ONU enviou dois carregamentos de comida para Yarmuk, onde se morria à fome

Ajuda chega para cerca de metade das pessoas cercadas desde Junho. Durante a semana de negociações em Genebra quase duas mil pessoas foram mortas na Síria.

Foto
Distribuição de alimentos em Yarmuk SANA/AFP

A ajuda, que chegou depois de as autoridades sírias terem barrado uma primeira tentativa, no domingo, chegou quando em Genebra está prestes a terminar a primeira ronda de negociações entre o governo sírio e a oposição. O alívio da situação humanitária em Yarmuk, mas também em Homs ou em Hama, cidades que já foram bastiões da oposição, era um dos objectivos do encontro, mas até agora nada foi acordado entre as duas partes.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A ajuda, que chegou depois de as autoridades sírias terem barrado uma primeira tentativa, no domingo, chegou quando em Genebra está prestes a terminar a primeira ronda de negociações entre o governo sírio e a oposição. O alívio da situação humanitária em Yarmuk, mas também em Homs ou em Hama, cidades que já foram bastiões da oposição, era um dos objectivos do encontro, mas até agora nada foi acordado entre as duas partes.

E nem o facto de governo e oposição terem estado, pela primeira vez, frente a frente serviu para reduzir a intensidade com que a batalha é travada. Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (organização sediada em Londres que recolhe informações de activistas no terreno) entre os dias 22 e 30 de Janeiro foram mortas 1870 pessoas na Síria, incluindo 498 civis. Destes, “40 morreram à fome e por falta de medicamentos”, revelou o director do Observatório, Rami Abdel Rahman.

“Isto significa uma média de 208 mortos por dia e o número real de mortos é certamente mais elevado”, lamentou o activista, defendendo que a conferência de Genebra “deveria ter-se realizado mediante uma suspensão total das operações militares e das detenções”.

Mas o facto de os olhos do mundo estarem um pouco mais virados para a Síria ajudou a desbloquear o envio de ajuda humanitária que estava há semanas a ser preparada. Depois de uma remessa inicial de 138 rações no dia 21 de Janeiro, camiões da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) receberam quinta-feira luz verde para entrar em Yarmuk, onde deixaram cerca de mil rações de alimentos, a sua maior entrega até à data. Já nesta sexta-feira, uma segunda coluna transportou mais cem rações para os refugiados.

A UNRWA calcula que cada porção serve as necessidades de uma família de oito pessoas durante dez dias, o que significa que a ajuda enviada nos últimos dois dias chegaria a 8800 pessoas. Quase metade da população actual daquele que já foi o maior campo de refugiados palestiniano na Síria continua à espera de ajuda.

“Esperamos continuar e aumentar substancialmente a quantidade de ajuda entregue”, disse à Reuters o porta-voz da agência Chris Guness, sublinhando que aos 18 mil palestinianos registados se juntam muitos outros sírios que tinham procurado refúgio em Yarmuk antes de o campo se transformar, também ele, num campo de batalha entre grupos que apoiam a oposição e outros leais ao regime do Presidente Bashar al-Assad.

Segundo o Observatório, 87 pessoas morreram à fome ou por falta de medicamentos desde o início do cerco ao campo, criado para receber os refugiados palestinianos da primeira guerra israelo-árabe, em 1948, e que nas últimas décadas acabou por ser absorvido pela malha urbana de Damasco.