Dois mortos em Kiev em mais um dia de violência e confrontos

A oposição ao Presidente Viktor Ianukovitch não desiste das ruas apesar do aviso do Governo de que ia começar a fazer uso de força.

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Um homem de cerca de 30 anos foi morto depois de ter sido alvejado quatro vezes, tendo sido atingido "no pescoço, na cabeça e no peito", relata o The Guardian, citando o coordenador médico dos manifestantes, Oleg Musiy. Depois da confirmação da primeira morte, o procurador-geral da Ucrânia admitiu à Reuters que uma segunda pessoa morreu vítima de confrontos com a polícia.

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Um homem de cerca de 30 anos foi morto depois de ter sido alvejado quatro vezes, tendo sido atingido "no pescoço, na cabeça e no peito", relata o The Guardian, citando o coordenador médico dos manifestantes, Oleg Musiy. Depois da confirmação da primeira morte, o procurador-geral da Ucrânia admitiu à Reuters que uma segunda pessoa morreu vítima de confrontos com a polícia.

Há relatos de uma terceira morte: uma pessoa que terá caído do estádio do Dinamo de Kiev. Não há, contudo, confirmação de que a ocorrência esteja relacionada com os protestos, apesar da proximidade entre o estádio e o local das manifestações.

Durante o dia, o Presidente Viktor Ianukovitch vai reunir com os três partidos da oposição - o Udar, o Svoboda e o Batkivshchyna -, segundo a BBC.

Na terça-feira à noite, um alto conselheiro do Presidente disse que o estado de emergência não seria instaurado para pôr fim aos tumultos. Mas o primeiro-ministro Mykola Azarov avisou que as autoridades iriam recorrer ao uso da força se os manifestantes não desistissem da rua – chamou-lhe “provocadores” e acusou-os de incitamento à violência.

“Se os provocadores não param, as autoridades não terão outra opção se não recorrer a força no quadro da lei, para garantir a segurança das pessoas”, afirmou Mykola Azarov na estação pública de televisão.

A lei mudou esta semana, e essa mudança está na origem dos novos protestos que começaram por ser motivados há dois meses com a decisão do Presidente Viktor Ianukovitch de reforçar a cooperação com Moscovo, comprometendo uma prometida aproximação à União Europeia.

A legislação promulgada na semana passada pelo contestado Presidente e publicada na terça-feira no jornal oficial Golos Ukraïny (Voz do Parlamento), proíbe quase todas as formas de protesto. A partir de agora, os manifestantes enfrentam possíveis penas de prisão, que podem ir até aos 15 anos, segundo a Reuters.

Passa a ser proibido montar tendas, palcos ou amplificadores sonoros na via pública – características das manifestações contínuas que têm ocorrido na Praça da Independência de Kiev desde o fim de Novembro, quando o Governo ucraniano anunciou que não assinaria um acordo de associação comercial com a União Europeia, como estava previsto, optando por uma aproximação à Rússia. A nova legislação interdita praticamente todas as formas de protesto, reduz a liberdade de expressão, cria mecanismos de controlo da imprensa por parte do Estado e autoriza o Governo a proibir o uso da Internet.

Tal como acontece na Rússia, as organizações não-governamentais passam a ter de estar registadas e serão consideradas “agentes estrangeiros” se tiverem financiamentos vindos de outros países.

200 mil no domingo
No domingo, cerca de 200 mil pessoas manifestaram-se na capital contra a nova legislação, num protesto que degenerou em violentos confrontos com as forças de segurança em que foram usados cocktails molotov e balas de borracha. Desde então têm ocorrido confrontos esporádicos, que se repetiram na madrugada desta terça-feira, durante a qual milhares de manifestantes permaneceram concentrados no centro de Kiev: a polícia lançou gás lacrimogéneo contra centenas de jovens  barricados atrás de autocarros incendiados e fez várias detenções. A violência limitou-se, segundo a BBC, a uma pequena praça da capital.

Segundo o Departamento de Saúde de Kiev, 103 pessoas foram assistidas desde o início dos confrontos, no domingo, e 42 foram hospitalizadas. O Ministério do Interior informou que quase 100 polícias ficaram feridos e 61 foram hospitalizados, alguns por traumatismo craniano. Além disso, 30 pessoas foram detidas.

Viktor Yanukovitch disse segunda-feira que as manifestações que "terminam em confusões em massa" são uma ameaça para toda a Ucrânia e apelou ao diálogo com a oposição. "Quando as acções pacíficas terminam em confusão em massa e são acompanhadas de violência e de incêndios criminosos, isso ameaça não apenas os cidadãos de Kiev, mas toda a Ucrânia", declarou.

Já esta terça-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia,Sergueï Lavrov, disse que a situação está em risco de "escapar a qualquer controlo". Esse risco é confirmado, em seu entender, por apelos à calma feitos por alguns líderes da oposição, caso de Vitali Klitschko, que é visto como podendo protagonizar uma aproximação à União Europeia. Lavrov instou os governos europeus a não interferirem na crise política ucraniana.

EUA revoga vistos
Os Estados Unidos e os países europeus, que já tinham manifestado a sua discordância com a nova legislação, expressaram na segunda-feira a preocupação pela violência na Ucrânia e pela adopção de medidas “repressivas”.

A embaixada norte-americana em Kiev anunciou que revogou os vistos de "vários ucranianos ligados à violência", de acordo com um comunicado de imprensa. A medida foi tomada "em resposta às acções tomadas contra os manifestantes na Maidan [Praça da Independência] em Novembro e Dezembro do ano passado." A representação diplomática acrescenta que está a considerar "tomar mais medidas contra os responsáveis pela violência actual."

Notícia actualizada às 10:15 - Acrescentou-se informação sobre uma das vítimas e da embaixada norte-americana.