Lucca, uma história de encantar em plena Toscânia
Alguma coisa acontece no coração quando as muralhas surgem na paisagem, a proteger uma cidade onde todos os ângulos parecem ser os ideais para a melhor fotografia do mundo
Já se sabe que a Itália seduz e que a Toscânia é uma surpresa a cada quilómetro, por muito turista que se encontre a virar as esquinas de Florença ou nas contra curvas de Siena. Na estrada entre Florença e Pisa há, no entanto, um tesouro chamado Lucca. Um local que nos faz acreditar que a vida ainda é bela.
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Já se sabe que a Itália seduz e que a Toscânia é uma surpresa a cada quilómetro, por muito turista que se encontre a virar as esquinas de Florença ou nas contra curvas de Siena. Na estrada entre Florença e Pisa há, no entanto, um tesouro chamado Lucca. Um local que nos faz acreditar que a vida ainda é bela.
O mesmo trajecto guarda outros encantos como as termas romanas de Montecatini ou o monumento dedicado aos soldados brasileiros mortos na II Guerra Mundial, o Monumento Votivo Brasileiro, em Pistóia. É difícil não nos perdermos nas vinhas da Toscânia, não passar horas nas grandes quintas, onde as “mammas” entregam de sorriso nos lábios um copo de Brunello de Montalcino, servido em cima de uma toalha com quadrados vermelhos e brancos, acompanhado de uma “bruschetta” acabadinha de sair do forno e daquela paisagem onde parece ser eternamente Verão.
Chegaremos a Lucca ao final da tarde. As muralhas são visíveis desde longe, na estrada, e lá dentro encontraremos o refúgio perfeito. A Trattoria Da Vasco chama-nos para jantar, mesmo no centro histórico. Um spaghetti al pomodoro, um Chianti, um tiramisù, a Bella Notte e não seremos mais do que sonhadores debaixo das estrelas.
Embora nos vá apetecer ficar em Lucca a vida toda, três dias são o suficiente para conhecermos a cidade e nos sentirmos locais. Com muito menos turistas do que as suas colegas toscanas, Lucca guarda todo o seu encanto dentro dos muros.
Aí, a vida corre diariamente sobre duas rodas. A bicicleta é o modo preferido de os italianos se deslocarem pela encruzilhada das antigas ruas medievais, que são ainda as principais, e que estão hoje repletas de comércio tradicional. A prová-lo, muitas das lojas de Lucca têm ainda o nome dos seus centenários proprietários, como os Ghillardi ou os Franchinni.
A vontade de pegar numa bicicleta e fazer como eles pode ser concretizada facilmente. Numa das principais entradas dos muros, a Chronò oferece a possibilidade de nos sentirmos como um verdadeiro “luchese”. Em cima do único veículo permitido em quase todo o centro, cruzaremos a Via Fillungo em direção à Piazza dell’Anfiteatro, onde o antigo coliseu foi transformado numa das praças principais.
Chegar aí pelas oito da manhã de um dia da semana é uma experiência inesquecível. Sentarmo-nos num dos bancos da praça e sentir a cidade a acordar para mais um dia. O que é fascinante em Lucca é a ideia de que todo aquele ritmo, desde a florista a receber as flores de braços abertos, o carteiro a deixar as cartas na soleira das portas, as esplanadas com os seus guarda-sóis abertos, à espera do primeiro Aperol Spritz do dia, os pais a deixarem as crianças num colégio ali mesmo… é muito genuíno. Não existe um prolongamento forçado dos hábitos para enternecer turistas. Ali, é mesmo assim que se continua a viver. Parece que foi encontrada a fórmula perfeita do dia-a-dia e não há razão para grandes alterações.
Lucca viu nascer Giacommo Puccini, recebeu Dante Alighieri no seu exílio e está ligada a um sem fim de pintores, escritores, compositores e poetas. A Catedral da cidade e a Igreja de São Miguel devem constar de qualquer roteiro. Uma subida à Torre Guinigi é o programa perfeito para a despedida. Lá de cima, de todo o emaranhado de ruas sobressaem as vozes exclamadas dos italianos, debruçados em janelas com roupa a secar.
O último passeio de bicicleta pelas muralhas mostra uma cidade habitada em pleno. Aproveitando a grande largura dos muros, todos os finais de tarde estes enchem-se de pessoas a correr, a passear, a andar de bicicleta ou simplesmente a contemplar as centenárias árvores do jardim botânico.
Custa vir embora de Lucca. Porém, é mesmo assim: os sonhos não duram para sempre e já serve de consolo saber que, ao contrário dos contos, não existe um The End pendurado num dos grandes portões da cidade. Definitivamente, Lucca é um “to be continued”…