O amor de Ira Sachs é uma coisa estranha (e comovente)

Love Is Strange, melodrama sobre a velhice com um John Lithgow imperial, é a primeira grande fita do festival de Berlim.

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Vindo do festival de Sundance, Love Is Strange (Panorama), do americano Ira Sachs, é um desses filmes, que antes de ser visto corre o risco de ser enfiado na gaveta do "problema social", do "cinema queer" ou do "filme gay", mas que precisa apenas de nos sentar à frente do ecrã para nos comover com a sua história. Sim, os seus "heróis" são um casal gay na casa dos 60/70, que partilham vida há 40 anos e se casaram finalmente - mas não é o casamento nem a homossexualidade que interessam a Ira Sachs. Antes a velhice, e o amor. Porque, de repente, Ben e George precisam de vender o apartamento nova-iorquino onde fizeram a sua vida e, enquanto não encontram outro, vêem-se obrigados a viver com amigos e família - e cada um para seu lado, que o preço das rendas em Nova Iorque não é barato e o espaço não abunda.

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Vindo do festival de Sundance, Love Is Strange (Panorama), do americano Ira Sachs, é um desses filmes, que antes de ser visto corre o risco de ser enfiado na gaveta do "problema social", do "cinema queer" ou do "filme gay", mas que precisa apenas de nos sentar à frente do ecrã para nos comover com a sua história. Sim, os seus "heróis" são um casal gay na casa dos 60/70, que partilham vida há 40 anos e se casaram finalmente - mas não é o casamento nem a homossexualidade que interessam a Ira Sachs. Antes a velhice, e o amor. Porque, de repente, Ben e George precisam de vender o apartamento nova-iorquino onde fizeram a sua vida e, enquanto não encontram outro, vêem-se obrigados a viver com amigos e família - e cada um para seu lado, que o preço das rendas em Nova Iorque não é barato e o espaço não abunda.

Nesse movimento, Love Is Strange torna-se num melodrama de sublime contenção sobre o envelhecimento, ao som dos nocturnos de Chopin, com a câmara sempre focada nos seus maravilhosos actores. Que o casal seja interpretado por John Lithgow e Alfred Molina é a primeira mais-valia (Lithgow, então, tem aqui o papel de uma vida). Que junto a eles esteja a demasiado rara Marisa Tomei, impecável no papel de uma sobrinha com problemas familiares, apenas sublinha como Sachs está mais interessado em trabalhar a humanidade e a emoção de gente normal que percebe de repente como o tempo passou. E que se pergunta se foi o mundo que os deixou para trás, ou se foram eles que se deixaram ficar para trás.

Mas Love Is Strange, apesar de ser uma pequena obra-prima de câmara, é o tipo de filme de que o "mercado" (português, mas não só) pouco quer saber. Que, provavelmente, só vamos poder ver em festivais (como o anterior filme de Sachs, Keep the Lights On, que venceu o Queer Lisboa em 2012), mas que merecia melhor sorte. Até agora, nenhum distribuidor o comprou; face ao modo como a exibição portuguesa está cada vez mais formatada e limitada, talvez seja melhor assim. Um filme como Love Is Strange não se distribui por negócio, mas sim por paixão e fé no cinema - coisa que muito pouca gente parece ter hoje em dia.