Ucrânia, o vazio depois de Munique
EUA, UE e Rússia traçam na Ucrânia uma linha divisória mantida por um ténue verniz diplomático.
Noutros tempos, o cenário seria propício ao desencadear de uma guerra mundial. Na conferência de Munique, Estados Unidos da América e União Europeia (de um lado) e a Rússia (do outro) enfrentaram-se por causa de um país da Europa Oriental que foi, em 1922 e na sequência da revolução russa de 1917, uma das repúblicas fundadoras da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a hoje extinta URSS. Esse país é a Ucrânia e, se depois do fim da URSS e da queda dos comunismos voltou a adquirir a soberania perdida, agora divide-se entre os que defendem uma aproximação à União Europeia, no processo de ocidentalização crescente, e os que tudo farão para manter o país na órbita de Moscovo. Não já da Moscovo dos sovietes, mas a Moscovo de Putin. Ianukovich, o presidente ucraniano, é o detestado rosto desta última facção. Regressou ontem da caricata “baixa médica” que meteu (oficialmente, falou-se numa “infecção respiratória aguda”) para se afastar do turbilhão da crise, indiferente ao avanço dos protestos nas ruas e distante dos combates diplomáticos de Munique, mas não se sabe o que fará. Antes, tentara sem êxito manobras de conciliação: demissão do governo, convite à oposição para integrar novo governo, libertação dos manifestantes detidos. As ruas, porém, à beira da explosão, nada disto aceitaram. Querem a sua cabeça e talvez por isso ele a tenha “retirado” para lugar seguro. De volta, terá poucas alternativas: a demissão, deixando um vazio de poder; ou o recurso às armas para reconduzir os revoltosos a casa e devolver a ordem às ruas. Qualquer uma lhe custará mais do que uma simples dor de cabeça ou nova “infecção respiratória”. De qualquer modo, o enfrentamento maior dá-se fora das suas fronteiras. EUA, UE e Rússia traçam na Ucrânia uma linha divisória apenas mantida por um ténue verniz diplomático. Que pode, a qualquer momento, estalar, com consequências ainda imprevisíveis.
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Noutros tempos, o cenário seria propício ao desencadear de uma guerra mundial. Na conferência de Munique, Estados Unidos da América e União Europeia (de um lado) e a Rússia (do outro) enfrentaram-se por causa de um país da Europa Oriental que foi, em 1922 e na sequência da revolução russa de 1917, uma das repúblicas fundadoras da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a hoje extinta URSS. Esse país é a Ucrânia e, se depois do fim da URSS e da queda dos comunismos voltou a adquirir a soberania perdida, agora divide-se entre os que defendem uma aproximação à União Europeia, no processo de ocidentalização crescente, e os que tudo farão para manter o país na órbita de Moscovo. Não já da Moscovo dos sovietes, mas a Moscovo de Putin. Ianukovich, o presidente ucraniano, é o detestado rosto desta última facção. Regressou ontem da caricata “baixa médica” que meteu (oficialmente, falou-se numa “infecção respiratória aguda”) para se afastar do turbilhão da crise, indiferente ao avanço dos protestos nas ruas e distante dos combates diplomáticos de Munique, mas não se sabe o que fará. Antes, tentara sem êxito manobras de conciliação: demissão do governo, convite à oposição para integrar novo governo, libertação dos manifestantes detidos. As ruas, porém, à beira da explosão, nada disto aceitaram. Querem a sua cabeça e talvez por isso ele a tenha “retirado” para lugar seguro. De volta, terá poucas alternativas: a demissão, deixando um vazio de poder; ou o recurso às armas para reconduzir os revoltosos a casa e devolver a ordem às ruas. Qualquer uma lhe custará mais do que uma simples dor de cabeça ou nova “infecção respiratória”. De qualquer modo, o enfrentamento maior dá-se fora das suas fronteiras. EUA, UE e Rússia traçam na Ucrânia uma linha divisória apenas mantida por um ténue verniz diplomático. Que pode, a qualquer momento, estalar, com consequências ainda imprevisíveis.