A viagem transatlântica das cabaças em forma de garrafa
A ubiquidade deste alimento desde os primórdios da agricultura fez os especialistas perguntarem-se como é se tinha espalhado tão depressa pelo mundo. Surfando as ondas, concluiu-se agora.
A ubiquidade das abóboras-de-carneiro (Lagenaria siceraria) em África, Ásia e na América pré-colombiana, nos primórdios da agricultura, constituía um enigma: como é que uma tal difusão da espécie tinha sido possível?
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A ubiquidade das abóboras-de-carneiro (Lagenaria siceraria) em África, Ásia e na América pré-colombiana, nos primórdios da agricultura, constituía um enigma: como é que uma tal difusão da espécie tinha sido possível?
Houve quem avançasse a ideia de que as abóboras teriam chegado de Ásia via o Estreito de Bering, transportadas pelas primeiras populações a colonizar o continente americano, escrevem Logan Kistler, da Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA), e colegas. Porém, estes autores não acharam essa hipótese muito plausível, uma vez que as abóboras são uma espécie adaptada ao clima tropical, e que não teriam provavelmente sobrevivido ao clima do Árctico.
Estes cientistas fizeram agora uma análise genética de abóboras-de-carneiro actuais e provenientes de sítios arquelógicos e desvendaram outra possível explicação.
Na realidade, escrevem ainda, as abóboras americanas derivam das africanas – e não das asiáticas, como se pensava até aqui.
Para mais, a simulação das correntes oceânicas do Atlântico naquela altura sugere que essas correntes poderão ter levado as abóboras a flutuar de um continente para o outro em menos de um ano – permitindo assim a germinação das suas sementes quando deram à costa americana.
A história faz lembrar aquele carregamento de dezenas de milhares de patinhos de plástico e outros coloridos brinquedos, perdido no Pacífico em 1992 quando o barco que o transportava se afundou, e que se espalhou pelos oceanos do mundo – com patinhos amarelos a darem à costa no Reino Unido e Irlanda uns 15 anos depois...
Já no Novo Mundo, especulam ainda os autores, as sementes das abóboras poderão ter sido espalhadas por todo o continente americano nos excrementos dos grandes mamíferos herbívoros. E mais tarde, as abóboras terão sido domesticadas pelos primeiros agricultores humanos.