Para que serve o CDS?
Saber para que serve o CDS nos dias de hoje seria seguramente uma das questões que deveriam ter tido resposta no último congresso do partido. A mera invocação, pelo líder Paulo Portas, de diferenças existentes entre os partidos da maioria que suportam o Governo, sem qualquer demonstração, é um exercício inútil e sem sentido. A afirmação da independência não tem sentido se a autonomia não for visível e ela não o tem sido, mesmo com a exposição pública de divergências. Vários são os dirigentes do CDS, agora membros do executivo, críticos de medidas implementadas pelo atual Governo. Verificamos com a mesma clareza que não conseguiram impedir a implementação de opções que criticaram. São disso bons exemplos a descida do IVA na restauração, a renegociação do nível do défice, a questão das pensões... Por isso, a pergunta mantém-se. Qual é a utilidade do CDS na vida política nacional e no âmbito do exercício do poder governativo? Para que serve? Em que se distingue sobretudo do parceiro de coligação?
Não sejam invocadas falsas ou eventuais diferenças ideológicas de matriz fundadora dos partidos do arco do governo; nem o atual CDS é representante da democracia cristã europeia, nem o atual PSD (ou a sua equipa dirigente) é herdeiro da matriz da social democracia, porque de social-democrata ao partido apenas lhe resta o nome. Mas aos portugueses não importa apenas o nome das coisas, porque nem sempre são chamadas pelo nome que deveriam ter. Por isso importa ao CDS demonstrar as suas diferenças e valias para a melhoria das políticas aprovadas e isso não ficou claro na sua última reunião magna.
Não se podia pedir a Paulo Portas o impossível nem o improvável: que explicasse pormenorizadamente as razões da crise do verão de 2013, que lhe permitiram ser hoje vice-primeiro-ministro, porque isso seria eventualmente perigoso para a sustentabilidade da solidez da coligação, mas sobretudo penoso para o país, que dispensa essas explicações, porque seguramente sabe, conhece e percebeu bem tudo o que se passou...
Os portugueses querem saber se em maio conseguem ir aos “supermercados”, mais do que saber se o país pode ir aos “mercados”, embora saibamos que estas questões estão intimamente interligadas. Para que tal aconteça é importante políticas com sentido de Estado, equitativas, tendencialmente justas, transparentes, não discriminatórias, confiáveis. Para o eleitorado do CDS é importante perceber que sentido toma o partido na escolha dessas políticas. O critério que a ela tem presidido nos últimos tempos não tem sido claro e, por isso, ou também por isso, não sabemos para que serve o CDS. Apenas para assegurar uma maioria estável? Para permitir o acesso a cargos de governo e de administração pública? Ora, o grande desafio é o de saber se o CDS – hoje – sabe responder àquela pergunta sem que seja autofágico. Esperemos ser esclarecidos nos tempos próximos!
Professor universitário, politólogo
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Saber para que serve o CDS nos dias de hoje seria seguramente uma das questões que deveriam ter tido resposta no último congresso do partido. A mera invocação, pelo líder Paulo Portas, de diferenças existentes entre os partidos da maioria que suportam o Governo, sem qualquer demonstração, é um exercício inútil e sem sentido. A afirmação da independência não tem sentido se a autonomia não for visível e ela não o tem sido, mesmo com a exposição pública de divergências. Vários são os dirigentes do CDS, agora membros do executivo, críticos de medidas implementadas pelo atual Governo. Verificamos com a mesma clareza que não conseguiram impedir a implementação de opções que criticaram. São disso bons exemplos a descida do IVA na restauração, a renegociação do nível do défice, a questão das pensões... Por isso, a pergunta mantém-se. Qual é a utilidade do CDS na vida política nacional e no âmbito do exercício do poder governativo? Para que serve? Em que se distingue sobretudo do parceiro de coligação?
Não sejam invocadas falsas ou eventuais diferenças ideológicas de matriz fundadora dos partidos do arco do governo; nem o atual CDS é representante da democracia cristã europeia, nem o atual PSD (ou a sua equipa dirigente) é herdeiro da matriz da social democracia, porque de social-democrata ao partido apenas lhe resta o nome. Mas aos portugueses não importa apenas o nome das coisas, porque nem sempre são chamadas pelo nome que deveriam ter. Por isso importa ao CDS demonstrar as suas diferenças e valias para a melhoria das políticas aprovadas e isso não ficou claro na sua última reunião magna.
Não se podia pedir a Paulo Portas o impossível nem o improvável: que explicasse pormenorizadamente as razões da crise do verão de 2013, que lhe permitiram ser hoje vice-primeiro-ministro, porque isso seria eventualmente perigoso para a sustentabilidade da solidez da coligação, mas sobretudo penoso para o país, que dispensa essas explicações, porque seguramente sabe, conhece e percebeu bem tudo o que se passou...
Os portugueses querem saber se em maio conseguem ir aos “supermercados”, mais do que saber se o país pode ir aos “mercados”, embora saibamos que estas questões estão intimamente interligadas. Para que tal aconteça é importante políticas com sentido de Estado, equitativas, tendencialmente justas, transparentes, não discriminatórias, confiáveis. Para o eleitorado do CDS é importante perceber que sentido toma o partido na escolha dessas políticas. O critério que a ela tem presidido nos últimos tempos não tem sido claro e, por isso, ou também por isso, não sabemos para que serve o CDS. Apenas para assegurar uma maioria estável? Para permitir o acesso a cargos de governo e de administração pública? Ora, o grande desafio é o de saber se o CDS – hoje – sabe responder àquela pergunta sem que seja autofágico. Esperemos ser esclarecidos nos tempos próximos!
Professor universitário, politólogo