Mortes expectáveis diminuíram 30% nos hospitais entre 2005 e 2012
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra lidera ranking dos hospitais públicos pela primeira vez. São João passa para o segundo lugar e Santa Maria continua na terceira posição no estudo da Escola Nacional de Saúde Pública.
Os números continuam a ser positivos na última edição do ranking, que este sábado é divulgado e que mais uma vez promete desencadear polémica. Usando apenas os resultados associados a este indicador, em 2012 a melhoria nas mortes evitáveis foi de 4,4%, “pelo que parece não ter existido nenhum impacte da crise sobre a qualidade dos cuidados prestados no internamento”, pelo menos por enquanto, sustenta Carlos Costa. Um resultado diferente seria inesperado. “Os impactos das crises não são automáticos”, nota (ver entrevista).
Ter qualidade significa ter menos mortes do que as esperadas, mas também menos complicações e menos readmissões, os três indicadores avaliados nesta estudo que em 2012 abrangeu 41 unidades hospitalares do continente e 870.631 episódios de internamento (as urgências e as consultas externas não são estudadas). O objectivo é o mesmo de sempre: perceber se os hospitais estão a fazer “as coisas bem feitas” e, dito de uma forma muito básica, se os doentes saem de lá melhor do que entraram. O que fica no segredo os deuses é a lista dos piores classificados, porque o ranking global inclui apenas os dez melhores.
Em 2012, a novidade é a conquista do primeiro lugar pelo Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), que, apesar de ter permanecido sempre no topo desde 2005, nunca tinha liderado o pódio. O segundo e o terceiro lugares são ocupados pelos outros grandes centros hospitalares do país – o de São João (no Porto) e o de Lisboa Norte (Santa Maria e Pulido Valente). “O ranking não tem variado muito, há trocas de posições”, sintetiza o coordenador do estudo. Nada que não fosse de esperar: “Nos EUA os hospitais também vão trocando posições, mas os da frente são quase sempre os mesmos”.
“Os três grandes hospitais universitários são unidades de grande complexidade e capacidade de inovação e, portanto, alternam entre si os lugares cimeiros”, corrobora José Martins Nunes, que preside ao conselho de administração do CHUC. Martins Nunes tem razões de sobra para estar satisfeito: além do primeiro lugar no ranking global, o CHUC surge na liderança na qualidade do tratamento em vários grupos de patologias – doenças neoplásicas, respiratórias, digestivas, endócrinas e metabólicas, além das ginecológicas e obstétricas. Para os mais curiosos, a avaliação, que vai ficar disponível a partir de segunda-feira no site da Escola Nacional de Saúde Pública, inclui rankings das cinco melhores unidades hospitalares em 17 agrupamentos de doenças.
Martins Nunes acredita que o apelo feito aos profissionais para continuarem a melhorar os parâmetros de qualidade e o processo de fusão do centro hospitalar (que foi criado em 2011 e progressivamente integrou sete unidades de Coimbra, incluindo o hospital psiquiátrico e duas maternidades) foram determinantes para a subida no pódio.“Foi a fusão mais complexa e difícil alguma vez feita em Portugal. De 80 serviços clínicos passámos para 47, as camas diminuíram mas a produção mantém-se estável há cinco anos”, enumera Martins Nunes, que acredita que o CHUC atingirá o equilíbrio financeiro em 2015.
“Acho que não fomos nós que piorámos mas sim os outros que melhoraram. São variações de pequenos factores”, observa Margarida Tavares, a directora clínica do Centro Hospitalar de São João, a unidade do Porto que durante mais anos (cinco) liderou este ranking (em 2007 e 2008 o primeiro lugar foi ocupado pelo Centro Hospitalar de Lisboa Norte). Em 2012 o São João é o primeiro na mortalidade e destaca-se ainda por ser o melhor no tratamento das patologias cardíacas e vasculares, pediátricas e doenças do sangue.
Fusão pode ter influenciado
Sem querer retirar o mérito ao CHUC, Margarida Tavares pondera que a fusão de várias unidades neste centro pode ter condicionado o resultado final. “Não estamos a comparar as mesmas unidades, algumas sofreram modificações”, lembra a directora clínica do São João, que é também um megacentro hospitalar, com cerca de 5600 funcionários . “Estamos todos de parabéns e esta pequena competição é boa”, remata.
