Cinco mortos no dia mais violento dos protestos de Kiev

As primeiras mortes nos confrontos na Ucrânia levaram as manifestações populares para um patamar alarmante. Reunião entre Ianukovitch e oposição nada resolveu.

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O dia que comemorava a unificação da Ucrânia não podia ficar pior marcado. As primeiras mortes nos protestos contra o Governo surgiram dias depois da aprovação da lei que restringe as manifestações e amplia os poderes da polícia.

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O dia que comemorava a unificação da Ucrânia não podia ficar pior marcado. As primeiras mortes nos protestos contra o Governo surgiram dias depois da aprovação da lei que restringe as manifestações e amplia os poderes da polícia.

Logo pela manhã a notícia de que duas pessoas teriam morrido na sequência de disparos da polícia incendiou os ânimos das ruas de Kiev. Em poucas horas a capital ucraniana ficou transformada num campo de batalha. De um lado, os manifestantes queimavam pneus e lançavam cocktails Molotov; do outro, a polícia ripostava com gás lacrimogénio, balas de borracha e bastonadas indiscriminadas. As imagens televisivas mostravam uma cidade encoberta pelo fumo de várias fogueiras. A certa altura, até um carro blindado trilhou as ruas do centro.

Reagindo à notícia das mortes nos protestos, Ianukovitch repudiou a acção de “radicais políticos”. “Sou contra os banhos de sangue, contra o uso da força, contra a incitação da inimizada e da violência”, afirmou o Presidente, apelando ao diálogo. O primeiro-ministro, Mikola Azarov, foi mais longe e criticou os “terroristas da Maidan [Praça da Independência]”, que acusou de promoverem a violência.

Azarov autorizou a utilização de canhões de água, numa altura em que as temperaturas em Kiev atingem os 10 graus negativos. O Ministério do Interior negou que as forças de segurança tenham utilizado armas de fogo, contrariando a versão dos manifestantes.

Ultimato a Ianukovitch
Enquanto a violência tomava conta de Kiev, Ianukovitch recebeu os líderes dos três partidos da oposição – o Udar, o Svoboda e o Batkivshchyna –, alimentando esperanças de que um acordo poderia ser alcançado. No entanto, a reunião de três horas revelou-se infrutífera.

Em plena Praça da Independência, o líder do Udar, o ex-pugilista Vitali Klitschko, lançou um ultimato a Ianukovitch, com a garantia de que, caso o Presidente não faça concessões, os manifestantes vão "passar à ofensiva", sem precisar ao que se referia. Qualquer cenário de compromisso com Ianukovitch deverá passar pela marcação de eleições antecipadas.

Oleg Tyahnybok, líder do Svoboda, classificou o encontro com Ianukovitch de “absolutamente inútil” e avisou os manifestantes de que a polícia ia tentar remover quem se encontrasse na praça durante a noite. O líder do Batkivshchyna, Arseniy Yatseniuk, apelou, por seu turno, ao fim da violência.

A comunidade internacional condenou a subida de tom dos protestos e a repressão da polícia ucraniana. A União Europeia mostrou-se “chocada” com a violência em Kiev. O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso garantiu que a UE está “pronta a pensar em sanções e consequências que terão de existir para as relações com a Ucrânia” caso haja “violação sistemática dos direitos humanos através de ataques às liberdades fundamentais.”

Mal foi conhecida a notícia sobre as primeiras vítimas mortais nos confrontos, os EUA anunciaram, através da embaixada norte-americana em Kiev, que os vistos de “vários ucranianos responsáveis pela violência” foram revogados. A Rússia criticou a “ingerência estrangeira” nos assuntos internos da Ucrânia, condenando o comportamento de uma oposição “extremista”.