Dançar pela primeira vez com Derek Jarman em Londres
Filme nunca visto do realizador e artista plástico vai ser exibido no ciclo do British Film Institute que assinala dos 20 anos da sua morte. Will You Dance With Me?
Vive-se o ano Derek Jarman, ou não fosse o programa que assinala as duas décadas passadas sobre a sua morte intitulado singelamente “Jarman 2014”. Há exposições, livros, palestras e vários eventos que lembram a carreira do artista multifacetado em Londres, mas durante o ciclo que até Abril decorre no British Film Institute (BFI) em Southbank surge então o filme inédito de Jarman. Trata-se de um título de 78 minutos, registado em vídeo em 1984 numa discoteca gay na zona leste de Londres – o Benjy’s – e na banda-sonora estão os Frankie Goes to Hollywood.
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Vive-se o ano Derek Jarman, ou não fosse o programa que assinala as duas décadas passadas sobre a sua morte intitulado singelamente “Jarman 2014”. Há exposições, livros, palestras e vários eventos que lembram a carreira do artista multifacetado em Londres, mas durante o ciclo que até Abril decorre no British Film Institute (BFI) em Southbank surge então o filme inédito de Jarman. Trata-se de um título de 78 minutos, registado em vídeo em 1984 numa discoteca gay na zona leste de Londres – o Benjy’s – e na banda-sonora estão os Frankie Goes to Hollywood.
Segundo o diário britânico Guardian, o filme não está editado e é composto por registos experimentais que Jarman quis recolher para explorar as potencialidades desse então novo meio, o vídeo, e a sua câmara portátil mais leve. O jornal explica ainda que o filme é quase composto por dois planos-sequência filmados com uma Olympus VHS, uma das mais modernas câmaras da época. A ideia era avaliar o potencial da câmara de vídeo para recolher imagens de dança para um projecto de Ron Peck que se tornaria no filme Empire State (1983). Will You Dance With Me? é o resultado dessa expedição, e segundo o Guardian Peck decidiu agora dar a conhecer o filme no âmbito da retrospectiva do BFI, que será exibido a 22 de Março.
“Há qualquer coisa no próprio Derek que passa na gravação. Não é só o facto de ouvirmos a voz dele de vez em quando, mas o seu olhar. Tudo o que está no ecrã é o que ele quis lá pôr e tudo o que ele viu. É este processo dele a tentar encontrar a melhor forma de visualizar certas coisas, mas especialmente a dança”, descreve Peck sobre a importância cativante do filme inédito.
Para William Fowler, comissário do BFI, “nos 20 anos desde a sua morte”, os filmes de Jarman “não perderam nenhuma da sua relevância e continuam a ser maciçamente influentes”, escreve na apresentação do ciclo de cinema, notando ainda que “o interesse do público” no trabalho do britânico “tem aumentado substancialmente nos últimos anos”. William Fowler descreve-o ainda como um “pós-modernista”, avisando que “para os que estão famintos por algo distintivo e diferente, a sua obra ecléctica é inspiradora na sua ausência de medo, continuando contudo comoventemente pessoal”.
Por tudo isto, a experiência de ver pela primeira vez Will You Dance With Me? é descrito por Fowler ao Guardian como “fascinante” porque dá ao espectador algum conhecimento sobre como Jarman “trabalhava com as câmaras e qual era o seu sentido visual”, dançando com os homens que se entregavam à noite naquele bar londrino com o seu próprio ritmo. “Não sei onde vi dança mais bem filmada”, disse ainda Fowler, que lembra que Derek Jarman, com formação artística, acabou por produzir uma peça de “observação participante” numa situação não encenada nem dirigida.
Além do ciclo no BFI e da possibilidade de ver em streaming grande parte da sua obra, Jarman 2014 faz-se também de Pandemonium, uma exposição que abarca o universo de Jarman na sua cidade, no seu discurso político sobre a homossexualidade e sobre o cinema e as artes em geral (King's College/Somerset House até 9 de Março) e de conferências que vão discutir nas próximas semanas a obra do prolífico artista, que morreu aos 52 anos de complicações relacionadas com a sida.