Quanto ao Centro Hospitalar de Lisboa Norte, cujos responsáveis não quiseram comentar os resultados antes da divulgação pública do estudo, por agrupamentos de patologias este é o melhor no tratamento das doenças dos rins e aparelho urinário.
De resto, em 2012 o Centro Hospitalar de Lisboa Central (inclui o hospital de S. José), que nos primeiros rankings não aparecia, passa do sexto para o quarto lugar, enquanto o Centro Hospitalar do Porto (Santo António) conquista a quinta posição (em 2011 não surgia entre os dez primeiros). O Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental sobe para o sexto lugar (estava no décimo em 2011) e o Centro Hospitalar Tondela-Viseu desce da quarta para a sétima posição.
Na base do “top ten” mantém-se o Centro Hospitalar da Cova da Beira (oitavo lugar), enquanto a Unidade Local de Saúde de Matosinhos passa da sétima para a nona posição e o Centro Hospitalar de Leiria-Pombal desce de quinto para o último degrau do pódio.
Desvalorizado por vários especialistas (ver textos sobre doenças), o ranking tem limitações reconhecidas pelo próprio coordenador. Além de não incluir as urgências e as consulta externas, não avalia a acessibilidade (como os tempos de espera) nem a situação financeira dos hospitais. Ainda assim, “por muito que digam [os críticos], esta é uma boa prática de avaliação do internamento hospitalar e é feita em todo o mundo”, defende Carlos Costa, lembrando que aos dados estão ajustados pelo risco.
“Este tipo de avaliação tem limitações que acabam por afectar os resultados, mas como instrumento de trabalho é positivo”, considera também Marta Temido, presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, que sublinha que “não será por acaso que os resultados têm sido consistentes” ao longo dos anos.
Marta Temido acredita, porém, que o ranking serve mais para os gestores na área da saúde do que propriamente para os doentes, uma vez que estes não podem escolher o hospital onde são tratados. “Acaba por alimentar o prestígio de algumas instituições e o ego de alguns profissionais. Ao menos que haja este reconhecimento”, conclui.
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Os números continuam a ser positivos na última edição do ranking, que este sábado é divulgado e que mais uma vez promete desencadear polémica. Usando apenas os resultados associados a este indicador, em 2012 a melhoria nas mortes evitáveis foi de 4,4%, “pelo que parece não ter existido nenhum impacte da crise sobre a qualidade dos cuidados prestados no internamento”, pelo menos por enquanto, sustenta Carlos Costa. Um resultado diferente seria inesperado. “Os impactos das crises não são automáticos”, nota (ver entrevista).
Ter qualidade significa ter menos mortes do que as esperadas, mas também menos complicações e menos readmissões, os três indicadores avaliados nesta estudo que em 2012 abrangeu 41 unidades hospitalares do continente e 870.631 episódios de internamento (as urgências e as consultas externas não são estudadas). O objectivo é o mesmo de sempre: perceber se os hospitais estão a fazer “as coisas bem feitas” e, dito de uma forma muito básica, se os doentes saem de lá melhor do que entraram. O que fica no segredo os deuses é a lista dos piores classificados, porque o ranking global inclui apenas os dez melhores.
Em 2012, a novidade é a conquista do primeiro lugar pelo Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), que, apesar de ter permanecido sempre no topo desde 2005, nunca tinha liderado o pódio. O segundo e o terceiro lugares são ocupados pelos outros grandes centros hospitalares do país – o de São João (no Porto) e o de Lisboa Norte (Santa Maria e Pulido Valente). “O ranking não tem variado muito, há trocas de posições”, sintetiza o coordenador do estudo. Nada que não fosse de esperar: “Nos EUA os hospitais também vão trocando posições, mas os da frente são quase sempre os mesmos”.
