Privados elogiam, mas dizem que os utentes pagam mais do que o Estado
Responsáveis dos grupos privados da saúde acreditam que, se a ADSE acabasse, recuperariam parte das receitas em seguros de saúde.
Artur Osório entende que “se ADSE acabasse, os hospitais públicos entrariam em colapso com as listas de espera” e lembra que, num cenário de fim do subsistema, o Estado não recuperaria os 3,5% que os funcionários públicos vão descontar do seu ordenado para ter acesso à ADSE, pelo que acabaria por suportar tudo só com o que recebe através dos impostos, como acontece com os restantes cidadãos. Além disso, acredita, tal como os grupos Espírito Santo Saúde e José de Mello Saúde, que muitos dos actuais beneficiários, habituados a escolher, acabariam por fazer um seguro de saúde – pelo que o sector privado recuperaria parte das receitas.
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Artur Osório entende que “se ADSE acabasse, os hospitais públicos entrariam em colapso com as listas de espera” e lembra que, num cenário de fim do subsistema, o Estado não recuperaria os 3,5% que os funcionários públicos vão descontar do seu ordenado para ter acesso à ADSE, pelo que acabaria por suportar tudo só com o que recebe através dos impostos, como acontece com os restantes cidadãos. Além disso, acredita, tal como os grupos Espírito Santo Saúde e José de Mello Saúde, que muitos dos actuais beneficiários, habituados a escolher, acabariam por fazer um seguro de saúde – pelo que o sector privado recuperaria parte das receitas.
O médico e administrador do grupo Trofa Saúde diz que, em termos globais, a ADSE representa 30% da receita total do sector privado, proporcionando “maior rapidez e qualidade” no acesso. Artur Osório garante também que “a burocracia gasta dinheiro” ao sector público de saúde. “Temos muito a louvar ao SNS, mas o sistema estacionou, não evoluiu com a sociedade. Pratica preços elevados, não admite a concorrência nem a liberdade de escolha. Enquanto uma consulta na ADSE fica por 30 euros, nos hospitais públicos o Estado paga quase 140”, exemplifica, defendendo que “a gestão é muito cuidadosa e focada no doente” e que “como as coisas estão agora a ADSE fica excedentária e dá dinheiro ao Estado”.
A ideia é corroborada pela presidente da Espírito Santo Saúde, grupo detentor de unidades como Hospital da Luz, em Lisboa. Isabel Vaz afirma que “com a ADSE as pessoas têm uma dupla cobertura, mas pagam tanto para o subsistema como através dos seus impostos para manterem o acesso ao SNS”. No seu grupo as receitas vindas deste parceiro estão em linha com os 30%. “A ADSE é muito importante para o sector privado, mas não é tudo, e o dinheiro está longe de ser só do Estado. É uma percentagem do ordenado dos trabalhadores que chega aos 70%, o que quer dizer que só os outros 30% são do Estado. Se a isso juntarmos os co-pagamentos e pagamentos directos, diria que a parte do Estado não representa nem 10% das nossas receitas”.
À semelhança de Artur Osório, Isabel Vaz entende que “o fim da ADSE seria uma grande ‘pancada’ no orçamento dos hospitais públicos”, já que “as pessoas deixariam de descontar este valor e ele perdia-se e a despesa teria de ser absorvida pelo SNS”. Questionada sobre se a ADSE, ao facilitar o acesso, não induz também o consumo de serviços de saúde desnecessários e que, nesse sentido, o impacto para o Estado seria menor do que o que apontam, a gestora assegura que “as pessoas estão menos consumistas e que a despesa está estabilizada”.
Ainda que admita que os co-pagamentos baixos podem levar a mais procura, diz que isso só acontece nas consultas, já que as intervenções são mais dispendiosas. “O facto de as pessoas irem a muitas consultas também faz com que as coisas sejam detectadas de início, quando é mais barato tratar”. Isabel Vaz adjectiva a ADSE como “a oferta mais bem balanceada do mercado” e lembra que “não é por acaso que nos CTT, com a privatização, a única coisa que os trabalhadores quiseram manter foi a ADSE”.
O presidente da José de Mello Saúde, grupo detentor dos hospitais CUF, argumenta, por seu lado, que “o tema da ADSE é notícia essencialmente por questões políticas”, dizendo que, ao fazer-se uma análise mais profunda, “percebe-se que a ADSE é para o país um sistema muito interessante, porque garante liberdade de escolha às pessoas, tem financiamento dos beneficiários e contribui para poupar dinheiro ao Estado de forma muito significativa”. Salvador de Mello diz que o subsistema é “um excelente modelo” que merecia ser alargado e afirma que “é muito mais importante para o país do que para os prestadores privados”, apontando que a ADSE “tem uma capitação em custo inferior à capitação do SNS”.
O gestor avança, aliás, que nas unidades do seu grupo o subsistema não chega a significar 10% das receitas, sendo que, ao todo, no ano passado, as unidades facturaram quase 500 milhões de euros (mais 8% do que em 2012). “A ADSE é um excelente parceiro, mas não vivemos disso. O crescimento vem da concentração nos grandes operadores de um conjunto de actividades que estavam dispersos. Temos uma quota de ADSE muito inferior à nossa quota de mercado natural, pois durante muito tempo não tivemos ADSE. Tínhamos uma estratégia diferente. A nossa estratégia eram as companhias de seguros”, sublinha.
Ainda sobre as qualidades do modelo, Salvador de Mello destaca o facto de “introduzir competitividade e concorrência no sistema, através da liberdade de escolha”. “A concorrência é indutora de eficiência e é por isso que digo que é um excelente exemplo. Mas a acontecer o fim da ADSE, nós somos empresários e estamos habituados a gerir em qualquer circunstância e teremos capacidade de adaptação às novas realidades que aparecerem”, conclui.