Desemprego: ele parte, outro parte, …
Os dados do desemprego, do último trimestre de 2013, do INE, são surpreendentes e curiosos. Surpreendentes para todos. A começar pelo Governo. Ainda em Outubro, na sua proposta orçamental, a estimativa tinha subido de 16,4 para 17,4%.
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Os dados do desemprego, do último trimestre de 2013, do INE, são surpreendentes e curiosos. Surpreendentes para todos. A começar pelo Governo. Ainda em Outubro, na sua proposta orçamental, a estimativa tinha subido de 16,4 para 17,4%.
O desemprego agravou-se em 2013, mas menos que o esperado. A taxa subiu 0,6 pp, atingindo 16,3%. Mais 16 mil desempregados, contra a destruição de 120 mil postos de trabalho.
A diferença anterior, entre as evoluções do desemprego e do emprego, tem sido uma constante. Desde o segundo trimestre de 2011, Portugal tem mais 138 mil desempregados, mas destruiu 513 mil empregos. A explicação destes 377 mil de diferença está sobretudo na emigração.
Os dados indiciam agora que a destruição do aparelho produtivo bateu no fundo. Desde a crise, destruíram-se quase 700 mil postos de trabalho. A sazonalidade, porém, já tinha, na Primavera e Verão passados, criado empregos. Neste último trimestre, há um arrefecimento, mas não agravamento. A variação, em cadeia, do emprego e do desemprego, foi ínfima, abaixo da dezena de milhares. Já o próprio IEFP, em Dezembro, ia no mesmo sentido, com mais 6,7% de novos desempregados.
Os empregos criados são ocupados por mulheres, com mais de 45 anos, por conta de outrem, nos serviços. Muitos homens e jovens emigraram, desencorajados e desiludidos com o mundo do trabalho. A emigração explica assim, não só as diferenças referidas atrás, mas também a redução imediata do desemprego, face a crescimentos ténues. Adicionalmente, os novos empregos criados são desqualificados e com salários mais baixos, agravando o pessimismo e o desespero nacionais.
A política de emprego, por sua vez, seja com estágios sem seletividade, apoiados generosamente, seja priorizada para desempregados subsidiados, a minoria, não tem ajudado a eficiência das intervenções, nem tem minorado os aspetos sociais da crise, como a pobreza, o desemprego de longa duração e a exclusão dos jovens.
Economista no ISCTE (Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa)