Merkel quer discutir rede europeia de comunicações para fugir aos EUA

Algumas agências alemãs já não confiam no email. Informação sensível viaja em papel, e a pé.

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Na Alemanha há frequentes protestos contra a vigilância da NSA Boris Roessler/AFP

As revelações sobre o grau de espionagem dos EUA através da Agência Nacional de Segurança (NSA) não param de surgir. Na Alemanha, sabe-se que não só espiaram o telemóvel de Merkel (ainda antes de ocupar a chefia do Governo) mas também o do seu antecessor, Gerhard Schröder.

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As revelações sobre o grau de espionagem dos EUA através da Agência Nacional de Segurança (NSA) não param de surgir. Na Alemanha, sabe-se que não só espiaram o telemóvel de Merkel (ainda antes de ocupar a chefia do Governo) mas também o do seu antecessor, Gerhard Schröder.

No seu podcast semanal, Merkel notou que empresas como a Google ou Facebook têm as suas operações com base em países com pouca protecção de dados, mas continuam activas noutros – como a Alemanha – com um elevado grau de protecção de dados.

A Alemanha – onde, por causa da apertada vigilância no tempo do nazismo e também da ex-RDA, há uma grande desconfiança sobre recolha de dados e muita preocupação com a privacidade – impôs alterações na política de privacidade quer à Google quer ao Facebook para respeitarem a lei alemã.

“Vamos falar com a França sobre como poderemos ter um bom nível de protecção de dados”, disse Merkel. “Sobretudo, vamos falar de fornecedores que dêem segurança aos nossos cidadãos, para que não tenhamos de enviar emails e outra informação para o outro lado do Atlântico.”

O gabinete de Hollande confirmou que a ideia já tinha sido apresentada e que França concorda com ela. “É importante que tomemos juntos a iniciativa”, disse um responsável francês citado pela Deutsche Welle.

Consumidores querem informação a salvo

Várias agências alemãs mudaram já o seu modo de trabalhar após as informações sobre a espionagem da NSA reveladas por Edward Snowden.  “Quando a versão alemã do FBI precisa de partilhar informação sensível, entrega-a via papel”, diz o correspondente em Berlim do grupo norte-americano de imprensa McClatchy, Matthew Schofield. “Há um ano, teriam confiado na segurança do email.”

Agora, a informação viaja a pé, disse Peter Henzler, o "número dois" da polícia de investigação criminal e segurança interna da Alemanha, falando num painel sobre o modo de contrariar a vigilância norte-americana.

Florian Glatzner, responsável da agência de protecção dos consumidores, disse que está a receber muitas perguntas sobre como podem assegurar que as suas comunicações e dados estejam a salvo da espionagem electrónica da NSA.

Inquéritos deram conta de mudanças no comportamento face às redes sociais: 32% disseram ter deixado o Facebook ou reduzido muito o tempo que passam na rede social por medo de serem espiados.

A ideia de ter empresas alemães a tomar conta dos dados não era bem vista, comentou Daniel Castro, analista da Information Technology & Innovation Foundation em Washington. Mas isto era o ano passado. “As empresas alemãs não queriam um produto alemão para as ajudar num mercado global, queriam o melhor produto [e esse era americano]. Mas ainda que a maioria continue a achar que é má ideia, estão a aceitá-la como uma ideia necessária”.

Thomas Kremer, membro da comissão de protecção de dados da Deutsche Telekom, comentou: “O que quer que achemos de Edward Snowden, ele criou uma consciência sobre a segurança na Internet e devíamos estar gratos por isso.”