Ana Drago demite-se da Comissão Política do Bloco de Esquerda
As razões da demissão prendem-se com "divergências" e "discussões" em relação à estratégia do Bloco de Esquerda para as eleições europeias.
Na carta de demissão de Ana Drago, apresentada neste sábado na Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, pode ler-se: “As discussões que ocorreram ao longo das últimas semanas no seio da Comissão Política tornaram clara uma divergência profunda e fundamental sobre a estratégia do Bloco na presente conjuntura”.
Em entrevista à SIC, a ex-deputada descreveu as negociações como um "processo turbulento" que devia ter sido evitado em nome de um interesse maior. "O momento que o país vive exige que tenhamos disponibilidade para discutir com os outros", disse antes de defender o diálogo "sem exclusões à partida".
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Na carta de demissão de Ana Drago, apresentada neste sábado na Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, pode ler-se: “As discussões que ocorreram ao longo das últimas semanas no seio da Comissão Política tornaram clara uma divergência profunda e fundamental sobre a estratégia do Bloco na presente conjuntura”.
Em entrevista à SIC, a ex-deputada descreveu as negociações como um "processo turbulento" que devia ter sido evitado em nome de um interesse maior. "O momento que o país vive exige que tenhamos disponibilidade para discutir com os outros", disse antes de defender o diálogo "sem exclusões à partida".
A bloquista refere-se concretamente à questão da possibilidade — que foi colocada ao Bloco — de integrar uma candidatura convergente com o Manifesto 3D (Dignidade, Democracia e Desenvolvimento) e o partido LIVRE para as eleições europeias, a realizar a 25 de Maio. A ex-deputada aponta que o partido, que recusou a proposta de convergência, não “equacionou” sequer a possibilidade de isso acontecer.
Para Ana Drago, uma candidatura convergente com outros movimentos de esquerda era “não só desejável como determinante para este campo político de esquerda, e portanto para o Bloco". Além disso, “significaria uma vontade política de construir uma alternativa sustentada e credível de esquerda, num país que vive um ataque sem precedente ao modelo social e político da sua democracia”.
E crítica: “Um modelo de articulação não chegou sequer a ser equacionado — a direcção política do Bloco de Esquerda não se mostrou disponível para iniciar um debate programático com alguns dos possíveis participantes nessa convergência". Assim sendo, para a bloquista, a possibilidade de uma candidatura alargada fracassou.
“Sem estratégia”
Ana Drago, que deixou o Parlamento em Agosto passado, acredita que, “se não for com estes actores [3D e PL], não se fará convergência com ninguém — e o Bloco fica sem qualquer estratégia de alargamento e convergência”. E sublinha que a unidade da esquerda é “urgente” e deve “ser mais ampla”.
A convergência à esquerda seria, no seu entender, um passo essencial na construção de uma esquerda alternativa para o país que, embora não fosse fácil nem correspondesse à solução para todos os problemas, iria permitir debater a Europa e “lançar uma dinâmica de alargamento e mobilização que fazem hoje tanta falta ao Bloco”.
Ainda no mesmo documento, Ana Drago salienta que a decisão a entristece mas foi muito ponderada. E termina dizendo que não sabe se irá ter um dia a solução para a esquerda, mas não quer neste momento fazer parte do problema.
Na conferência de imprensa deste sábado, Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, não quis pronunciar-se sobre a demissão de Ana Drago. Referiu-se, no entanto, à “abertura” e “disponibilidade” do partido para uma convergência “com todas as forças que rejeitem a austeridade e o tratado orçamental”.
Sem ter feito qualquer referência ao partido LIVRE, a coordenadora bloquista defendeu que BE fez uma “proposta concreta” de plataforma comum com o 3D, para preparar a candidatura às europeias e que é importante manter o diálogo, ficando todo o processo dependente da resposta do 3D à “proposta concreta” do Bloco.
O dirigente do Movimento Alternativa Socialista (MAS), Gil Garcia, não se manifestou surpreendido com a decisão de Ana Drago e acredita que "outras [demissões] poderão surgir", porque, acusa, o partido não convive bem com a "pluralidade de opiniões, sobretudo opiniões mais à esquerda". O MAS - movimento que propõe uma "coligação ampla" de todas as esquerdas (excluíndo o PS) - realiza este fim-de-semana o I Congresso.
As dissidências do Bloco de Esquerda
Também Daniel Oliveira, militante histórico do Bloco de Esquerda - que abandonou o partido em Março do ano passado – alegou divergências sobre a estratégia do partido, sobretudo a inexistência de relação com outros partidos de esquerda.
Na altura, o bloquista – um dos promotores do Movimento 3D - justificou a sua saída com o “sectarismo interno, que enfraqueceu o partido e o debate democrático e o sectarismo externo, que tem impedido o Bloco de ser, como sempre quis ser, um factor de convergência e reconfiguração da esquerda portuguesa”. E concretiza: a criação da corrente Socialismo, proposta pelo antigo presidente do partido, Francisco Louçã, João Semedo e José Manuel Pureza. Para Oliveira, tratar-se-ia de um partido dentro do próprio partido.
Em 2011, o líder da Corrente Ruptura/FER (Frente da Esquerda Revolucionária), Gil Garcia, também rompeu com o Bloco, por se ter aliado ao PCP (Partido Comunista Português), partido com o qual o Bloco de Esquerda não quis construir uma plataforma comum.
Notícia actualizada às 21h21: Acrescenta declarações de Ana Drago