A vivacidade da rádio
Dia 13 de Fevereiro é, uma vez mais, o Dia Mundial da Rádio. Tu, tal como eu, podes falar à estação pública sobre o que mais te emociona, fascina, atrai, move com o poder da rádio
Sabendo que vamos morrer, parecemos adorar passar certidões de óbito às coisas que nos circundam, como quem quer garantir que nada é mais poderoso que a nossa própria vida. Talvez por isso tenham alguns profetas do apocalipse lutado por argumentar o desaparecimento de alguns media. Diziam que a televisão ia matar o cinema e enganaram-se. Dizem que os jornais e os livros serão assassinados pela internet e enganar-se-ão – a História prova-o. E diziam que a TV ia matar a rádio, mas, mais que nunca, também se enganaram.
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Sabendo que vamos morrer, parecemos adorar passar certidões de óbito às coisas que nos circundam, como quem quer garantir que nada é mais poderoso que a nossa própria vida. Talvez por isso tenham alguns profetas do apocalipse lutado por argumentar o desaparecimento de alguns media. Diziam que a televisão ia matar o cinema e enganaram-se. Dizem que os jornais e os livros serão assassinados pela internet e enganar-se-ão – a História prova-o. E diziam que a TV ia matar a rádio, mas, mais que nunca, também se enganaram.
Além dos intermináveis debates que se mantêm nas salas da faculdade sobre a temática, uma das primeiras vezes em que compreendi o verdadeiro poder da nada moribunda rádio aconteceu no final de 2011. Ao longo de uma semana, para uma reportagem jornalística, visitei três estúdios de rádio para assistir à emissão das manhãs: Antena 3, Comercial e Renascença. Cada qual com o seu espírito próprio, todas me encantaram. Pela simplicidade como se desenvolvem as conversas (que, sim, são preparadas, mas também, de certo modo, improvisadas), pela gargalhada alegre e genuína e, acima de tudo o resto, pelo calor com que os radialistas se entregam a quem os admira. Seja à distância de um microfone, de uma rede social ou de uma conversa olhos nos olhos.
Seriam precisas demasiadas crónicas para falar convenientemente dos minutos passados com Pedro Ribeiro e Nuno Markl (ídolos da adolescência, permitam-me confessá-lo), Vanda Miranda, Vasco Palmeirim, Diogo Beja, Inês Lopes Gonçalves e os meus não menos queridos ex-colegas Paulino Coelho e Isabel Pereira. Mas se há lição que aprendi, pese embora o sono com que se está às sete da matina, foi a de que os radialistas são hoje estrelas sem tiques de vedeta. Porque possuem uma notoriedade fora do comum sem se deixarem esmagar pelo tamanho que têm vindo a alcançar. Como estes que nomeio, consigo identificar esse carinho pelo ouvinte em muitos dos outros que se dedicaram à paixão de sempre pela rádio.
Os radialistas, ainda assim, nada seriam sem nós, os ouvintes. E nós, os ouvintes, adoramos a rádio. A rádio impede-nos de enlouquecer. Não nos dá apenas música. Essa seria facilmente descoberta num Spotify ou num qualquer disco poeirento da prateleira. A rádio entretém. Anima. Porque vive da boca humana, da garganta, do respirar antes da primeira frase. Na rádio, quase vale mais a palavra e a voz que as melodias. São todas as vozes que nos recordam que somos, afinal, humanos. Admiro, por isto, e por muito mais, o vigor encontrado nas salas onde se mantêm conversas capazes de arrancar gargalhadas a quilómetros de distância, nos carros, nas casas, nas vidas. Dizem que é um bichinho, o da rádio, mas eu acho que é um monstro. Daqueles bonzinhos, desenho animado ao estilo do “Monsters, Inc.”, que nos fazem sorrir do quão gigantes e desproporcionalmente divertidos são.
Dia 13 de Fevereiro é, uma vez mais, o Dia Mundial da Rádio. Tu, tal como eu, podes falar à estação pública sobre o que mais te emociona, fascina, atrai, move com o poder da rádio. Fá-lo aqui e nunca desligues o botão.