolescentes de 13 anos, a prevalência do excesso de peso foi verificada em mais de 27% destes jovens nos 36 países da Europa com dados disponíveis. Quando analisados os adolescentes com ou mais de 15 anos, essa percentagem atinge o seu valor mais alto na Grécia (23%) e mais baixo na Arménia, Lituânia e Rússia (10%). Em Portugal, 31% dos rapazes e 18% das raparigas têm excesso de peso. Aos 15 anos a obesidade atinge os 24% e os 17%, para cada sexo.
Davide Carvalho, endocrinologista e presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), diz que a situação de obesidade infantil em Portugal é “muito preocupante” e é “previsível que se venha a agravar”.
O médico indica que a médio prazo é expectável que 30% a 50% das crianças se tornem obesas na idade adulta, uma realidade possível que se deve à redução do número de horas de actividade física nas escolas do ensino básico, às crianças passarem cada vez mais tempo em frente ao televisão ou ao computador e à crise económica que afectou a alimentação. “É necessário aumentar a actividade física das crianças e que os pais reduzam o tempo que as crianças estão frente ao ecrã para as duas horas diárias recomendadas. Uma criança activa é um adulto activo”, acrescenta o presidente da SPEO.
24% da população adulta portuguesa é obesa
Dados de 2008 relativos a 46 países europeus com dados disponíveis indicam que mais de 50% da população adulta, com 20 ou mais anos, tinha excesso de peso, valor que diminui em termos de obesidade (mais de 20%) quando estudados 40 países. Entre os 46 Estados, a média mais baixa e mais alta de homens com excesso de peso varia entre 31%, no Tadjiquistão, e 72%, na República Checa. A maior percentagem de mulheres com peso a mais foi verificada na Turquia (64%). O Tadjiquistão voltou a apresentar o valor mais baixo, 31%.
Portugal apresenta outros valores para a população adulta: 59,1% tem excesso de peso e 24% é obesa. A prevalência de excesso de peso é maior entre os homens (61.8%) que nas mulheres (56.6%). Quando se fala em obesidade, essas percentagens descem para 21,6% e 26,3%, respectivamente. Uma alimentação pouco saudável e sedentarismo podem explicar estes valores. “Com o envelhecimento da população, a prevalência da obesidade aumenta”, diz Davide Carvalho, mas “o consumo de sal muito elevado e o limite que atingimos quanto à ingestão de gordura saturada” ajudam ao agravamento dos dados entre os portugueses. “Apenas ultrapassámos pela positiva o consumo de frutas e vegetais”, acrescenta.
“A nossa percepção do que é normal alterou-se. Ter excesso de peso é agora mais comum que inabitual”. A conclusão é da directora regional para a Europa da OMS, Zsuzsanna Jakab, que também indica a inactividade física e uma alimentação baseada em comida de baixo preço, salgada, açucarada ou com demasiada gordura saturada, como factores determinantes para a obesidade. Se estes factores forem combinados, Jakab fala num resultado “mortal”.
O presidente da SPEO sublinha igualmente os “problemas graves” que resultam do excesso de peso e com valores elevados entre os portugueses como a doença coronária, com 17% da população adulta afectada, mas ainda a hipertensão ou diabetes.
A OMS estima que em 2020 a obesidade afecte 21% dos portugueses e 22% das portuguesas, valores que sobem em 2030 para 27% e 26% para cada um dos sexos.
Falta de exercício como causa para a obesidade
A inactividade física é apontada pela OMS como uma das principais causas para a existência de obesidade. Dados de 2008 mostram que em 23 países com informação disponível 30% da população com 15 ou mais anos não praticava exercício suficiente para combater ou evitar o excesso de peso. Malta apresenta o valor mais elevado de homens inactivos fisicamente (de 71%), enquanto a Estónia fica colocada nos pontos mais baixos do gráfico (17%). As mulheres fazem menos desporto que os homens, segundo a percentagem mais elevada que foi registada (76% na Sérvia). Na Sérvia regista-se o valor mais baixo, 16%.
Segundo os dados mais recentes para Portugal, entre os 15 ou mais anos, 53,9% dos portugueses não fazem qualquer exercício, sendo que 50% dos homens não praticam qualquer desporto e 57,5% das mulheres também. “A inactividade física será um dos grandes problemas dos portugueses. Mas temos 20% fisicamente activos, segundo dados recentes. O problema do sedentarismo são o número de horas que passam em frente ao ecrã, a jogar no computador, sentados a trabalhar”, afirma Davide Carvalho, segundo o qual as zonas Norte, Centro, Madeira e Açores são as que têm “taxas de sedentarismo mais elevadas”.
Portugueses comem muitos vegetais mas abusam no sal
Além da actividade física, a OMS aconselha ao consumo mínimo de alimentos ricos em gordura saturada, a uma maior aposta nas frutas e vegetais e na redução do sal, todos factores que devem estar no centro das campanhas de combate à obesidade e de sensibilização para uma nutrição saudável. A organização defende que apenas 10% da percentagem de energia consumida diariamente por um adulto seja de gordura saturada, valor excedido pelos portugueses que em média consumiram 10,8%. Pelo menos 600 gramas de vegetais e frutas devem ainda fazer parte da alimentação diária de um adulto, mas os portugueses chegaram a uma média de 877 gramas. Quando ao sal, devem ser utilizados cinco gramas diários, menos de metade do que em Portugal é usado à mesa (12,3 gramas).
O responsável do programa de nutrição, actividade física e obesidade na OMS defende que a prática de exercício e uma alimentação equilibrada são a resposta ao problema do crescente excesso de peso que se tem vindo a revelar nas últimas décadas. “A opção pela actividade física e alimentos saudáveis deviam ser levadas a sério em todos os ambientes – escolas, hospitais, cidades e locais de trabalho. Além da indústria alimentar, o sector de planeamento urbano pode fazer a diferença”, sustenta João Breda.
Em Portugal, o presidente da SPEO defende que “as medidas preventivas devem ser as que mais atenção recebem”. A nível individual “devemos investir em modificações no estilo de vida”, para o Governo fica o trabalho de “melhorar as escolhas alimentares nas escolas e promover a actividade física”, no lugar de investir “milhões de euros no tratamento e nos medicamentos de hipertensão ou doença coronária”.
Segundo a OMS, há países que já estão a fazer um bom trabalho na contenção do que a organização considera ser uma “epidemia”, como é o caso de França e alguns países escandinavos. “Estes países estão a implementar políticas através de uma intervenção do governo e de iniciativas intersectoriais em linha com o Saúde 2020”, a mais recente política da OMS para o sector. Aos países que ainda apresentam dados negativos sobre a obesidade a organização sugere o reforço da legislação, a pressão da indústria alimentar para que assuma as suas responsabilidades ou ainda uma melhor informação calórica sobre cada alimento junto do consumidor. A OMS defende ainda que seja promovida nas escolas uma alimentação cuidada, que haja um controlo mais apertado na forma como são publicitados os alimentos ou ainda que se criem mais iniciativas para a actividade física.