Marta Madureira, a ilustradora que desenha com tesoura

Gosta de criar formas bicudas e de usar texturas para ilustrar histórias infantis, preferindo a tesoura ao lápis. Marta Madureira é a ilustradora por detrás de alguns dos livros da Tcharan, editora onde publicou recentemente "O Rei Vai à Caça"

Não desenha compulsivamente, no “sentido tradicional”, com lápis e papel. “Escrevo muitas ideias, recolho muitas coisas de que gosto, sobretudo texturas”, descreve Marta Madureira, ilustradora de 36 anos que prefere usar a tesoura, para fazer recortes, a desenhar. “Dou por mim no café a rasgar coisinhas de papel e a tentar encaixá-las, instintivamente”, conta ao P3 na Livraria Papa-Livros, no Porto, casa da editora que ajudou a fundar.

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Não desenha compulsivamente, no “sentido tradicional”, com lápis e papel. “Escrevo muitas ideias, recolho muitas coisas de que gosto, sobretudo texturas”, descreve Marta Madureira, ilustradora de 36 anos que prefere usar a tesoura, para fazer recortes, a desenhar. “Dou por mim no café a rasgar coisinhas de papel e a tentar encaixá-las, instintivamente”, conta ao P3 na Livraria Papa-Livros, no Porto, casa da editora que ajudou a fundar.

Marta Madureira não é ilustradora a tempo inteiro, mas toda a sua vida profissional “gira em volta da ilustração”: é docente no Instituto Politécnico do Cávado e Ave (IPCA), co-fundadora da Tcharan e está a fazer um doutoramento sobre ilustração. Pelo meio, e sempre que pode, vai ilustrando livros infantis e juvenis — conta já com cerca de 20 obras editadas, a última das quais, “O Rei Vai à Caça” (Tcharan, 2013), com texto de Adélia Carvalho, proprietária daquela livraria.

O rótulo de “ilustradora infantil” não a incomoda. “Gosto muito de trabalhar o livro e, se calhar, o livro infantil é um dos espaços privilegiados para o fazer, enquanto sequência de imagens.” Associa às suas formas contornos bicudos — culpa da “ilustração de recorte” que prefere — e o contacto com crianças, em escolas, permitiu-lhe perceber que o verde é a cor mais utilizada [vê a galeria].

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Um rei pateta, careca, muito redondo e seguido pelos súbditos é como Marta desenha o rei de Espanha Marta Madureira

Duas características presentes em “O Rei Vai à Caça”, “uma sátira ao rei de Espanha e ao famoso episódio de ir caçar elefantes”, descreve — daí a edição em castelhano e inglês, além do português. “A Adélia [Carvalho] fala de um rei, muito pateta, careca, que manca de uma perna. E falamos também de uma personagem muito forte, os elefantes”, diz. Marta desenvolveu o rei “como se fosse um daqueles bonecos sempre em pé, muito redondo e sempre seguido pelos seus súbditos” e, para contrapor “esta frieza”, criou um “elefante muito mais orgânico, com a textura das mãos”.

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O Rei Vai à Caça, com texto de Adélia Carvalho, foi também editado em castelhano e inglêsTeresa Pacheco Miranda

Trabalhar o livro como objecto

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A ilustradora do Porto gosta de formas bicudas e de texturas Marta Madureira

Apesar de fazer exactamente aquilo de que gosta — e de achar isso “um privilégio” —, o percurso de Marta na ilustração “nem sempre foi consciente”. Descobriu-a quando mudou de pintura para design, na faculdade, e ilustrou o primeiro livro no início dos anos 90. Nunca se imaginou como sócia de uma editora, com a qual já publicou quatro livros: “A Crocodila Mandona”, “Mocho Comi”, “O País das Pessoas com as Pernas para o Ar” e a sátira ao rei espanhol.

Na Tcharan, Marta gosta de “trabalhar os livros de uma forma mais conceptual e não só literária”. “Desde que comecei a trabalhar com ilustração que a entendo não como uma repetição do texto mas como uma construção paralela”, explica ao P3. “As imagens ganham algum significado, podem ser descobertas.”