Humor a dias

A capacidade, que julgo ser inata, de nos rirmos do que se passa à nossa volta e de nós mesmos, deve ser trabalhada e incentivada desde tenra idade

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Daniel Y. Go/Flickr

No país do fado, nem tudo são lágrimas e queixumes. Na verdade, temos por cá indivíduos com um sentido de humor apuradíssimo. São pessoas observadoras, inteligentes, com espírito crítico e uma dose extra de ironia.

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No país do fado, nem tudo são lágrimas e queixumes. Na verdade, temos por cá indivíduos com um sentido de humor apuradíssimo. São pessoas observadoras, inteligentes, com espírito crítico e uma dose extra de ironia.

Existe uma prática activa de humor nos programas da manhã das rádios nacionais, na televisão, em vários espaços da imprensa e até em "stand-up-comedy", com os modernos contadores de anedotas. Admito que não acho piada a muitos destes humoristas profissionais, mas aprecio genuinamente alguns. Admiro, por exemplo, a ironia inteligente do “Inimigo Público” e a honestidade humorística do Nuno Markl.

Mas o que me importa mais, neste momento, não é falar das pessoas que fazem do humor uma profissão. O humor que quero destacar é aquele que usamos (ou devíamos usar) no quotidiano. Sou uma apologista do humor como arma do dia-a-dia. Saber encontrar motivos para rir em situações complicadas é um passo importante para as resolver ou, pelo menos, saber ultrapassá-las.

Nem todos os dias nos apetece rir, muito menos a uma segunda-feira cinzenta, chuvosa e fria (dia em que escrevo esta crónica). Além disso, socialmente não é bem aceite que nos estejamos a rir numa ocasião difícil. Porém, a capacidade de encontrarmos humor nesses momentos é muito mais produtivo e catártico do que nos limitarmos às lamúrias.

Pelas pessoas que tenho conhecido ao longo da vida, constato que aquelas que têm um sentido de humor afinado não são necessariamente melhores seres humanos, mas são, decididamente, mais inteligentes e sabem viver melhor. A capacidade, que julgo ser inata, de nos rirmos do que se passa à nossa volta e de nós mesmos, deve ser trabalhada e incentivada desde tenra idade. Em vez de se censurar a criança que faz uma piada ou dá uma gargalhada numa situação que parece despropositada, devemos, isso sim, ensiná-la a encontrar razões para usar o humor cada vez mais e melhor.

Se eu quisesse publicitar o sentido de humor, explicaria que este tem múltiplas aplicações: quebrar o gelo numa conversa, acalmar discussões, ajudar a vender algum produto ou ideia, conseguir a atenção e simpatia de pessoas difíceis, entre outras coisas. No entanto, atenção! O dom de fazer humor no quotidiano não é para todos. Há quem faça tentativas desesperadas para ter piada. São os chamados “engraçadinhos”, que quando abrem a boca produzem os efeitos contrários aos conseguidos por quem tem verdadeiro sentido de humor.

Como bónus, o sentido de humor tem outro efeito importante: é algo que atrai genuinamente as mulheres (e acredito que alguns homens). Quando as mulheres dizem que o sentido de humor é algo que as atrai num homem, isto não é um lugar-comum. De facto, nós, mulheres, gostamos de homens que nos façam rir. Um homem com sentido de humor é alguém com quem nos apetece estar e conversar, nos bons e maus momentos e que, se estiver inspirado, até nos pinta um sorriso num dia com TPM. Não será por acaso que humor rima com amor.