Antigo Guarda Vermelho chinês pede perdão às suas vítimas
"À medida que fui envelhecendo fui percebendo mais profundamente os pecados da Revolução Cultural", escreveu Liu Boqin.
“Eu era um ingénuo, facilmente impressionável, e nunca distingui o bem do mal”, diz Liu Boqin que também escreveu ao editor da Yanhuang Chunqiu. Um gesto quase inédito mas cheio de significado, disse o professor de História da Universidade de Shangai, Zhu Xueqin: “Recorda-nos que é necessário escavar fundo para se entender o que causou a Revolução Cultural”.
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“Eu era um ingénuo, facilmente impressionável, e nunca distingui o bem do mal”, diz Liu Boqin que também escreveu ao editor da Yanhuang Chunqiu. Um gesto quase inédito mas cheio de significado, disse o professor de História da Universidade de Shangai, Zhu Xueqin: “Recorda-nos que é necessário escavar fundo para se entender o que causou a Revolução Cultural”.
“À medida que fui envelhecendo fui percebendo mais profundamente os pecados da Revolução Cultural. Não posso esquecer o mal que fiz”, diz Liu. “Quero pedir perdão a todas as vítimas e às suas famílias e espero conseguir algum alívio mental”.
Em declarações ao South China Morning Post, um jornal de Hong Kong, o professor Zhu Xueqin diz que é significativo que este pedido de perdão surja neste momento da China. Nas últimas três décadas de reforma económica, diz o jornal, houve momentos “cruciais” para o país em que se discutiu as repercurssões desastrosas da Revolução Cultural de Mao.
A Revolução Cultural foi uma campanha político-ideológica para neutralizar a oposição e as críticas que emergiram depois do fracasso do Grande Salto em Frente, o programa que pretendia, num muito curto espaço de tempo, industrializar o país rural. Os efeitos do Salto (1958-61) mataram milhões de pessoas devido à fome generalizada.
A herança de Mao está mal digerida na China. Se por um lado a tendência maoísta (os métodos e a propaganda) de Bo Xilai [um alto dirigente comunista acusado de corrupção] foi usada contra ele, por outro o Presidente Xi Jinping foi criticado por alguns liberais ao dizer que a abertura económica não significava a refutação de Mao e dos seus princípios.
Na sua carta, Liu conta que é de Jinan, a capital da província de Shandong. A sua família vivia no complexo do Comité Consultivo do Partido Comunista da província e ele andava na escola secundária no início da Revolução Cultural. Anos depois de ter sido Guarda Vermelho, Liu procurou as famílias das pessoas que perseguiu e pediu desculpa, tendo sido perdoado. A sua carta menciona nove pessoas.
A revista usou a sua conta no Weibo (o Twitter chinês) para divulgar a iniciativa de Liu e rapidamente teve 1179 partilhas e 205 comentários.
Não foi a primeira vez que a revista publicou pedidos de desculpas ou confissões de antigos Guardas Vermelhos. Em 2010, Wang Jiyu publicou um artigo contando que espancou uma pessoa até à morte durante a Revolução Cultural.