O “touch” é râguebi?
Os mais “puristas” terão resposta imediata: “Se não há placagem, não há râguebi.” Se ler este texto até ao fim, talvez mude a sua opinião
Este espaço está pejado de artigos elogiosos às virtudes do râguebi. Não podemos, porém, ficar indiferentes a uma característica deste desporto - o contacto físico – que, cada vez mais, condiciona a prática de râguebi a pessoas com capacidades atléticas particulares.
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Este espaço está pejado de artigos elogiosos às virtudes do râguebi. Não podemos, porém, ficar indiferentes a uma característica deste desporto - o contacto físico – que, cada vez mais, condiciona a prática de râguebi a pessoas com capacidades atléticas particulares.
A placagem é o meio usado para travar o avanço do jogador adversário, o choque é necessário para progredir no terreno e os aglomerados de jogadores (formações) são constantes para a definição da estratégia de jogo.
Estas características se, por um lado, são a imagem de marca deste desporto de combate, por outro, limitam (e afastam) a participação de alguns possíveis praticantes menos capazes fisicamente, ou em menor forma física.
Há quem pense que o “touch” râguebi é apenas um mero exercício de aquecimento que se faz nos treinos. Mas é muito mais do que isso.
Este desporto apresenta como grandes vantagens a simplicidade das suas regras, um risco muito reduzido de contrair lesões e não requerer um piso específico. Estas características tornam o “touch” num verdadeiro desporto social, que pode ser praticado por todos, em todo o lado.
É, também, uma maneira de ajudar jogadores do râguebi “tradicional” a recuperar de lesões e uma forma de introduzir a modalidade nas escolas, que muitas vezes não possuem campo adequado para a prática deste desporto.
Num breve resumo sobre a história do “touch” râguebi, vamos tentar perceber a dimensão desta variante no mundo:
1963: O “touch” começa na Austrália como desporto social (praticado essencialmente em parques)
1968: É criado o South Sydney Touch Football Club e realiza-se o primeiro jogo oficial (Bob Dyke and Ray Vawdon são considerados os pais do “Touch Football”, nome como é conhecido na Austrália).
1978: É formada a Australian Touch Football Association. Actualmente é um dos desportos mais populares na Austrália (existem cerca 400 mil jogadores registados e cerca de 500 mil crianças praticam “touch” como actividade escolar).
1985: Nasce a “Federation of International Touch (FIT)”. Atualmente com 47 países membros (incluindo Portugal)
1988: Primeiro Campeonato do Mundo de Touch em Gold Coast, Austrália. A última edição foi em 2011 em Edinburgo, Escócia. A próxima será em 2015 na Austrália. O Campeonato Europeu realiza-se a cada 2 anos (o último, em 2012, em Treviso, Italia)
2011: Surge a “European Federation of Touch (EFT)” como representante da FIT para a Europa (existem já agendados para 2014, cerca de 25 torneios para clubes Europeus).
Em Portugal, já começam a aparecer alguns núcleos organizados e o GD Direito tem treinos periódicos. O Sporting é um dos núcleos mais organizados, com dois treinos semanais - inteligentemente os treinos coincidem com os das camadas jovens, possibilitando que os pais pratiquem desporto, em vez de estarem apenas a assistir ao treino dos filhos. Em Coimbra existe também um núcleo com actividade regular. Em Arcos de Valdevez o escalão de veteranos optou por esta variante, para evitar lesões e cativar mais praticantes.
Parecem existir alguns movimentos no sentido de criar alguns torneios, já este ano, no nosso país. Concluindo, se o “touch” râguebi for considerado, em Portugal, como mais uma variante da modalidade (a par do XV, ou dos sevens), talvez seja a hora da Federação Portuguesa de Rugby regulamentar esta actividade, publicando regras, registando jogadores, definindo torneios, promovendo a formação de árbitros e treinadores, etc, etc.
Como pudemos constatar o “touch”, com uma enorme projecção internacional, é muito mais que um mero “exercício de aquecimento”. Estou convencido que se seguirmos a estratégia de introdução de núcleos de “touch” nos clubes (sobretudo para pais e veteranos) e nas escolas, isto poderá representar um impulso para o crescimento do râguebi tradicional, pois atrairemos de forma abrangente mais praticantes e, consequentemente, mais adeptos.