Vassallo e Silva assume Direcção do Património em “condições difíceis”
Historiador de arte troca o Museu Gulbenkian pela direcção do maior organismo da Cultura.
Vassallo e Silva, 52 anos, era até aqui director adjunto do Museu Calouste Gulbenkian e, curiosamente, foi colega de curso de Isabel Cordeiro, que agora abandona o cargo, na Faculdade de Letras de Lisboa, onde se licenciou em História. Ao PÚBLICO, este especialista em ourivesaria e joalharia disse que "está muito satisfeito por colaborar com o país nesta fase difícil”, acrescentando que "é ainda muito cedo para falar" sobre as suas expectativas.
Foi já na qualidade de novo director do Património Cultural que Vassallo e Silva esteve ontem de manhã na assinatura do protocolo entre a Secretaria de Estado da Cultura e os ministérios das Finanças e Administração Interna que permitirá a ampliação do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado.
Doutorado em História de Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, o novo responsável pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), o maior organismo da Cultura, que agrega monumentos e museus, tem a responsabilidade de gerir um orçamento previsto de 33,1 milhões de euros e uma casa com 865 funcionários, tem já uma longa experiência, sobretudo no universo dos museus. Vassallo e Silva foi conservador do Museu e Igreja de S. Roque, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (1992-1999), e técnico superior do Instituto Português do Património Cultural (um dos organismos que deram origem à DGPC), desempenhando funções na Galeria de Pintura do Rei D. Luís do Palácio Nacional da Ajuda, palco de exposições temporárias, entre 1988-1992.
É precisamente essa experiência e “conhecimento profundo” do mundo dos museus e do património móvel que dois outros historiadores ouvidos pelo PÚBLICO realçam no currículo do novo director-geral, que ontem à tarde estava ainda a arrumar o seu gabinete na Gulbenkian.
Walter Rossa, arquitecto e historiador de arquitectura, conhece bem Vassallo e Silva e diz que a sua nomeação para o cargo é um “sinal de esperança” numa altura em que o sector do património atravessa “condições extraordinariamente difíceis”.
Segundo este professor da Universidade de Coimbra, o historiador leva para a DGPC “um currículo técnico e científico irrepreensível, de grande qualidade”, “uma visão internacional da cultura portuguesa” e uma personalidade que lhe permite chegar aos outros com grande facilidade, “um bom princípio quando se ocupa um cargo que tem muito de político”: “O Nuno Vassallo e Silva é uma escolha excelente e inesperada. Para trocar a Gulbenkian pela DGPC numa altura como esta é preciso ter um grande sentido de dever público.”
Walter Rossa defende que, com os cortes financeiros e humanos, e a “falta de uma visão estratégica, de uma ideia clara para o património”, a área nunca esteve tão em baixo: “Sinto que há um desânimo generalizado que decorre da falta de meios e que leva a uma atitude de gestão corrente. Tenho fé que o Nuno possa vir a quebrar esse ciclo. Se terá condições para o fazer ou não vai depender da sua capacidade de gestão e da equipa que escolher.”
Também Paulo Pereira, historiador de arte que ocupou o cargo de subdirector do Instituto Português do Património Arquitectónico, um dos antepassados da actual DGPC, se surpreendeu com a nomeação de Vassallo e Silva, de quem tem “uma excelente opinião como pessoa e como historiador de arte”.
Garante que, para assumir o cargo de director-geral numa fase em que terá de trabalhar “com muito menos meios humanos do que aqueles que deveria ter”, Vassallo e Silva tem pelo menos de gostar tanto de desafios como gosta de património móvel, área que domina. “Ele tem um conhecimento profundo do mundo dos museus e da circulação de obras de arte, conhece particularmente bem a sua mecânica dentro e fora do país”, diz este professor da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, para quem o lugar de director do património é “sedutor, apesar de todas as dificuldades, sobretudo de ordem financeira, que tenderão e a agravar-se neste e no próximo ano”.
Paulo Pereira não deixa, também, de elogiar a directora cessante, Isabel Cordeiro, que “veio provar que há sempre possibilidade de fazer um excelente trabalho, mesmo com muito pouco”.
