O paradoxo do sexo

Os seres humanos tinham todas as condições para serem os mais sexuais dos animais. Mas é isso que sucede? Penso que não, e aí entra o paradoxo

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Jason Lee/Reuters

O desejo sexual é uma constante da humanidade. E não podia ser doutra forma. Fosse o sexo algo de desagradável ou do qual nunca nos lembrássemos e a espécie humana tinha desparecido do planeta no espaço de uma geração. Aliás, todas as espécies animais têm sexo e desejo sexual (ainda que disso possam não ter consciência). E nós (humanos) até temos duas particularidades que, potencialmente, tornam o nosso sexo mais ubíquo: as fêmeas humanas não têm cio (o que faz com que o nosso desejo sexual e as nossas relações sexuais não tenham altura específica para acontecer); como somos seres conscientes (que até conseguimos ter sexo sem procriar) podemos desfrutá-lo apenas pelo prazer que nos proporciona.

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O desejo sexual é uma constante da humanidade. E não podia ser doutra forma. Fosse o sexo algo de desagradável ou do qual nunca nos lembrássemos e a espécie humana tinha desparecido do planeta no espaço de uma geração. Aliás, todas as espécies animais têm sexo e desejo sexual (ainda que disso possam não ter consciência). E nós (humanos) até temos duas particularidades que, potencialmente, tornam o nosso sexo mais ubíquo: as fêmeas humanas não têm cio (o que faz com que o nosso desejo sexual e as nossas relações sexuais não tenham altura específica para acontecer); como somos seres conscientes (que até conseguimos ter sexo sem procriar) podemos desfrutá-lo apenas pelo prazer que nos proporciona.

Assim, os seres humanos tinham todas as condições para serem os mais sexuais dos animais. Mas é isso que sucede? Penso que não, e aí entra o paradoxo.

Se olharmos para a grande maioria das culturas mundiais presentes, vemos, quase sempre (em maior ou menor grau), uma recriminação do sexo. Ou porque é pecado, ou porque nos impede de atingir o Nirvana ou o pleno conhecimento, ou porque só se pode fazer em determinadas circunstâncias (casado), com determinadas pessoas, ou com determinado propósito (procriação). Enfim, até a masturbação costuma ser reprovada e associada a um conjunto de males como a cegueira ou a impotência.

Não me interessa aqui analisar a história das nossas culturas e perceber quando entraram, tão disseminadamente, todos estes preconceitos contra o sexo. O que me intriga é o facto de terem sido inventados. Sendo o sexo uma coisa prazenteira e indispensável para a perpetuação da espécie, surge-me como um absurdo qualquer ideologia que o recrimine, o associe ao mal e proclame a sua contenção. A história das nossas culturas devia traduzir a importância biológica que o sexo tem em nós e não ser contrária a essa relevância. O resultado deste paradoxo é uma tensão forte e contínua entre a nossa natureza biológica (o nosso desejo sexual) e os padrões culturais que é suposto seguirmos. Dessa tensão resultam muitas hipocrisias, algumas parafilias e muita infelicidade.

Penso que, colectivamente, devíamos trabalhar na direcção da progressiva eliminação dos preconceitos e tabus relativamente ao sexo (o mundo não são só os países desenvolvidos, e mesmo nesses há muito caminho a percorrer). É que a verdade é que, por mais carga cultural negativa que tenha sido imposta sobre o sexo, o sexo continua a ser parte importante da vida das pessoas, um contribuinte decisivo para o lado hedónico da vida e um promotor de felicidade.