Trégua na guerra tira crianças, mulheres e idosos de um dos infernos da Síria

Primeiros autocarros levaram 80 pessoas de Homs. ONU espera retirar 200 civis até domingo, dos cerca de 2500 que estão cercados há um ano e meio.

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Várias dezenas de pessoas dirigem-se para o comboio humanitário das Nações Unidas Yazan Homsy/Reuters

No primeiro de três dias de uma frágil trégua, seis autocarros e seis ambulâncias chegaram às imediações da cidade de Homs, escoltados por três veículos das Nações Unidas, para retirarem pelo menos 80 pessoas, a maioria crianças e idosos – uma ínfima parte dos cerca de 2500 civis cercados há um ano e meio pelas forças de Bashar al-Assad.

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No primeiro de três dias de uma frágil trégua, seis autocarros e seis ambulâncias chegaram às imediações da cidade de Homs, escoltados por três veículos das Nações Unidas, para retirarem pelo menos 80 pessoas, a maioria crianças e idosos – uma ínfima parte dos cerca de 2500 civis cercados há um ano e meio pelas forças de Bashar al-Assad.

Até domingo, as Nações Unidas e o Crescente Vermelho esperam retirar 200 civis e fazer chegar alguma ajuda humanitária aos que lá ficarem quando os tiros e as explosões voltarem a fazer parte do quotidiano – já na próxima segunda-feira, dia em que começa também a segunda ronda de negociações em Genebra, que contará com a presença de representantes do Governo de Assad.

A televisão estatal síria mostrou a chegada do comboio humanitário, que não passou de uma das ruas controladas pelas tropas do regime, no mosaico de batalhas pelo poder militar que é a cidade de Homs. Para chegarem aos autocarros e à assistência do pessoal médico do Crescente Vermelho, dezenas de civis tiveram de percorrer a pé cerca de 200 metros, carregados com tudo o que conseguiam levar.

As 80 pessoas que garantiram nesta sexta-feira um bilhete para saírem de uma das zonas mais massacradas pela guerra na Síria, e muitas outras dezenas que aguardam a sua vez, receberam uma refeição quente e água e foram assistidas por médicos, conta o correspondente da BBC Assaf Abboud. O problema é que ninguém sabe muito bem para onde vão.

As autoridades locais afectas ao regime dizem que poderão escolher os seus próprios destinos, mas um activista da oposição ouvido pela agência Reuters garante que serão levados para Al-Waar, um bairro na zona noroeste de Homs que continuou a ser bombardeado nesta sexta-feira, apesar do cessar-fogo. "Estamos muito preocupados com a hipótese de algumas das pessoas que chegarem hoje [sexta-feira] a Waar sejam detidas pelo regime mais tarde", disse Hassan Abu al-Zain, porta-voz da Coligação da Juventude Revolucionária de Homs.

"Ainda ontem [quinta-feira], o regime bombardeou a Cidade Velha e nesta manhã [de sexta-feira] bombardeou Waar, precisamente o mesmo sítio para onde estão a levar estas pessoas", acusou.

O governador de Homs, Talal al-Barazi – que desenhou esta operação em conjunto com a ONU –, disse à televisão estatal síria que as autoridades prepararam "centros de acolhimento" para os civis, mas garantiu que eles são livres de seguirem o seu próprio destino. "Esperamos que este primeiro passo seja bem-sucedido e que assim continue amanhã, depois de amanhã e daí em diante", disse o mesmo responsável.

Seja como for, esta foi a primeira vez que o Crescente Vermelho teve acesso ao centro de Homs desde o início do cerco à cidade pelas tropas de Bashar al-Assad, em Junho de 2012. Desde então, milhares de civis vivem encurralados em áreas controladas pelos rebeldes, na cidade que já foi conhecida como a "capital da revolução". Em Homs, morre-se de fome, têm alertado as Nações Unidas, os EUA e várias organizações não-governamentais; em Homs, as bombas do regime caem todos os dias, tal como em Alepo, no Norte do país.

As imagens transmitidas nesta sexta-feira pela televisão estatal síria revelaram o que a mesa de negociações já tinha determinado: de Homs só saem crianças, mulheres e idosos; para os adolescentes com mais de 15 anos e homens com menos de 55, o processo é muito mais complicado. Para terem uma oportunidade de escapar à violência, terão de se registar e "regularizar a sua situação", o que é outra forma de dizer "rendição às tropas governamentais", escreve a Al-Jazira, a partir de testemunhos recolhidos no local entre activistas da oposição.

Mas se a operação de retirada de civis começou na data prevista – e parece estar a decorrer da forma planeada –, a chegada de ajuda humanitária ao centro da cidade está a ser dificultada por questões de segurança. Uma equipa do Programa Alimentar Mundial está pronta a entrar com alimentos suficientes para atenuar a fome de 2500 pessoas durante um mês, mas a operação foi adiada de sexta-feira para sábado.

Farhan Haq, um dos porta-vozes do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse apenas que as equipas estão "prontas para entregar a ajuda humanitária assim que as partes envolvidas derem luz verde para uma entrada em segurança".