A inovação segundo Seguro
O PS propôs que se criasse um tribunal especial para investidores vindos do estrangeiro e, a seguir, também para investidores portugueses (presumo que grandes). A ideia é inovadora e audaciosa. Primeiro, passa um atestado quase oficial de incompetência ou parcialidade à justiça indígena. Depois, proclama a sua absoluta falta de confiança nos tribunais que por aí andam e confirma as piores suspeitas da pouca gente que hoje ainda pensa meter um tostão em Portugal. O sr. Seguro não podia fazer melhor em tão pouco tempo. Agora, o cidadão comum fica em franca e óbvia desvantagem perante os ricos, lá de fora ou cá de dentro, e só lhe resta uma solução razoável: fugir depressa do país, como era, aliás, costume no século XVII (digo bem, XVII), quando havia fogueiras no Terreiro do Trigo.
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O PS propôs que se criasse um tribunal especial para investidores vindos do estrangeiro e, a seguir, também para investidores portugueses (presumo que grandes). A ideia é inovadora e audaciosa. Primeiro, passa um atestado quase oficial de incompetência ou parcialidade à justiça indígena. Depois, proclama a sua absoluta falta de confiança nos tribunais que por aí andam e confirma as piores suspeitas da pouca gente que hoje ainda pensa meter um tostão em Portugal. O sr. Seguro não podia fazer melhor em tão pouco tempo. Agora, o cidadão comum fica em franca e óbvia desvantagem perante os ricos, lá de fora ou cá de dentro, e só lhe resta uma solução razoável: fugir depressa do país, como era, aliás, costume no século XVII (digo bem, XVII), quando havia fogueiras no Terreiro do Trigo.
Não por acaso, evidentemente, em 1654 Portugal assinou o tratado de Westminster, que concedia à Inglaterra o direito de ter em Lisboa um juiz conservador da Nação Britânica, encarregado de julgar os súbditos do sacratíssimo Reino Unido e qualquer questão em que por qualquer motivo eles se vissem envolvidos. Também a França, a Espanha, a Holanda, a cidade livre de Hamburgo, ou seja, a Europa inteira, acabaram por conseguir o mesmo privilégio. Com uma extraordinária visão do futuro, o sr. Seguro reviveu estas boas práticas do século XVII, mas por enquanto não se lembrou de convidar juízes da “Europa”, da América, do Brasil e de Angola para facilitar os trabalhos da justiça; e de exigir a construção de uma cadeia moderna com boa cozinha e ar condicionado para um eventual cavalheiro obrigado a cumprir uns dias de prisão.
O que admira no PS e num velho e experimentado socialista como o sr. Seguro é que ele não levasse os seus princípios mais longe. Quem não concordaria que ele importasse o Estado social sueco, ou meia dúzia de universidades da América, ou uma centena de contabilistas da Alemanha? Não há dinheiro? Não interessa: o sr. Seguro nunca se ralou muito com isso e essas despesas seriam com certeza muito produtivas. Claro que não convém que o PS leve o seu amor pela inovação a excessos que em 2014 os próprios ricos parecem reprovar como a pena de morte ou as fogueiras de que já se falou. Deslizar brandamente para uma “normalidade sustentável”, como o Governo não se cansa de recomendar, é o objectivo principal. Mas não queremos deixar de louvar o sr. Seguro por esta lufada de ar fresco.