Primeiro julgamento em França de suspeito de genocídio no Ruanda
"Há 20 anos que pediamos que isto acontecesse", disse o ministro da Justiça do Ruanda.
É um processo "tardio", mas "bem vindo", comentou o ministro da Justiça ruandês, Johnston Busingye. A França foi acusada de, durante anos, ter sido um obstáculo à Justiça ao recusar-se a repatriar suspeitos que o Ruanda queria levar a julgamento pelo genocídio dos tutsis – entre Abril e Julho de 1994, 800 mil foram mortos pela maioria hutu.
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É um processo "tardio", mas "bem vindo", comentou o ministro da Justiça ruandês, Johnston Busingye. A França foi acusada de, durante anos, ter sido um obstáculo à Justiça ao recusar-se a repatriar suspeitos que o Ruanda queria levar a julgamento pelo genocídio dos tutsis – entre Abril e Julho de 1994, 800 mil foram mortos pela maioria hutu.
O actual Governo ruandês saiu da Frente Patriótica criada para acabar com o conflito no país. "A História pôs-se em marcha. Há 20 anos que pedíamos que isto acontecesse", disse, Johnston Busingye à AFP. "Não é um momento para festejarmos, o processo [de fazer justiça] mal começou, este é o primeiro caso em 20 anos e vamos segui-lo com muito interesse". O ministro acrescentou que o Governo dará toda a colaboração a França, caso seja solicitada.
Busingye disse que durante 20 anos a França albergou no seu território "um grande número de suspeitos". A extradição "foi sempre a nossa primeira opção, mas sempre dissemos que se não o fizessem que ao menos os julgassem".
As relações diplomáticas entre o Ruanda e a França foram cortadas em 2006, quando Paris acusou próximos do actual Presidente, Paul Kagamé, de envolvimento no atentado que matou o então chefe de Estado Juvénal Habyarimana, em 1994. Terá sido este atentado a desencadear a violência étnica e o genocídio. As relações foram restabelecidas três anos depois, mas permaneceu a desconfiança e o distanciamento e, em 2012, a França esteve vários meses sem embaixador no Ruanda (até à nomeação de Hélène Le Gal, que é agora conselheira do Presidente François Hollande para as questões africanas).
Pascal Simbikangwa era capitão do Exército e, segundo a acusação, fornecia armas aos hutus – era conhecido como "o torturador". Era procurado pela Interpol por crimes contra a humanidade e crime organizado. Refugiou-se em Mayotte, a ilha francesa das Comores, onde foi preso em 2008 por falsificação e tráfico de documentos. Foi depois levado para França, onde começa agora a ser julgado.
Os seus advogados rejeitaram as acusações e dizem que o processo contra Simbikangwa é "político e diplomático" por este ano se assinalarem os 20 anos do genocídio do Ruanda e por Kigali e Paris quererem retomar as boas relações.