Largos meses de polémicas
Nos últimos meses, a DGPC tem ocupado as páginas dos jornais devido a assuntos polémicos. Primeiro com o “caso Crivelli”, ainda em aberto, envolvendo a intenção de venda no estrangeiro de uma obra do pintor italiano do Renascimento Carlo Crivelli, protegida por lei e propriedade do empresário Miguel Pais do Amaral; depois com o distanciamento de Isabel Cordeiro das opções políticas para o sector; e, por fim, com as ilegalidades que rodeiam a expedição das 85 obras do pintor catalão Joan Miró que pertenciam à colecção de arte do Banco Português de Negócios, entretanto nacionalizado, para Londres, onde deveriam ter integrado um leilão promovido pela Christie’s. Vassallo e Silva optou ontem por não comentar este último, particularmente aceso nos últimos dias.
Em Janeiro, Isabel Cordeiro revelou, em declarações ao PÚBLICO, que não se candidataria ao cargo de directora-geral, alegando "divergências profundas em relação às estratégias para o património". "Digo apenas que saio por uma questão de lealdade para comigo e para com o projecto que quis construir com as equipas desta casa. As divergências são exclusivamente de ordem técnica e têm a ver com aquilo que entendo serem as competências da DGPC e as suas linhas de actuação", disse então Cordeiro, que ontem à tarde se despediu da maior parte da sua equipa no Palácio da Ajuda. Anabela Carvalho, uma das suas subdirectoras, também está de saída. Ao que o PÚBLICO apurou, esta técnica que não quis prestar declarações pediu a demissão “com efeitos imediatos” numa carta enviada terça-feira a Barreto Xavier e aguarda resposta.
A DGPC é o maior organismo público da área da Cultura, tendo sido criada recentemente agregando os desaparecidos institutos do Património e dos Museus e a Direcção Regional de Cultura de Lisboa, tem a seu cargo a gestão directa de museus e palácios nacionais, bem como do património mundial, e a supervisão de quase 3700 imóveis classificados. Num âmbito mais alargado, cabe-lhe assegurar a gestão, salvaguarda, valorização, conservação e restauro dos bens que integram o património cultural imóvel, móvel e imaterial português, assim como executar a política museológica nacional.
Notícia actualizada às 19h20
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Vassallo e Silva, 52 anos, era até aqui director adjunto do Museu Calouste Gulbenkian e, curiosamente, foi colega de curso de Isabel Cordeiro, que agora abandona o cargo, na Faculdade de Letras de Lisboa, onde se licenciou em História. Ao PÚBLICO, este especialista em ourivesaria e joalharia disse que "está muito satisfeito por colaborar com o país nesta fase difícil”, acrescentando que "é ainda muito cedo para falar" sobre as suas expectativas.
Foi já na qualidade de novo director do Património Cultural que Vassallo e Silva esteve ontem de manhã na assinatura do protocolo entre a Secretaria de Estado da Cultura e os ministérios das Finanças e Administração Interna que permitirá a ampliação do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado.
Doutorado em História de Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, o novo responsável pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), o maior organismo da Cultura, que agrega monumentos e museus, tem a responsabilidade de gerir um orçamento previsto de 33,1 milhões de euros e uma casa com 865 funcionários, tem já uma longa experiência, sobretudo no universo dos museus. Vassallo e Silva foi conservador do Museu e Igreja de S. Roque, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (1992-1999), e técnico superior do Instituto Português do Património Cultural (um dos organismos que deram origem à DGPC), desempenhando funções na Galeria de Pintura do Rei D. Luís do Palácio Nacional da Ajuda, palco de exposições temporárias, entre 1988-1992.
É precisamente essa experiência e “conhecimento profundo” do mundo dos museus e do património móvel que dois outros historiadores ouvidos pelo PÚBLICO realçam no currículo do novo director-geral, que ontem à tarde estava ainda a arrumar o seu gabinete na Gulbenkian.
Walter Rossa, arquitecto e historiador de arquitectura, conhece bem Vassallo e Silva e diz que a sua nomeação para o cargo é um “sinal de esperança” numa altura em que o sector do património atravessa “condições extraordinariamente difíceis”.
