Oposição ucraniana recusa cargos oferecidos pelo Presidente
Manifestantes tomaram durante a noite um edifício que estava nas mãos da polícia, no centro de Kiev.
“Não há acordo com Ianukovich. Vamos acabar o que começámos. É o povo que escolhe os seus líderes, não o Presidente”, escreveu Arseni Iatseniuk, líder de um dos três partidos que chefiam os protestos, desencadeados em Novembro pela recusa de Kiev em não assinar o acordo de associação com a União Europeia.
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“Não há acordo com Ianukovich. Vamos acabar o que começámos. É o povo que escolhe os seus líderes, não o Presidente”, escreveu Arseni Iatseniuk, líder de um dos três partidos que chefiam os protestos, desencadeados em Novembro pela recusa de Kiev em não assinar o acordo de associação com a União Europeia.
A contestação reacendeu-se na última semana, com a morte de pelo menos três activistas da oposição e levou já os manifestantes a ocuparem vários edifícios no centro de Kiev. O último alvo foi a Casa Ucraniana, um centro cultural que desde o início dos protestos servia de dormitório às forças do Ministério do Interior.
Sábado à noite, cerca de dois mil manifestantes cercaram o edifício e lançaram cocktails Molotov contra o local. Os polícias acabaram por deixar o edifício por uma porta lateral, depois de Vitali Klitschko, outro dos líderes da oposição, ter garantido a sua saída em segurança. Esta manhã, e apesar da tensão acumulada, a situação era mais calma e centenas de opositores mantinham ocupado o edifício.
Numa nova tentativa para recuperar a iniciativa, Ianukovich reuniu-se sábado à tarde com os líderes dos três partidos da oposição e ofereceu o cargo de primeiro-ministro a Iatseniuk e o de vice-primeiro-ministro a Klitschko. Uma nota oficial adiantava também que o Presidente propôs a criação de um grupo de trabalho para discutir alterações à Constituição, abrindo com isso a porta à redução dos seus poderes.
Já na praça da Independência – onde centenas de pessoas permanecem acampadas há dois meses e que todas as noites se enche com milhares de outras – Iatseniuk, Klitschko e Oleg Tiagnybok (líder do partido ultranacionalista Svoboda) recusaram publicamente a oferta. “Estamos prontos a assumir a responsabilidade pelo destino da Ucrânia”, mas “não acreditamos numa palavra” do que diz Ianukovich, afirmou Iatseniuk, que dirige o partido fundado pela ex-primeira-ministra Iulia Timochenko, actualmente na prisão.
Klitschko, antigo pugilista e agora fundador do Udar (Murro) confirmou a recusa, classificando a oferta do Presidente “como um presente envenenado para dividir a oposição”. Garantiu, no entanto, que as negociações vão continuar e que a oposição se vai manter nas ruas até forçar Ianukovic a antecipar as eleições, presidenciais e legislativas, rever as leis que limitam o direito de manifestação e a libertação dos opositores detidos.
Este domingo, o Papa Francisco aproveitou a oração do Angelus, na Praça de São Pedro, para apelar ao fim da violência na Ucrânia. “Desejo um diálogo construtivo entre instituições e sociedade civil e que, sem o uso da força, o espírito da paz e da procura do bem comum prevaleçam no coração de todos”, afirmou o líder católico, enviando a sua solidariedadeàs famílias dos que morreram nos confrontos dos últimos dias.