“Os três grandes hospitais universitários são unidades de grande complexidade e capacidade de inovação e, portanto, alternam entre si os lugares cimeiros”, corrobora José Martins Nunes, que preside ao conselho de administração do CHUC. Martins Nunes tem razões de sobra para estar satisfeito: além do primeiro lugar no ranking global, o CHUC surge na liderança na qualidade do tratamento em vários grupos de patologias – doenças neoplásicas, respiratórias, digestivas, endócrinas e metabólicas, além das ginecológicas e obstétricas. Para os mais curiosos, a avaliação, que vai ficar disponível a partir de segunda-feira no site da Escola Nacional de Saúde Pública, inclui rankings das cinco melhores unidades hospitalares em 17 agrupamentos de doenças.
Martins Nunes acredita que o apelo feito aos profissionais para continuarem a melhorar os parâmetros de qualidade e o processo de fusão do centro hospitalar (que foi criado em 2011 e progressivamente integrou sete unidades de Coimbra, incluindo o hospital psiquiátrico e duas maternidades) foram determinantes para a subida no pódio.“Foi a fusão mais complexa e difícil alguma vez feita em Portugal. De 80 serviços clínicos passámos para 47, as camas diminuíram mas a produção mantém-se estável há cinco anos”, enumera Martins Nunes, que acredita que o CHUC atingirá o equilíbrio financeiro em 2015.
“Acho que não fomos nós que piorámos mas sim os outros que melhoraram. São variações de pequenos factores”, observa Margarida Tavares, a directora clínica do Centro Hospitalar de São João, a unidade do Porto que durante mais anos (cinco) liderou este ranking (em 2007 e 2008 o primeiro lugar foi ocupado pelo Centro Hospitalar de Lisboa Norte). Em 2012 o São João é o primeiro na mortalidade e destaca-se ainda por ser o melhor no tratamento das patologias cardíacas e vasculares, pediátricas e doenças do sangue.
Fusão pode ter influenciado
Sem querer retirar o mérito ao CHUC, Margarida Tavares pondera que a fusão de várias unidades neste centro pode ter condicionado o resultado final. “Não estamos a comparar as mesmas unidades, algumas sofreram modificações”, lembra a directora clínica do São João, que é também um megacentro hospitalar, com cerca de 5600 funcionários . “Estamos todos de parabéns e esta pequena competição é boa”, remata.
Quanto ao Centro Hospitalar de Lisboa Norte, cujos responsáveis não quiseram comentar os resultados antes da divulgação pública do estudo, por agrupamentos de patologias este é o melhor no tratamento das doenças dos rins e aparelho urinário.
De resto, em 2012 o Centro Hospitalar de Lisboa Central (inclui o hospital de S. José), que nos primeiros rankings não aparecia, passa do sexto para o quarto lugar, enquanto o Centro Hospitalar do Porto (Santo António) conquista a quinta posição (em 2011 não surgia entre os dez primeiros). O Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental sobe para o sexto lugar (estava no décimo em 2011) e o Centro Hospitalar Tondela-Viseu desce da quarta para a sétima posição.
Na base do “top ten” mantém-se o Centro Hospitalar da Cova da Beira (oitavo lugar), enquanto a Unidade Local de Saúde de Matosinhos passa da sétima para a nona posição e o Centro Hospitalar de Leiria-Pombal desce de quinto para o último degrau do pódio.
Desvalorizado por vários especialistas (ver textos sobre doenças), o ranking tem limitações reconhecidas pelo próprio coordenador. Além de não incluir as urgências e as consulta externas, não avalia a acessibilidade (como os tempos de espera) nem a situação financeira dos hospitais. Ainda assim, “por muito que digam [os críticos], esta é uma boa prática de avaliação do internamento hospitalar e é feita em todo o mundo”, defende Carlos Costa, lembrando que aos dados estão ajustados pelo risco.
“Este tipo de avaliação tem limitações que acabam por afectar os resultados, mas como instrumento de trabalho é positivo”, considera também Marta Temido, presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, que sublinha que “não será por acaso que os resultados têm sido consistentes” ao longo dos anos.
Marta Temido acredita, porém, que o ranking serve mais para os gestores na área da saúde do que propriamente para os doentes, uma vez que estes não podem escolher o hospital onde são tratados. “Acaba por alimentar o prestígio de algumas instituições e o ego de alguns profissionais. Ao menos que haja este reconhecimento”, conclui.