A ADSE é dos beneficiários, não do Governo
O que sucedeu com a Caixa Geral de Aposentações (CGA) é indício bastante do que se está a passar com a ADSE.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O que sucedeu com a Caixa Geral de Aposentações (CGA) é indício bastante do que se está a passar com a ADSE.
O PÚBLICO de 6/12/2013 anunciava importantes dados de que toda a gente suspeitava e outros tantos afirmavam com conhecimento da matéria. Com fonte no Partido Socialista e sua declaração na Assembleia da República, o jornal dizia que, durante anos e anos, sucessivos governos exauriram os cofres da CGA em milhares de milhões. A mesma fonte acrescentava que "por imperiosas razões de interesse público”, o Estado tinha “optado” por não entregar as contribuições para a CGA que, como entidade patronal, devia ter entregado.
Fica-se esclarecido: durante dezenas de anos, o Estado andou a gastar o dinheiro dos seus funcionários que estava nos cofres da CGA. Em Direito Penal, isso tem uma designação: abuso de confiança. Não entregou as percentagens que devia ter entregado como entidade patronal. Delapidou tudo. Em “imperiosas razões de interesse público"! Os velhos não fazem parte deste.
Nunca repôs tão volumosas quantias. Com cinismo, apregoa a insustentabilidade da CGA. Agora responsabiliza os pensionistas. Mingua-lhes as pensões. Sempre pronto a meter a foice nestas com os mais diversos pretextos. As instituições e sociedades são administradas e geridas pelos detentores do capital.
Isto é o que “eles” pregam. Na ADSE, os trabalhadores pagam. O Governo gere como demonstrou: desvia o capital. Como se este fosse dele. Tem em mira afectar tais recursos ao financiamento do Orçamento do Estado (OE). Confessadamente, querem a ADSE a servir para o dito défice. Depois, apontam para a levar ao “mercado”, como dizem. Privatizam tudo.
Hoje, a ADSE basta-se a si própria. Dispensa as migalhas do OE. Mas também dispensa ser pagadora da dívida pública. Não é função de um serviço de apoio na doença. Para isso, os funcionários e pensionistas pagam impostos.
ADSE e CGA estão integradas no Ministério das Finanças. Sob tutela do ministro respectivo. Essa “tutela” tem permitido ao Ministério das Finanças usar abusivamente o capital que não é do Estado. Como fez ultimamente com os Fundos de Reserva da Segurança Social. Vários mil milhões de euros aplicados em compra de dívida.
Os funcionários públicos e pensionistas dispensam tutelas. Não são inimputáveis. Nem lavraram procuração a favor do Governo. Nem padecem de “capitis deminutio”.
Não correrão o risco de ver o capital que descontam há dezenas de anos delapidado nas dívidas que a política irresponsável contrai. Nem de ver a ADSE no jogo especulativo da bolsa e ser adquirida pelos “investidores institucionais”. Ou negociada entre hospitais privados, seguradoras ou outros grupos privados de saúde que já em muito vivem à sua custa.
Não existe qualquer razão para que o Estado administre o capital que é dos beneficiários da ADSE. Muito menos agora que a inscrição e manutenção nesta é de carácter facultativo.
A César o que é de César. A Deus o que é de Deus.
Procurador-geral adjunto