Salgueiro Maia no Panteão seria uma forma "digna" de comemorar Abril, diz Vasco Lourenço
Associação 25 de Abril já discutira esta ideia, mas Vasco Lourenço diz que foi abandonada devido aos entraves burocráticos. Agora espera que o Parlamento tome a iniciativa.
O tenente-coronel, que foi um dos capitães de Abril, considera que a ideia defendida na terça-feira à noite por Manuel Alegre seria a melhor forma de homenagear todos os que fizeram a revolução de 1974- Mas Vasco Lourenço adiantou à TSF que no seio da associação a questão já foi debatida há algum tempo, porque consideram que “o 25 de Abril deveria estar representado no Panteão Nacional” e a figura simboliza os militares “seria o Salgueiro Maia”.
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O tenente-coronel, que foi um dos capitães de Abril, considera que a ideia defendida na terça-feira à noite por Manuel Alegre seria a melhor forma de homenagear todos os que fizeram a revolução de 1974- Mas Vasco Lourenço adiantou à TSF que no seio da associação a questão já foi debatida há algum tempo, porque consideram que “o 25 de Abril deveria estar representado no Panteão Nacional” e a figura simboliza os militares “seria o Salgueiro Maia”.
O projecto foi abandonado porque se “levantaram muitos problemas burocráticos” e todos os passos do processo demoravam demasiado tempo. Vasco Lourenço diz que se fizeram alguns contactos mas depois não se chegou à fase da proposta formal. “Até porque achamos que não devem ser os militares de Abril a fazer essa proposta mas sim o Parlamento. Quando contactamos com a população sentimos o carinho e o respeito que sentem por nós. O poder, infelizmente, não tem a mesma opinião”, critica o militar.
“Seria uma boa maneira de a Assembleia da República promover uma comemoração digna dos 40 anos do 25 de Abril”, diz Vasco Lourenço. Isso, acrescenta, “era se em Portugal os valores de Abril fossem assumidos de forma correcta. Mas o que estamos a ver é que esses valores estão a ser atacados de uma forma violentíssima pelo poder”. O presidente da associação admite “não esperar muito do actual poder, esteja ele em Belém ou em São Bento” e deseja que haja uma “pressão muito forte por parte da população” para que esta trasladação vá mesmo em frente.
O problema, diz ainda o capitão de Abril, “não é a trasladação em si; o problema é os valores de Abril serem ou não recuperados. [a trasladação de Salgueiro Maia para o Panteão] seria um bom sinal de que o poder está preocupado com esse valores, em vez de ser hipócrita e comemorar com um simples colóquio ou uma conferência internacional.”
Por alturas das comemorações do 25 de Abril “alguns têm por hábito virem dar-nos palmadinhas nas costas. O que nós queremos é que os valores sejam aplicados na vida quotidiana”, defende Vasco Lourenço. Que avisa que não basta “colocar uma flor atrás da orelha” e pede coerência: diz que não gostaria de ver Salgueiro Maia ser trasladado para o Panteão Nacional, onde são reconhecidos os heróis nacionais, ao mesmo tempo que se mantém “esta situação em que os valores de Abril estão a ser espezinhados”.
O professor e ensaísta Eduardo Lourenço também se manifestou hoje a favor da trasladação de Salgueiro Maia. "Não tenho nada contra. Se querem representar o 25 de Abril através de alguém que tenha tido uma atitude importante, porque não? Estará lá melhor que outros", respondeu aos jornalistas no final de uma conferência na Associação 25 de Abril.
PS concorda, Bloco quer “ponderação”
O líder parlamentar do PS, Alberto Martins, considera que "o 25 de Abril merece honras do panteão nacional" e Salgueiro Maia, sendo “o rosto e um símbolo” daquele “momento libertador” e da queda da ditadura, será uma das “opções naturais” para essa representação no monumento.
Citado pela Lusa, Alberto Martins afirmou que "o PS acolhe com naturalidade essa proposta", o líder da bancada socialista ressalvou, contudo, que a questão terá de ser alvo de debate.
Já a bloquista Cecília Honório reconhece ser necessária alguma “ponderação e uma avaliação mais calma nesta recente corrida ao Panteão”. Ainda que considere Salgueiro Maia um “exemplo maior do país, um herói da revolução e da democracia que faz muita falta ao país nos dias em que vivemos” e que “merece todas as homenagens”, a deputada não quis adiantar qual a posição do partido sobre a trasladação, embora diga que “lembrar Salgueiro Maia foi um gesto de coragem de Manuel Alegre”.
“É importante que as comemorações do 25 de Abril o devolvam à sua essência e que reabram o debate sobre a constituição, sobre o regime constitucional democrático e sobre as pessoas que o fizeram”, disse a deputada na TSF. Que também vinca que é preciso um “debate sobre o estatuto actual do Panteão, que não tem o perfil de um espaço de consagração dos heróis nacionais”.
Sophia a caminho
Se sobre Salgueiro Maia o que há ainda é uma proposta informal, sobre a trasladação de Sophia de Mello Breyner o processo está mais avançado e desenvolveu-se antes da morte de Eusébio, nome logo apontado como merecedor de um lugar no Panteão. Depois de a ideia ter sido lançada em Novembro num artigo de opinião do conselheiro cultural dos ex-Presidentes da República Mário Soares e Jorge Sampaio, José Manuel dos Santos, a decisão foi acertada entre os grupos parlamentares e a família da escritora já anuiu.
Deverá agora ser a própria presidente da Assembleia da República a levar a proposta à conferência de líderes em breve. A trasladação deveria ocorrer no contexto da comemoração dos 40 anos do 25 de Abril. Depois da aprovação na AR, é constituída uma comissão parlamentar que escolhe a data e o programa do evento.
Sophia de Mello Breyner juntar-se-ia assim ao escritor Aquilino Ribeiro, trasladado em 2007, ao antigo Presidente da República Manuel de Arriaga (2004), à fadista Amália Rodrigues (2001). Nos últimos anos discutiu-se a trasladação de Passos Manuel e do compositor marcos Portugal, mas nada foi decidido.
Estão ali sepultados também os escritores Almeida Garrett, Guerra Junqueiro e João de Deus, o general Humberto Delgado, e os antigos Presidentes da República Óscar Carmona, Sidónio Pais e Teófilo Braga. E encontram-se também os memoriais do Infante D. Henrique, Afonso de Albuquerque, D. Nuno Álvares Pereira e Pedro Álvares Cabral.
Em 2000, ao mesmo tempo que se discutia o processo da fadista Amália Rodrigues, o Parlamento aprovou a lei que define e regula as honras do Panteão Nacional, consignando que as honras homenageiam portugueses que se distinguiram no exercício de “altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade”.
Estas honras do Panteão podem ser pela deposição dos restos mortais ou com a afixação, no monumento, da lápide alusiva à sua vida e à sua obra.