Aberto inquérito a caso em que vítima de acidente em Chaves só teve vaga em hospital de Lisboa
Jovem de 20 anos teve acidente no sábado e Hospital de Chaves diz que nenhuma unidade do Norte e do Centro com neurocirurgia tinha vagas. Doente fez 400 quilómetros de ambulância até Torres Novas e o percurso final até Santa Maria de helicóptero. Hospital de Braga garante que não recebeu nenhum pedido.
O objectivo do inquérito, diz a Administração Regional de Saúde do Norte num comunicado, é “apurar o contexto em que os factos divulgados efectivamente ocorreram”, tendo sido pedida especial “celeridade”.
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O objectivo do inquérito, diz a Administração Regional de Saúde do Norte num comunicado, é “apurar o contexto em que os factos divulgados efectivamente ocorreram”, tendo sido pedida especial “celeridade”.
O Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, de que o Hospital Distrital de Chaves faz parte, garantiu na segunda-feira que contactou “todos os hospitais da Região Norte – Porto, Gaia e Braga – e até o de Coimbra para ver se havia possibilidade de receber o utente, mas não havia vagas”, diz a Lusa. Perante a falta de vagas e por não haver a especialidade de neurocirurgia em Chaves, o doente teve de ser transferido para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Porém, das unidades referidas, pelo menos o Hospital de Braga garante não ter recebido nenhum pedido.
Ao fim de três horas de espera em Chaves, e dado que as condições meteorológicas não permitiam a utilização de um helicóptero, a vítima foi levada de ambulância até Torres Novas. Ao final dos 400 quilómetros, segundo o hospital, o seu estado de saúde agravou-se e foi então chamado um helicóptero, que completou a viagem até Lisboa.
O Hospital Distrital de Chaves garante ter “feito de tudo” para encaminhar o doente o “mais rápido possível”, mas, “dado não haver essa possibilidade, o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) decidiu transferi-lo para o Santa Maria”.
Autarca pede explicações
O PÚBLICO tentou confirmar a informação do Hospital Distrital de Chaves junto do Centro Hospitalar de Gaia/Espinho e do Centro Hospitalar do Porto (Hospital de Santo António) , aguardando resposta. O Hospital de Braga assegurou que "não tem registo de qualquer contacto efectuado para receber o referido doente".
Já o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra disse que foi de facto contactado, mas explicou que a neurocirurgia não tinha vaga naquele momento, estando a ocupação nos 100% e que a situação não está relacionada com o facto de ser fim-de-semana. Questionada sobre o caso foi pontual ou se a procura é frequentemente maior do que a oferta que têm, a unidade respondeu que "as camas do hospital bem como os recursos humanos estão adaptados à procura, nas diversas especialidades", adiantando que concretamente no caso da neurocirurgia a taxa de ocupação em 2013 ficou-se pelos 82,7%.
Sobre o mesmo tema, questionado sobre o que aconteceu, se a situação foi pontual, se ter sido sábado teve alguma influência na capacidade de resposta ou se a falta de recursos é recorrente e qual a oferta que têm para estes casos e a taxa de ocupação naquele dia, o Centro Hospitalar de São João, no Porto, disse que "não vai pronunciar-se publicamente sobre este assunto".
O Ministério da Saúde foi também questionado sobre a situação, remetendo o assunto para a Administração Regional de Saúde do Norte, que ainda não respondeu ao PÚBLICO, nomeadamente sobre o que pensam fazer para acautelar estas situações e se as taxas de ocupação nesta área estão frequentemente lotadas ou perto disso.
Entretanto, o presidente da Câmara de Chaves, António Cabeleira, numa reacção à Lusa, garantiu que vai pedir explicações ao Ministério da Saúde sobre a falta de resposta no Norte. “É absolutamente incompreensível que os nossos hospitais de referência a nível do Norte não tenham condições para receber todos os doentes e todas as situação de emergência. Isto não tem compreensão”, defendeu.
“Sentimos que tivemos aqui um tratamento completamente diverso dos cidadãos do resto do país e explico porquê: se o acidente tivesse acontecido na cidade do Porto, a vítima teria sido encaminhada para um dos hospitais do Porto – ou Santo António ou São João, conforme a área de influência”, acrescentou. “Somos cidadãos de pleno direito e queremos ser tratados como tal. O país precisa de poupar dinheiro, mas que poupe em tudo menos na saúde e educação. Que reduzam as transferências para as autarquias, forças armadas, cultura, o que entenderem, não na saúde e educação”, insistiu o social-democrata.
O doente continua internado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, em coma induzido.