Família diz que jovem sobrevivente do Meco prestará esclarecimentos no local certo e não fala em praxe
Os familiares queixam-se de "injustiça", "especulação, notícias sem explicitação de fontes credíveis e construídas com base em comentários de quem nada sabe sobre os factos”.
Numa carta enviada à agência Lusa, a família de João Miguel Gouveia, o único sobrevivente do grupo de sete estudantes, sublinha: "Mais do que ninguém, ele deseja que tal ocorra", referindo-se aos esclarecimentos.
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Numa carta enviada à agência Lusa, a família de João Miguel Gouveia, o único sobrevivente do grupo de sete estudantes, sublinha: "Mais do que ninguém, ele deseja que tal ocorra", referindo-se aos esclarecimentos.
"No local certo e perante as instâncias competentes, no tempo necessário para que todas as diligências sejam efectuadas, o sobrevivente prestará todos os esclarecimentos", sustentam os familiares do jovem, que até agora se tem remetido ao silêncio.
Os seis jovens que morreram na praia do Meco faziam parte de um grupo de estudantes da Universidade Lusófona que tinham alugado uma casa na zona para passar o fim-de-semana.
Segundo as autoridades, uma onda arrastou-os na madrugada de 15 de Dezembro, mas um dos universitários conseguiu sobreviver e dar o alerta. Os corpos dos restantes foram encontrados nos dias que se seguiram.
Os familiares das seis vítimas apelaram no passado fim-de-semana para que o único sobrevivente esclareça as circunstâncias em que ocorreu a tragédia. Os pais dos estudantes que perderam a vida vão reunir-se hoje para tomar uma posição concertada, disse à Lusa António Soares, pai de Ana Catarina Soares, uma das estudantes que perdeu a vida no Meco, escusando-se, no entanto, a revelar o local e a hora da reunião.. "Temos o direito de saber o que se passou com os nossos filhos, queremos saber o que se passou naqueles momentos. Não queremos encontrar culpados, mas, se os houver, terão que ser responsabilizados, doa a quem doer", acrescentou.
Esta semana a Procuradoria-Geral da República anunciou que o procurador coordenador do Círculo de Almada chamou a si o inquérito relativo a este caso e que o processo está em segredo de justiça.
Na extensa carta enviada à agência Lusa, os familiares de João Miguel Gouveia sustentam que "desde o primeiro dia, mesmo em choque, o sobrevivente colaborou com as autoridades seja para contactar as outras famílias, seja para dar indicações sobre o que sucedeu".
A família diz que "os jovens reunidos não conheciam a zona, realizaram alguns percursos a pé e deslocaram-se também até à praia. Pousaram os objectos que traziam no areal e, conversando, passearam na areia. Pararam acima da zona de rebentação e vários sentaram-se".
"Sem que se apercebessem, uma onda, de grandes dimensões, arrastou-os a todos e o desastre aconteceu. Seis jovens perderam a vida e um deles, depois de muito esforço, conseguiu arrastar-se até à areia e, de um dos telemóveis que tinham ficado junto dos objectos que tinham pousado inicialmente, conseguiu pedir socorro para o 112, tendo ficado em exaustão, a vomitar e em hipotermia progressiva, prostrado na areia", segundo o relato dos familiares.
João Miguel Gouveia "foi localizado no areal pela Polícia Marítima e posteriormente estabilizado pelo INEM e internado, por afogamento, no Hospital de Almada".
Sobre o silêncio do jovem, a família justifica que a tragédia exigiu "tempo para o luto e para tentar integrar tão dramática experiência, que marca e marcará para sempre a sua existência".
"Em nome de quê, alguém se pode arrogar o direito de especular, falsear, pressionar ou mesmo ameaçar, quem foi também vítima deste terrível acidente?", questionam.
A família de João Miguel Gouveia diz também que "está solidária com a dor imensa das famílias que perderam os seus filhos" e que falou com alguns deles “para prestar os esclarecimentos solicitados".
"Desde o primeiro dia, mesmo em choque, o sobrevivente colaborou com as autoridades, seja para contactar as outras famílias, seja para dar indicações sobre o que sucedeu", sustentam, na carta.
Nega ainda que a audição marcada para 21 de Janeiro não tenha sido realizada por uma "alegada amnésia selectiva" do jovem, mas sim desmarcada pelas autoridades.
Na carta, os familiares queixam-se de "injustiça", "especulação, notícias sem explicitação de fontes credíveis e construídas com base em comentários de quem nada sabe sobre os factos ou mesmo assentes em mentiras claras e contradições óbvias, que apenas criam alarme social".
Por outro lado, a família do sobrevivente "agradece o apoio disponibilizado pela Universidade desde o primeiro dia, até à presente data".