“Quantas pessoas vão ainda morrer na Síria, se perdermos esta oportunidade?”

Conferência que junta pela primeira vez regime sírio e oposição começou na Suíça. Ministro dos Negócios Estrangeiros de Assad diz que só os sírios podem tirar legitimidade ao seu Presidente.

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Ben Ki-moon abriu a conferência na Suíça Fabrice Coffrini/AFP

“Quem quiser falar em nome dos sírios não pode ser traidor”, disse Mouallem. “Eles dizem representar o povo sírio. Se querem falar em nome do povo sírio, não podem trair o povo sírio, ser agentes a soldo dos inimigos do povo sírio”, afirmou.

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“Quem quiser falar em nome dos sírios não pode ser traidor”, disse Mouallem. “Eles dizem representar o povo sírio. Se querem falar em nome do povo sírio, não podem trair o povo sírio, ser agentes a soldo dos inimigos do povo sírio”, afirmou.

Em resposta, Ahmad Jarba, líder da Coligação Nacional Síria, explicou que o Exército Livre da Síria está a “combater mercenários internacionais” trazidos por Assad, lembrando a presença da milícia xiita libanesa Hezbollah, que há quase um ano confirmou estar na Síria a lutar ao lado de Assad, e o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, a Al-Qaeda na Síria.

“Nós estamos a enfrentar o terrorismo de Assad que diz estar a combater o terrorismo”, disse Jarba, presidente do único grupo político na oposição presente na Suíça, acusando o regime da morte de 10 mil crianças desde 2011.

Negociada por russos e norte-americanos, com a organização das Nações Unidas, este encontro deveria pôr em marcha um governo de transição com membros do regime e da oposição para preparar o pós-Bashar al-Assad e organizar eleições. Ou pelo menos é assim que Estados Unidos e oposição síria o entendem – Assad já disse várias vezes que não ia à Suíça negociar nenhuma transição e até admite recandidatar-se nas eleições previstas para este ano.

“Assad não fará parte do governo de transição. É impossível, inimaginável, que este homem que usou tal violência contra o seu próprio povo possa conservar legitimidade para governar”, disse o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, já em Montreux.

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, que negociou com Kerry este encontro, afirmou na conferência que as negociações que se seguem não serão “nem simples nem rápidas”, mas sublinhou que regime e oposição têm uma “responsabilidade histórica”. “O nosso objectivo comum é conseguir pôr fim ao conflito trágico na Síria.”

Confirmando os sinais dados nas últimas declarações de Assad, o ministro Mouallem centrou o seu longo discurso na necessidade de lutar contra o terrorismo. “Estamos aqui para impedir que o Médio Oriente se desmorone, para proteger os cristãos do Médio Oriente, para pôr fim ao terrorismo”, disse.

Depois, deixou claro que a saída de cena do Presidente sírio não está em causa neste momento: “Ninguém, nem Kerry nem ninguém no mundo, tem o direito de dar ou retirar legitimidade a um Presidente, a um governo na Síria, a não ser os próprios sírios. O acordo que aqui for alcançado será submetido a um referendo popular”.

Sublinhando que está na Suíça para negociar um governo de transição, tal como ficara acordado no Verão de 2012, no encontro conhecido por Genebra I, Jarba interpelou directamente Moullem, dizendo querer “ter a certeza” de ter “um parceiro sírio nesta sala”. “Temos esse parceiro?”, perguntou.

Desafios extraordinários
Ao longo do dia, perto de 40 países e organizações internacionais presentes em Montreux vão fazer intervenções sobre o conflito. A conferência recomeça depois a partir de sexta-feira em Genebra, já só com as delegações sírias e as Nações Unidas.

Washington e Moscovo “trabalharam muito comigo e com outros parceiros para estarmos aqui juntos neste dia”, disse Ban. “Enfrentamos desafios extraordinários”, afirmou, pedindo aos representantes sírios para pensarem neste encontro como “um novo começo”.

“Todos os sírios olham para vocês neste momento”, disse ainda. “Vocês, os representantes da oposição e do governo sírio, têm uma enorme oportunidade e uma responsabilidade para com o povo sírio”, acrescentou, antes de perguntar “quantas pessoas vão ainda morrer na Síria, se perdermos esta oportunidade?”.

No mesmo sentido, falou Jarba: para a Síria, “tempo é sangue”, disse.

As manifestações pacíficas contra o regime de Assad começaram em Março de 2011. O governo respondeu com uma repressão duríssima e em Agosto desse ano surgiu o primeiro grupo armado da oposição, o Exército Livre, formado por civis e por desertores das forças governamentais. A oposição, defendeu Jarba, não escolheu pegar em armas, essa “foi uma escolha imposta pelo regime sírio”.

Entretanto, jihadistas de todo o mundo acorreram à Síria e actualmente há combates entre regime e oposição, mas também entre rebeldes sírios e combatentes estrangeiros.

Pelo menos 130 mil sírios já morreram e mais de 9 milhões tiveram de fugir das suas casas e estão deslocados no interior da Síria ou refugiados nos países da região.