UE avisa que voto suíço contra livre circulação de cidadãos europeus "terá consequências"
"A Suíça fechada sobre si mesma, vai ser penalizada", avisou o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, antecipando uma renegociação do acordo entre Bruxelas e a Confederação Helvética
"Não podemos deixar passar" o resultado da votação, afirmou Didier Reynders, ministro belga dos Negócios Estrangeiros, pouco antes do arranque de uma reunião dos seus pares da UE, em Bruxelas.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
"Não podemos deixar passar" o resultado da votação, afirmou Didier Reynders, ministro belga dos Negócios Estrangeiros, pouco antes do arranque de uma reunião dos seus pares da UE, em Bruxelas.
A Comissão Europeia, o órgão executivo da UE, reiterou nesta segunda-feira que vai examinar as implicações da votação sobre a totalidade das relações entre o bloco e a Suíça, deixando implícito que o resultado do referendo poderá resultar numa restrição do seu acesso ao mercado interno europeu.
A Confederação Helvética não é membro da UE mas beneficia desde 1999 de um acesso alargado ao mercado interno comunitário, no quadro de um vasto acordo que implicou a integração na legislação interna de uma boa parte do direito comunitário, incluindo no que se refere às quatro liberdades de circulação: cidadãos, mercadorias, capitais e serviços.
"A livre circulação de cidadãos é parte integrante" do acordo entre a UE e a Suíça, por isso "não podemos aceitar restrições como aquela que foi votada no domingo sem que isso tenha uma implicação sobre os acordos que temos com a Suíça, como está aliás previsto nesses acordos", disse a porta-voz da Comissão Europeia, Pia Ahrenkilde-Hansen.
O voto "vai ter consequências, isso é claro", avisou Jean Asselborn, chefe da diplomacia do Luxemburgo, considerando que "não se pode ter por um lado um acesso privilegiado ao mercado interno da UE e por outro, diluir a livre circulação, as duas [vertentes] estão ligadas".
"O mercado interno não é um queijo suíço, não se pode ter um mercado interno com buracos", dissera logo no domingo Viviane Reding, comissária europeia responsável pela justiça.
"Vamos rever as nossas relações com a Suíça", disse igualmente o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, lembrando que o acordo com Berna contém uma cláusula de "guilhotina" segundo a qual se um dos seus elementos essenciais for posto em causa, "cai tudo", o que quer dizer que vai ser preciso "renegociar" a sua totalidade.
"Para mim, é uma má notícia tanto para a Europa como para os suíços, porque a Suíça fechada sobre si mesma, vai ser penalizada" tanto mais que "sozinha não representa uma potência ecocómica considerável", disse ainda Fabius, lembrando que o país realiza 60% do seu comércio externo com os países da UE.
Por 50,3% dos votos, os suíços responderam positivamente à questão suscitada pelo Partido do Povo Suiço – da direita populista e nacionalista – relativa à limitação da imigração originária dos países da UE, o que suscitou o entusiasmo dos partidos da extrema-direita em toda a Europa.
O voto obriga o Governo suíço a negociar com a UE durante os próximos 3 anos a instituição de contingentes de imigrantes autorizados a entrar no país. "O líder desta ideia tem talvez muito dinheiro mas penso que também tem vistas curtas" e "está em muito boa companhia" com o resto da extrema-direita europeia, ironizou o ministro luxemburguês.