Segundo este professor da Universidade de Coimbra, o historiador leva para a DGPC “um currículo técnico e científico irrepreensível, de grande qualidade”, “uma visão internacional da cultura portuguesa” e uma personalidade que lhe permite chegar aos outros com grande facilidade, “um bom princípio quando se ocupa um cargo que tem muito de político”: “O Nuno Vassallo e Silva é uma escolha excelente e inesperada. Para trocar a Gulbenkian pela DGPC numa altura como esta é preciso ter um grande sentido de dever público.”
Walter Rossa defende que, com os cortes financeiros e humanos, e a “falta de uma visão estratégica, de uma ideia clara para o património”, a área nunca esteve tão em baixo: “Sinto que há um desânimo generalizado que decorre da falta de meios e que leva a uma atitude de gestão corrente. Tenho fé que o Nuno possa vir a quebrar esse ciclo. Se terá condições para o fazer ou não vai depender da sua capacidade de gestão e da equipa que escolher.”
Também Paulo Pereira, historiador de arte que ocupou o cargo de subdirector do Instituto Português do Património Arquitectónico, um dos antepassados da actual DGPC, se surpreendeu com a nomeação de Vassallo e Silva, de quem tem “uma excelente opinião como pessoa e como historiador de arte”.
Garante que, para assumir o cargo de director-geral numa fase em que terá de trabalhar “com muito menos meios humanos do que aqueles que deveria ter”, Vassallo e Silva tem pelo menos de gostar tanto de desafios como gosta de património móvel, área que domina. “Ele tem um conhecimento profundo do mundo dos museus e da circulação de obras de arte, conhece particularmente bem a sua mecânica dentro e fora do país”, diz este professor da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, para quem o lugar de director do património é “sedutor, apesar de todas as dificuldades, sobretudo de ordem financeira, que tenderão e a agravar-se neste e no próximo ano”.
Paulo Pereira não deixa, também, de elogiar a directora cessante, Isabel Cordeiro, que “veio provar que há sempre possibilidade de fazer um excelente trabalho, mesmo com muito pouco”.
Largos meses de polémicas
Nos últimos meses, a DGPC tem ocupado as páginas dos jornais devido a assuntos polémicos. Primeiro com o “caso Crivelli”, ainda em aberto, envolvendo a intenção de venda no estrangeiro de uma obra do pintor italiano do Renascimento Carlo Crivelli, protegida por lei e propriedade do empresário Miguel Pais do Amaral; depois com o distanciamento de Isabel Cordeiro das opções políticas para o sector; e, por fim, com as ilegalidades que rodeiam a expedição das 85 obras do pintor catalão Joan Miró que pertenciam à colecção de arte do Banco Português de Negócios, entretanto nacionalizado, para Londres, onde deveriam ter integrado um leilão promovido pela Christie’s. Vassallo e Silva optou ontem por não comentar este último, particularmente aceso nos últimos dias.
Em Janeiro, Isabel Cordeiro revelou, em declarações ao PÚBLICO, que não se candidataria ao cargo de directora-geral, alegando "divergências profundas em relação às estratégias para o património". "Digo apenas que saio por uma questão de lealdade para comigo e para com o projecto que quis construir com as equipas desta casa. As divergências são exclusivamente de ordem técnica e têm a ver com aquilo que entendo serem as competências da DGPC e as suas linhas de actuação", disse então Cordeiro, que ontem à tarde se despediu da maior parte da sua equipa no Palácio da Ajuda. Anabela Carvalho, uma das suas subdirectoras, também está de saída. Ao que o PÚBLICO apurou, esta técnica que não quis prestar declarações pediu a demissão “com efeitos imediatos” numa carta enviada terça-feira a Barreto Xavier e aguarda resposta.
A DGPC é o maior organismo público da área da Cultura, tendo sido criada recentemente agregando os desaparecidos institutos do Património e dos Museus e a Direcção Regional de Cultura de Lisboa, tem a seu cargo a gestão directa de museus e palácios nacionais, bem como do património mundial, e a supervisão de quase 3700 imóveis classificados. Num âmbito mais alargado, cabe-lhe assegurar a gestão, salvaguarda, valorização, conservação e restauro dos bens que integram o património cultural imóvel, móvel e imaterial português, assim como executar a política museológica nacional.
Notícia actualizada às 19h20